Opinião

Um ano para esquecer (ou se lembrar)

“1968, o ano que não terminou” é o título do jornalista e escritor Zuenir Ventura para descrever um dos anos mais emblemáticos da política brasileira, com a revolta dos jovens, inconformados com a ditadura militar que tomou conta do Brasil naquela época. Alguns mais exaltados pegaram em armas e participaram de grupos guerrilheiros urbanos e no sertão numa tresloucada tentativa de reverter a situação em que o país vivia. O final da história todos conhecem…

Foi também um ano significativo em outros países, como a França, sobretudo Paris, que simbolizava o lugar onde se aglutinavam os intelectuais e os inconformistas. Nomes como Jean Paul Sartre e Simone du Beauvoir eram incensados. O líder estudantil Daniel Cohn-Bendit se tornou herói da resistência, ao abalar as estruturas do então governo de Charles de Gaulle, em maio de 1968, lutando por uma reforma educacional.

Na Europa, também se registrou a Primavera de Praga, onde estudantes e adversários enfrentaram o regime comunista que tomou conta da Hungria após o término da Segunda Guerra Mundial. Como butim de guerra, os EUA ficaram com a reconstrução da Europa Ocidental enquanto a então União Soviética governava a chamada Cortina de Ferro, formada por países do Leste Europeu, que não tinahm a mínima liberdade. O movimento foi massacrado, mas serviu como estopim para a queda do Muro de Berlim e a dissolução da União Soviética, em 1989.

Aqui, nos Estados Unidos, o movimento de contracultura estava mais ativo do que nunca. Artistas de rock, com letras e comportamentos desafiadores, guiavam uma juventude em grande parte crítica da presença das forças americanas no Vietnã e, consequentemente, adotou o movimento paz e amor no qual os hippies exaltavam sexo, drogas e rock’n’roll.

Embarcando para o presente, vemos que as outras gerações eram mais corajosas, mais autênticas e defensoras de mudanças. Hoje, o que vemos é o mundo com uma carência enorme de líderes. Talvez Angela Merkel, premier da Alemanha, seja uma pessoa a se destacar. Vladimir Putin é desafiador, mas possui grandes tendências autoritárias, o que é péssimo para o mundo. E Barack Obama está caminhando para o final de seu segundo mandato, mas pouco mais pode fazer, uma vez que se transformou em prisioneiro de um Congresso majoritariamente formado por republicanos que impede qualquer iniciativa de alteração do status quo das normas e procedimentos instalados no país.

2015 também ficará marcado como o ano das decapitações e do crescimento do Isis, o movimento islâmico radical que consegue cativar adeptos com um discurso simplesmente inconcebível, mesclando religião com fanatismo. Os resultados disso chocaram o mundo como comprovam os atentados em Paris, as cabeças cortadas de ocidentais, os castigos impostos às mulheres e as execuções de homossexuais. Ou seja, o que havia sido apontado como a Primavera Árabe transformou-se em Inverno rigoroso.

A pobre América Latina também sofreu com governos populistas e inconsequentes. Mas, pelo menos, no final do ano, surgiu uma luz no fim do túnel. Na Venezuela, a oposição obteve uma vitória na disputa pelas cadeiras do Parlamento. No entanto, conhecendo o perfil pouco democrático do governante, ninguém ficará surpreso se ele der um golpe branco e anular as eleições. E ai de quem protestar. Nicolás Maduro joga-os na prisão e acusa-os de serem golpistas a soldo dos EUA para derrubar o governo democraticamente eleito. Claro que ele omite mandar prender políticos de oposição, controlar o Parlamento e a Suprema Corte do país. Na Argentina, as mudanças são mais alvissareiras, com a eleição de Mauricio Macri como novo presidente. Ele já chegou com a missão de confrontar o espírito antidemocrático do governo de Maduro e tudo indica que a convivência entre os dois países será cada vez mais difícil no âmbito continental.

Todavia, se Macri demonstra coragem, nossa presidente se cala e consente. Incapaz de condenar as atitudes de Maduro, Dilma Rousseff finge que tudo está bem no Mercosul (aliança entre países do Cone Sul da América do Sul). Sua política externa é deplorável e ela parece não entender que está na contramão da História.

Para seu desespero, ela se tornou refém de uma política desastrosa e de um enorme esquema de corrupção. A boa notícia é que, pela primeira vez, o povo brasileiro está vendo a ação diligente do Ministério Público e da Polícia Federal, que estão fazendo investigações criteriosas para desmantelar as verdadeiras quadrilhas que se apossaram do dinheiro dos contribuintes brasileiros formada por empresários inescrupulosos, políticos desonestos e operadores malandros. Membros de todos partidos estão envolvidos, seja da situação, seja da oposição, entretanto, o que choca mais é o aparelhamento do PT para arrecadar fundos advindos de esquemas corrompidos. E Dilma, que apesar de ser incompetente ao extremo, não pode denunciar isto sob pena de jogar seu padrinho político aos leões. Traduzindo, Lula entrou dizendo ter herdado uma herança maldita, algo bastante discutível, enquanto a “presidenta” herdou de fato uma herança maldita e tem de ficar calada.

Só resta agora aos brasileiros torcer para que 2016 seja um ano melhor do que esse, embora as perspectivas não sejam tão animadoras. Entretanto, é preciso sonhar, como dizia o poeta.

Aproveitando a ocasião, desejamos um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de sucesso para todos amigos, anunciantes, leitores e colaboradores do AcheiUSA Newspaper!

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