Caro leitor, você que está acostumado a acompanhar os feitos esportivos nesta coluna. Mas esta semana vamos vestir o figurino de financista. E isto se reflete no campo esportivo, com certeza.
Em primeiro lugar, vamos analisar a saga da formação de uma liga profissional para gerir o futebol brasileiro. Entretanto, apesar da vontade de tornar este sonho em realidade, o acordo para se chegar a uma denominação comum enfrenta muitos percalços.
A fim de situar o leitor, há dois grupos interessados em administrar o futebol brasileiro: Libra e Futebol Forte. Inicialmente, 18 clubes haviam se comprometido a integrar a Libra, porém Botafogo, Vasco e Cruzeiro decidiram deixar este grupo, insatisfeitos com a proposta do fundo de investimentos Mubadala, que é ligado a um grupo árabe.
Após essa desistência, o Mubadala formalizou a dirigentes da Libra, na noite de segunda-feira (12), mais uma proposta pela formação de um bloco comercial. A oferta foi enviada a dirigentes com uma alteração em relação à versão anterior: agora, para que ela seja assinada, basta que Corinthians, Flamengo, Palmeiras e São Paulo a assinem.
A diferença está na quantidade de clubes tida como condição para sacramentar o negócio. Na versão mais recente, o investidor exigia que houvesse adesão de pelo menos 18 clubes. Com a recusa de Botafogo, Cruzeiro e Vasco em aceitar as condições, o Mubadala refez a proposta.
A atual oferta não forma uma liga de clubes, como é de interesse do fundo de investimentos dos Emirados Árabes, mas, sim, um bloco comercial para a negociação dos direitos de transmissão, tido como etapa preliminar até que dirigentes se entendam em relação à criação da liga.
Nessa proposta, o Mubadala pretende comprar 12,5% dos direitos de mídia dos clubes, referentes ao Campeonato Brasileiro, por um período de 50 anos. O valor a ser transferido corresponde à metade do investimento que o fundo faria inicialmente, para adquirir uma participação sobre a liga de clubes. As quantias de cada clube são:
Clube | Valor |
Flamengo | R$ 158 milhões |
Corinthians | R$ 148 milhões |
Palmeiras | R$ 128,5 milhões |
São Paulo | R$ 128,5 milhões |
Cruzeiro | R$ 99,5 milhões |
Grêmio | R$ 99,5 milhões |
Santos | R$ 99,5 milhões |
Vasco | R$ 99,5 milhões |
Botafogo | R$ 80 milhões |
Bahia | R$ 60 milhões |
Vitória | R$ 60 milhões |
Ponte Preta | R$ 40,5 milhões |
Guarani | R$ 31 milhões |
Bragantino | R$ 31 milhões |
Ituano | R$ 11 milhões |
Mirassol | R$ 11 milhões |
Novorizontino | R$ 11 milhões |
Sampaio Corrêa | R$ 11 milhões |
Total | R$ 1,3 bilhão |
Além do pagamento previsto para a compra dos direitos, o investidor afirma que antecipará R$ 3 milhões a cada clube, como um gesto de boa vontade, em depósito a ser realizado em 29 de junho.
Tanto o sinal quanto a alteração da proposta representam nova tentativa do Mubadala de fechar negócio com os clubes. Por um lado, o fundo pressiona Botafogo, Cruzeiro e Vasco a reverem a decisão de não assinar a oferta. Por outro, a empresa incentiva dirigentes do outro grupo, chamado Forte Futebol, a trocar de lado e fazer parte da Libra.
As maiores dívidas do futebol brasileiro
Embora o Brasil seja referência mundial no futebol, o país também conta com algumas das maiores dívidas de times brasileiros já registradas. Assim, a falta de pagamento de impostos e o acúmulo de contas são alguns dos motivos que levaram a um montante bilionário devido para instituições, patrocinadores e para o Governo Federal.
Diante do aumento do número de críticas provenientes dessa situação, muitos clubes já buscam mecanismos para reverter o endividamento, e analisam alternativas para reduzir o valor. No entanto, muitos torcedores podem não conhecer o contexto dentro da associação que acompanham, e não entendem as mudanças na estrutura corporativa que acontecem para evitar consequências mais graves.
Nesse caso, vale a pena conhecer mais sobre as dívidas de times brasileiros, quais os clubes mais comprometidos e as opções mais populares para reverter parte dessa condição. Aqui estão as dívidas e a relação entre dívida e receita.
Em 2021, um levantamento realizado pela consultoria EY e divulgada pela ESPN e pela Forbes divulgou os 25 times brasileiros que mais possuem dívidas. No total, o endividamento ultrapassa R$ 10 bilhões, e atingiu um volume recorde no ano anterior. Em 2020, o montante era de R$ 11 bilhões, mas a retomada das atividades em larga escala aumentou esse número.
