Histórico

Viagem de Rice não traz grandes avanços aparentes

Secretária de Estado americana se encontrou com Ehud Olmert

A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, conseguiu se encontrar com líderes árabes próximos dos Estados Unidos – descritos como moderados – e apresentou amplamente suas preocupações com as intenções nucleares do Irã.
Mas analistas dizem que viagem de Rice trouxe pouca coisa de novo para reanimar o processo de paz entre israelenses e palestinos, um dos objetivos declarados desta visita que inclui Arábia Saudita, Egito, Territórios Palestinos e Israel.

Na entrevista coletiva concedida depois de uma reunião com o presidente palestino Mahmoud Abbas, Rice disse que os Estados Unidos estão muito preocupados com o sofrimento dos palestinos e que seu governo vai “redobrar os esforços para melhorar a qualidade de vida da população”.

A vitória do Hamas nas eleições fez com que a ajuda internacional para os palestinos fosse drasticamente reduzida – um duro golpe na economia palestina – porque Estados Unidos, Israel e União Européia classificam o grupo islâmico de terrorista.

Eles exigem que o Hamas aceite formalmente alguns princípios – como reconhecer o direito de Israel à existência -, mas o grupo se mostra inflexível em diversos pontos, embora já tenha sinalizado que poderia aceitar um “cessar fogo de longo prazo”.

Negociação

O pesquisador do Centro Palestino para a Democracia e a Resolução de Conflitos, Bassam Nasser, diz que a recusa de Israel e do Ocidente em reconhecer o Hamas como uma força política só enfraquece a democracia palestina.

“O Hamas comanda um dos únicos governos eleitos do Oriente Médio, e a recusa em reconhecê-lo leva os palestinos a se questionarem de que vale a democracia”, diz.

Nasser se opõe ao Hamas e desaprova as posições do grupo militante islâmico, mas diz que “trocar de governo é algo que tem que a acontecer por iniciativa dos palestinos e não por causa se um cerco feito pela comunidade internacional”.

O doutor em resolução de conflitos Gabriel Horenczyk, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, diz que não há nenhuma disposição entre os israelenses para negociar com o Hamas.

“Principalmente porque o cabo Galit (capturado em 25 de junho por militantes palestinos e mantido cativo na Faixa de Gaza) ainda não foi devolvido, e seqüestros de soldados são levados muito a sério aqui em Israel. Este é um dos dados em nossa cultura política que o resto do mundo tem dificuldade em entender”, diz.

Depois da reunião do primeiro-ministro Ehud Olmert com Condoleezza Rice, o gabinete do premiê divulgou uma declaração à imprensa dizendo que Israel não vai negociar a libertação de nenhum prisioneiro palestino se o cabo Galit não for solto primeiro.

Horenczyk também não vê sentido em negociar com outras forças palestinas enquanto o Hamas detém tanto o governo quanto o poder real.

“De que adianta negociar com a Organização para a Liberação da Palestina (OLP) ou o Fatah se o poder de fato está nas mãos do Hamas? Eles são mais fortes na Faixa de Gaza e só não têm domínio sobre a Cisjordânia porque Israel ainda está por lá”, diz.

Horenczyk acredita que a única opção para Israel agora é tentar negociar com o Hamas através de terceiros, como o Egito e a Jordânia.

“Neste momento, Condoleezza Rice ou os Estados Unidos não têm muito o que trazer para Israel no sentido de preparar o terreno para negociações de paz”, diz.

Bassan Nasser acredita que negociações secretas – possivelmente até com participação dos Estados Unidos – podem ser um caminho para tentar avançar com discussões, apesar dos grandes impasses envolvidos.

“Depois de um período de muita instabilidade, com a violência no Iraque a guerra com o Líbano, os Estados Unidos estão tentando redefinir quem são os seus aliados no Oriente Médio, mas havia pouco de específico que Condoleezza Rice pudesse fazer nesta viagem”, diz ele.

O porta-voz do governo israelense, Mark Regev, disse ao canal de TV BBC World que a estratégia de Israel é favorecer o fortalecimento de grupos “moderados” entre os palestinos, mas que isso envolve grandes riscos.

“Também não podemos demonstrar muito apoio por este ou aquele grupo, porque qualquer percepção de alinhamento com Israel ou com os Estados Unidos pode ser desastrosa (para um político palestino)”, disse Regev.

Disputa

A situação nos Territórios Palestinos se torna particularmente delicada também pela disputa de forças que ocorre internamente e que resultou na onda de violência na Faixa de Gaza, que deixou dez mortos nos últimos dias.

Na coletiva conjunta com a secretaria Rice, o presidente Abbas disse que as discussões com o Hamas para a formação de um governo de unidade nacional tinham falhado.

“Não estamos conversando agora e também não podemos ficar conversando para sempre. Temos agora que pensar muito bem sobre qual vai ser o nosso próximo passo”, disse o presidente.

Rice expressou a “grande admiração” dos Estados Unidos pela liderança de Mahmoud Abbas, mas aparentemente tinha pouco mais a oferecer para ajudar o presidente palestino.

Bloqueios

A única promessa mais concreta da secretária foi fazer “tudo o que puder” para reduzir os bloqueios israelenses que dificultam a movimentação de mercadorias trabalhadores palestinos, uma das queixas apresentadas por Abbas.

O tema entrou na conversa que Condoleezza Rice teve horas depois com o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert.

O gabinete de Ehud Olmert informou a imprensa que o primeiro-ministro disse a Rice que pretende reabrir em breve o portão de Karni, o principal ponto para saída de produtos palestinos da Faixa de Gaza, mas reafirmou que muitos bloqueios são necessários por questões de segurança.

Horenczyk acredita que “alguma concessões israelenses” podem ser feitas nesta área, mas ressalva que não se trata de nada muito significativo.

“E mesmo estas pequenas mudanças seriam delicadas, porque existe uma percepção na população israelense de que atentados terroristas diminuíram com os bloqueios”, disse.

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