Histórico

Tropa de Elite: Um filme que não é belo mas é bom.

Por Paul Constantinides

Já são 46 anos passados desde que pela primeira vez um filme brasileiro ganhou um festival internacional de cinema. Foi em 1962 com o “Pagador de Promessas” (de Anselmo Duarte) que levou a Palma de Ouro do Festival de Cannes daquele ano. Este fato abriu as portas do cinema brasileiro para o mundo e impulsionou o Cinema Novo que, com o slogan “Uma idéia na cabeça e uma câmera na mão”, reunia diretores como Cacá Diegues, Ruy Guerra e Glauber Rocha e durante uma década fez belos e importantes filmes.

Mas, depois deste período, o Cinema Brasileiro viveu uma longa fase na obscuridade. Porém, nestes últimos anos, este cenário mudou de forma significativa, sendo que hoje no Brasil já há mais salas que exibem regularmente filmes nacionais – e as maiores bilheterias de produções brasileiras não são de filmes tipo “Xuxa” ou “Trapalhões”.

Há muitos fatores sócio-econômicos que contribuíram e ainda contribuem para esta melhora, porém, é sempre bom lembrar o cineasta Walter Salles que, com seu poético “Central do Brasil”, conseguiu reabrir a porta do mundo para o cinema brasileiro; e em 1998, ao ser o primeiro filme brasileiro a ganhar o Urso de Ouro, prêmio dado ao melhor filme no conceituado Festival de Berlim, deixou um legado positivo para a geração de cineastas que veio depois dele.

Recentemente, no último dia 15 de fevereiro, dez anos depois do sucesso de Walter Salles, outro filme brasileiro, o “Tropa de Elite” de José Padilha, recebe a mesma premiação.

Diante deste fato, primeiramente, é interessante notar a conexão que existe em quase todos os filmes brasileiros feitos anteriormente ao “Tropa de Elite” e que ganharam, como ele, projeção no exterior. Todos eles abordam temas abomináveis da vida brasileira: a fome, a miséria e a violência.

Deste grupo, “Tropa de Elite” é o menos poético e o menos fotográfico. Pode-se dizer que tem a mesma contundência de imagens violentas como “Cidade de Deus” (Meirelles, 2003), mas não tem a mesma beleza cinematográfica, nem uma proposta neste sentido.
“Tropa de Elite” é um filme que trabalha de forma dura e direta com um cotexto político-social real. Não há espaço para a beleza visual na película, o papo é outro.

O filme narra a partir de um personagem, o capitão Neto, do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) da Polícia Militar do Rio de Janeiro, a sua angústia em escolher um substituto para o seu cargo… e ele tem que optar entre dois candidatos.

A história é baseada em fatos reais que foram registrados a partir de entrevistas de integrantes da PM a uma psicóloga da corporação. Com uma edição enxuta e elenco coeso, o filme mostra de forma dinâmica e dramática os infernos do Capitão Neto, o desenvolvimento de uma ação do BOPE para apaziguar as favelas do Rio de Janeiro durante a visita do Papa em 1997 e os métodos abusivos e violentos que usam para implantá-lo.

A violência do filme explica parte de seu sucesso, principalmente pelo desconforto que cria. As cenas das chacinas e brutalidade policial chocaram os brasileiros, o que dizer então de populações que não estão nem de longe acostumadas com a idéia de brutalidade policial, ainda mais da forma como o filme exibe.

Você assiste “Tropa de Elite” e depois, sendo brasileiro, se dá conta que tudo o que o filme mostrou faz ou fez parte da realidade do país. Lamenta e depois se pergunta porque são estas coisas que fazem o sucesso do cinema do Brasil no mundo. Será que um dia uma história tipo Romeu e Julieta brasileira fará sucesso no exterior? Bem, se tiver muita fome, miséria e violência, é bem provável que sim.

Diretor : José Padilha
Roteiro : Bráulio Montavani sobre livro de André Batista
Ano : 2007
Elenco : Wagner Moura, Caio Junqueira, Andre Ramiro, Milhen Cortaz e outros.

PS: Assista o trailer oficial do filme no YouTube, http://www.youtube.com/watch?v=0jeTL9hC3Wg

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