É comum que a volta das temporadas esportivas promovam a volta de negociações de jogadores, contratação de publicidades e campanhas de participação. No entanto, essas práticas levam à presença dos torcedores nos estádios e a contratação de pay per view para futebol, o que contrabalanceia o orçamento gasto.
Por outro lado, uma vez que os principais times já possuíam pendências consideráveis referentes aos anos anteriores, o valor não foi suficiente para cobrir os novos gastos e os pagamentos que deveriam ser feitos. Dessa forma, poucas dívidas de times brasileiros foram reduzidas no encerramento de 2021.
Assim, a lista geral conta com alguns dos nomes mais populares do cenário nacional, e os valores foram avaliados por meio de demonstrações financeiras que devem ser disponibilizadas pelas diretorias dos clubes. Ademais, os dados contemplam um período de 10 anos, e indicam o avanço do endividamento ao longo da década. Confira o ranking com todos os clubes que mais acumulam montante devido e os respectivos valores, segundo divulgações:
Clube | Valor da dívida | Dívida x Receita |
1. Atlético-MG | R$ 1,31 bilhão | 2,6x maior |
2. Cruzeiro | R$ 1,02 bilhão | 7,12x maior |
3. Corinthians | R$ 928 milhões | 1,85x maior |
4. Botafogo | R$ 863 milhões | 7,08x maior |
5. Vasco | R$ 710 milhões | 3,81x maior |
6. Fluminense | R$ 664 milhões | 1,99x maior |
7. São Paulo | R$ 642 milhões | 1,35x maior |
8. Internacional | R$ 631 milhões | 1,65x maior |
9. Santos | R$ 509 milhões | 1,25x maior |
10. Palmeiras | R$ 434 milhões | 0,44x maior |
11. Grêmio | R$ 402 milhões | 0,81x maior |
12. Flamengo | R$ 323 milhões | 0,30x maior |
13. Coritiba | R$ 288 milhões | 3,41x maior |
14. Vitória | R$ 259 milhões | 4,35x maior |
15. Sport | R$ 231 milhões | 2,45x maior |
16. Bahia | R$ 202 milhões | 0,97x maior |
17. Athletico | R$ 191 milhões | 0,68x maior |
18. Ponte Preta | R$ 172 milhões | 4,63x maior |
19. Avaí | R$ 108 milhões | 4,27x maior |
20. América-MG | R$ 91 milhões | 0,89x maior |
21. Goiás | R$ 68 milhões | 1,34x maior |
22. Fortaleza | R$ 36 milhões | 0,21x maior |
23. Ceará | R$ 32 milhões | 0,20x maior |
24. Cuiabá | R$ 15 milhões | 0,21x maior |
25. Atlético-GO | R$9 milhões | 0,08x maior |
Diversos clubes já estão em processo de negociação, e os valores podem ter aumentado com o início da temporada de 2022.
Ao analisar esse quadro, percebe-se que os times com menor endividamento são aqueles que estão obtendo melhores resultados esportivos (Flamengo e Palmeiras), enquanto os demais vão masl esportiva e financeiramente. A única exceção é o Atlético Mineiro que consegue manter um bom elenco, entretanto é o dono da maior dívida do futebol brasileiro.
Atualmente, o clube com a maior dívida é o Atlético Mineiro, com total de R$ 1,3 bilhão. Já o segundo e terceiro lugar ficam com o time do Cruzeiro, que soma R$ 1 bilhão em débitos, e o Corinthians, com R$ 928 milhões.
Os clubes possuem divisões distintas das categorias mais devidas. Por exemplo, o Corinthians é o clube que mais reúne débitos de empréstimos. Entretanto, o montante total de pendências é o valor considerado no ranqueamento dos principais times brasileiros com dívidas.
Existem algumas alternativas disponíveis para quitar as dívidas de times brasileiros, ou, ao menos, negociá-las para propor uma redução. Isso porque a somatória dos débitos é superior à receita das associações. Alguns clubes possuem contas 7 vezes maior do que os seus recebimentos. De acordo com o levantamento divulgado pela Forbes, o Vasco, por exemplo, demoraria cerca de 15 anos para pagar tudo que é devido pela corporação.
Esse valor é calculado com base nos lucros médios dos últimos anos, e traz uma média parecida na maioria dos times. O Corinthians, que está entre os clubes mais devedores, demoraria 10 anos para zerar seu montante, caso destine 20% de seu faturamento dedicado à redução das dívidas. Já o Palmeiras zeraria suas dívidas em três anos e o Flamengo em apenas um ano e meio.
Como se percebe, não é à toa que Flamengo e Palmeiras estão mandando no futebol do Brasil e da América do Sul.