Uma bolha gigante de algas marinhas, abrangendo 5 mil milhas e pesando cerca de 6,1 milhões de toneladas, ameaça cobrir as praias da Flórida nos próximos meses com pilhas malcheirosas de material orgânico em decomposição. Segundo especialistas da University of South Florida, esta temporada de sargaço, que vai de março a outubro, pode ser uma das maiores já registradas no estado, com Miami Beach entre as regiões mais afetadas. Segundo os cientistas, a alga em si é inofensiva, mas abriga águas-vivas e outros animais marinhos que picam. Além disso, o odor de ovo podre de algas marinhas em decomposição, causado pela liberação de sulfeto de hidrogênio, pode criar problemas de saúde para moradores com problemas respiratórios. “As algas apodrecem rapidamente sob o sol forte da Flórida”, disse Chuanmin Hu, professor de oceanografia. “Cheira muito mal e afugenta os turistas”, afirmou.
Todos os anos, nos últimos cinco anos, um novo recorde do amontoado de algas marinhas vem se estabelecendo no país. “Não podemos prever se este ano atingiremos um novo recorde”, disse Chuanmin. “Tudo o que podemos dizer é que esta será uma grande temporada sargaço no nível dos últimos anos”, disse. Segundo ele, a costa leste dos Estados Unidos sofrerá maior impacto porque a corrente do Golfo puxa detritos oceânicos, incluindo algas, para o norte do Golfo do México e do Caribe, arrastando as algas ao longo da costa atlântica. Daí que Miami Beach e West Palm Beach tendem a lidar com o pior do surto, mas as praias do Atlântico nos estados ao norte também podem enfrentar uma forte temporada de sargaço.
Segundo divulgou o Condado de Miami-Dade, espera-se que quatro praias locais sejam bastante afetadas este ano: Haulover Beach ao norte de Haulover Cut; Bal Harbour; Miami Beach entre a 26th Street e a 31st Street; e as praias ao longo do cais de South Pointe.
A atividade humana ajudou a criar as condições que permitem que as algas cresçam de forma extraordinária. Os principais nutrientes que o sargaço precisa para se desenvolver são nitrogênio e fósforo. Os seres humanos elevaram os níveis de nitrogênio ao liberar esgoto e escoamento de fertilizantes no mar. Enquanto isso, a poeira soprada sobre os oceanos do deserto do Saara borrifa a água com fósforo. Além disso, fortes tempestades podem agitar a lama rica em nutrientes no fundo do mar. “Juntos, eles alimentaram as principais florações de sargaço nos últimos anos”, explicou Chuanmin. “É realmente difícil identificar qual é o fator dominante”, disse.
Cientistas acreditam que a mudança climática também contribui para o problema. “Chuvas mais fortes do que o normal liberam mais escoamento para o oceano e puxam mais poeira desértica da atmosfera para o mar. Tempestades mais fortes retiram mais nutrientes do fundo do mar”, disse Chuanmin, cujo estudo se baseia em imagens de satélite para rastrear bolhas de algas marinhas. Antes da megafloração de 2011, isso seria impossível, já que antes não havia sargaço suficiente no mar para que pudesse ser visto e estudado do espaço. “Esse é o novo normal”, concluiu o oceanógrafo em entrevista ao Miami Herald.