Vicky Andrade mescla arte com design
Antonio Tozzi
Entre colares, pulseiras e brincos, pontifica Vicky Andrade: “Fiz esta exposição para homenagear as mulheres”. A gaúcha de Porto Alegre qualifica-se como uma artista sui generis, porque sua arte tanto pode ser admirada como pode ser usada, como é o caso da exposição Sculpture to Wear, realizada no mês de agosto, em Aventura.
À primeira vista, podem parecer peças de bijouterias ou jóias, mas na concepção de Vicky elas são mais do que meros ornamentos: são obras de arte. Mas, afinal, o que a faz classificar de obras artísticas elementos de adorno feminino? A artista responde, sem hesitar: “Simples. Cada peça é única e não permito reproduções. Portanto, a pessoa que adquirir a peça fica, de verdade, com uma obra de arte. Apenas ela pode usá-la no corpo em vez da obra ficar confinada a uma parede”.
Ela trabalha basicamente com materiais recicláveis, por ser uma pessoa em sinergia com o meio-ambiente. Desta forma, meros rolinhos de cabelos podem transformar-se em finos objetos de decoração nas mãos e na mente de Vicky. Outros materiais usados com freqüência são couros, madeiras e cerâmicas – aliás, seu material favorito.
Para compor as peças, ela trabalha dentro do mesmo processo desenvolvido pelos pintores e escultores. Busca inspiração e junta os materiais até chegar ao resultado esperado. Inspiração, diga-se de passagem, é a palavra chave. Vicky não costuma aceitar pedidos para desenvolver trabalhos sob encomenda. “Só faço uma peça para alguém quando esta pessoa consegue me inspirar. Se não conseguir sentir-me inspirada não adianta. Não há dinheiro que me faça criar algo sem inspiração”, garante a artista.
Desabrochar da artista – Morando a pouco mais de dez anos em Miami, Vicky diz ter sentido seu talento desabrochado como artista. Identificada com a cidade do sul da Flórida desde que chegou – “Apesar de gaúcha, detesto frio” -, começou aqui a descobrir esta forma de arte. Em Porto Alegre, ela sempre trabalhou com artistas, mas nunca havia tentado a carreira, embora tenha sido aconselhada por professores a liberar sua criatividade.
De todos os materiais, o que mais a apaixona é a cerâmica. “Fico maravilhada com a possibilidade de transformação. Quando começo a construir uma peça, deixo que ela tome a forma naturalmente. Não interfiro no processo, moldando-a. E é fascinante verificar o resultado final”, comenta a artista.
Para quem imagina ser um processo fácil, vale lembrar que há diferentes tipos de argila e técnicas de queima, que possibilitam diversas formas, conforme explica a artista: “Cada queima age de maneira diferente sobre as diversas qualidades de argila. Portanto, os efeitos acabam gerando peças únicas”.
Professora – Ela dá aulas de moldagem de cerâmica em seu estúdio, em Aventura, bairro em que mora. Na verdade, orienta as alunas em relação às técnicas utilizadas. Entretanto, ela deixa fluir a criatividade de cada uma delas. Durante a fase inicial – quatro sessões de duas horas cada uma -, as alunas fazem pelo menos uma peça. Tanto pode ser um vaso como um cinzeiro ou qualquer outro objeto que desejar. “Se a aluna não tiver idéia do que fazer, dou algumas sugestões. Mas o fundamental é que a própria pessoa faça sua peça, porque isto representa sua interação com o material”, sintetiza Vicky.
Até mesmo em peças como colares ela utiliza cerâmica. Ao contrário do que se pode pensar, não fica pesado para a mulher usar. Dá um tom personalizado e o material barato fica ultra valorizado. Para compor a exposição Sculpture to Wear, ela montou cerca de cem peças entre os meses de março e agosto.
As peças são divididas em três categorias: Yang, Miss e Platinum. Yang, a linha jovem, abusa de materiais reciclados baratos, enquanto a Platinum utiliza corais e cristais, materiais mais valorizados. “Meu objetivo não é ganhar dinheiro, mas sentir que uma peça minha provoca uma satisfação na pessoa que a adquire”, resume. É claro que ela vende suas peças, afinal vivemos num regime capitalista…
Miss Venezuela – Aliás, ela foi contratada pela organização do Miss Venezuela 2005 para desenhar as peças usadas pelas candidatas. No total, Vicky criou cerca de 200 peças exclusivas entre brincos, colares e pulseiras. Para identificar as personalidades das garotas, entrevistou-as pessoalmente. Após a realização do concurso, doou quatro peças para quatro participantes, e desmontou as demais. “Foi bom ter feito este trabalho porque me testei como designer de jóias”, diz Vicky.
Mas, seguindo sua tendência de sempre criar peças novas e inusitadas, ela já está preparando uma nova exposição, desta vez baseada em obras de cerâmica. “As minhas esculturas são criadas simbolizando as mulheres grávidas”, afirma Vicky, enfatizando seu fascínio com a cerâmica. No entanto, ela vem incorporando novos materiais ao processo, tais como madeira e couro – já usados nas peças da Exposição Sculpture to Wear -, arame e sementes.
“O segredo é saber usar de maneira adequada tudo o que a natureza nos oferece”, finaliza Vicky. E o resultado de seu trabalho está na cara – e também está na orelha, no pescoço, no pulso, mas, sobretudo, no coração das pessoas que sabem apreciar uma arte inovadora.