Brasil

Supremo Tribunal Federal toma decisão que favorece Aécio Neves

Discussão cria guerra interna no Judiciário, que revisou decisão unânime no caso Eduardo Cunha

Aécio Neves
Aécio Neves

DA REDAÇÃO (com O Globo) – Um ano e cinco meses após afastar, de maneira unânime, o então deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) de suas funções parlamentares, o Supremo Tribunal Federal mudou seu entendimento e, na quarta-feira (11), decidiu que não cabe ao Judiciário tomar sozinho decisões como essa. Pelo placar de 6 a 5 os magistrados concluíram que ao Judiciário é possível conceder medidas cautelares contra congressistas, desde que não impliquem em afastamento das funções públicas ou interfiram no cumprimento desse mandato. Nestes casos, a Casa Legislativa a qual o parlamentar pertence precisará referendar a decisão judicial em um prazo de 24 horas. Medidas cautelares são nove punições previstas no Código de Processo Penal. Tratam, por exemplo, de recolhimento noturno, do uso de tornozeleira eletrônica ou da obrigação de comparecer a um juizado com determinada frequência, entre outras.

A mudança de postura mostra uma avaliação mais política do que técnica e tenta esfriar o clima de animosidade criado com o Senado Federal depois que a 1º Turma do STF afastou por 3 votos a 2 o senador Aécio Neves (PSDB-MG) de suas funções e determinou que ele se recolhesse em sua casa todas as noites. A presidenta do STF, Cármen Lúcia, destacou que, cada processo criminal é um caso. E por essa razão, não era possível fazer comparar uma ação com a outra.

O que estava em análise nesta quarta-feira era ação direta de inconstitucionalidade 5526, apresentada pelos partidos Progressista, Social Cristão e Solidariedade. O que as legendas questionavam era se os afastamentos das prerrogativas parlamentares poderiam ser feitas pelo Supremo ou não. Tudo baseado no caso de Cunha. Porém, apesar de ela não citar nominalmente o senador Aécio Neves, essa decisão certamente interferirá no caso dele.

Assim, essa definição dá aval para o Senado reverter as medidas cautelares impostas a Aécio e devolver a ele suas prerrogativas parlamentares. No próximo dia 17 de outubro, o caso do tucano será analisado pelo plenário do Senado. Parlamentares da maioria dos partidos já declararam ser contrários ao afastamento delee disseram que o Judiciário estava interferindo no Poder Legislativo\

A discussão sobre o assunto causou uma série de contestações entre os ministros do Supremo e abriu uma espécie de “guerra interna” no Judiciário. Os protagonistas foram os ministros Luís Roberto Barroso, Marco Aurélio Mello e Gilmar Mendes. Em seu voto, Barroso repetiu várias vezes que o STF já tinha tomado uma decisão que afastou um parlamentar de maneira unânime. Sua insistência nessa questão irritou Marco Aurélio: “Hoje tenho outra compreensão. Vão me colocar uma camisa de força?”, reclamou. “Eu dispenso cobrança de coerência. Digo que não tenho compromisso sequer com meus próprios erros”, concluiu.

Em um dos momentos dos debates, quando Barroso questionou Marco Aurélio sobre um voto anterior dele, este bradou: “Tenho sistematicamente no tribunal um revisor”. E não respondeu ao questionamento de seu colega. Em seu voto, Barroso reforçou que, ao defender o afastamento das funções parlamentares, seu objetivo é igualar o julgamento dos congressistas aos dos demais cidadãos. “Prender miúdos e proteger graúdos é a tradição brasileira que nós estamos fazendo força para superar”.

Já Gilmar Mendes seguiu a linha de que não é possível reduzir a imunidade parlamentar. “Estamos falando de uma garantia básica, lapidar, do sistema de divisão de Poderes. Pode ser até que nós, vocacionados pelo direito achado na rua, estejamos dispostos a fazer algo nesse sentido. Mas não dimana do texto constitucional qualquer ideia de diminuição da imunidade parlamentar”, afirmou.

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