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Trump revoga medidas climáticas assinadas por Obama

Cercado por donos de mineradoras, presidente afirma que é o fim “à guerra contra o carvão”

Trump dá sinal verda para indústrias do carvão
Trump dá sinal verda para indústrias do carvão

DA REDAÇÃO, COM O GLOBO – O presidente Donald Trump assinou na terça-feira (28) uma ordem executiva que determina o desmantelamento do Plano de Energia Limpa, o maior legado ambiental assinado pelo ex-presidente Barack Obama. O decreto representa um alívio para a indústria de combustíveis fósseis, altamente poluidoras, e vai na contramão da preservação ambiental e incentivo às energias limpas e renováveis.

“Meu governo está colocando um fim à guerra ao carvão. Com o decreto de hoje (ontem) estou dando passos históricos para levantar as restrições à energia americana, reverter a intromissão do governo e cancelar a regulamentação que mata empregos”, disse o presidente.

Com o aval para a economia movida a carvão, Trump tornará praticamente inviável que os EUA cumpram sua meta no Acordo de Paris. Em 2015, o país anunciou que cortaria até 2025 suas emissões de gases-estufa em cerca de 26%, em relação aos níveis registrados em 2005.

Durante a disputa eleitoral, Trump exaltou diversas vezes a indústria do carvão, prometendo que criaria empregos para a indústria de combustíveis fósseis. Em uma reunião na semana passada no Kentucky, ele disse que sua ordem executiva “salvaria nossos maravilhosos mineradores que estão perdendo espaço no mercado de trabalho”.

Segundo o Departamento de Energia dos EUA, as companhias de carvão empregavam cerca de 65,9 mil mineradores em 2015, contra 87,7 mil em 2008. Para economistas, a queda não tem ligação com as políticas ambientais de Obama — estão, na verdade, relacionadas ao aumento da produção de gás natural, uma matriz energética mais limpa e barata, e ao aumento da automação, que permitiu a fabricação de mais combustível com menos funcionários.

Repercussão negativa

Especialistas de diversas áreas protestaram contra o decreto. Economistas ressaltam que a indústria de energia eólica, solar e biomassa gera mais empregos do que os setores voltados à produção de carvão. Cientistas políticos e ambientalistas advertem que, se insistir em sua luta contra iniciativas voltadas à sustentabilidade, Trump isolará o país da comunidade internacional e, nas negociações climáticas, perderá o protagonismo para a China.

Vencedor do Prêmio Nobel da Paz pelo combate ao aquecimento global, o ex-vice-presidente Al Gore prevê que o decreto de Trump atingirá economicamente as próximas gerações.

“Este é um passo equivocado para longe de um futuro sustentável e sem carbono para nós e as futuras gerações. É essencial, não só para o nosso planeta, mas também para o nosso futuro econômico, que os EUA continuem a servir como um líder global na resolução da crise climática”, afirmou Al Gore.

Os governadores democratas da Califórnia, Jerry Brown, e de Nova York, Andrew Cuomo, reagiram à decisão e afirmaram que, apesar da medida do presidente, seguirão com suas políticas ambientais.

“Com ou sem Washington vamos trabalhar com nossos parceiros em todo o mundo para combater agressivamente as alterações climáticas e proteger o nosso futuro”, escreveram os políticos.

Especialista em negociações internacionais do clima, Osvaldo Stella define o decreto presidencial como um “retrocesso inegável”.

“É um gesto de cegueira estratégica. Trump está virando as costas para as mudanças climáticas em prol de negociações políticas, como o lobby do carvão” lamenta Stella, que também é diretor do Programa de Mudanças Climáticas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). — Outros países, principalmente no grupo dos que estão em desenvolvimento, podem aderir à negligência americana e ignorar os compromissos que estabeleceram no Acordo de Paris.

 

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