DA REDAÇÃO – Desde os 16 anos o paulista Eliel Lino, hoje com 19, alimenta o desejo de morar fora do Brasil. Cursando faculdade de design de interiores, ele está entre milhares de pessoas no Brasil que participam de grupos no facebook, whatsapp e telegram destinados à troca de informações e esclarecimento de dúvidas para quem planeja um dia morar nos EUA.
Com a atual crise econômica no Brasil, o desemprego em patamares recorde e pouca expectativa de melhora a curto prazo, o contingente de pessoas que veem a saída do país como solução tem crescido cada vez mais.
De olho neste fenômeno, brasileiros residentes nos EUA produzem vídeos no Youtube dedicados a este público crescente. São dezenas de youtubers que abordam temas variados. Em comum, todos mantém a pretensão de explicar como é a vida no país, alguns com maior responsabilidade na informação que colocam, outros buscando aumentar o número de visitantes ao custo da credibilidade no assunto abordado.
Paulo Paternes, empresário de Orlando na Flórida, mantém o Canal Perguntas no Youtube, dedicado a esclarecer dúvidas que vão desde como funciona a imigração, dicas de aluguel de imóveis até a própria rotina no país. O que começou como uma brincadeira, após seis anos se tornou um canal com 290 mil inscritos e 28 milhões de visualizações e diversas empresas apoiando. Ele admite que canais como o dele exerce uma influência grande em quem pensa um dia ir morar fora, por isso ele diz se preocupar com o que coloca no canal. Ele reconhece, no entanto, que não tem controle nas ações das pessoas.
Para Paulo, o brasileiro, e o ser humano de uma forma geral, tende a absorver mais as informações que agradam e que vão ao encontro do que buscam, descartando as informações que mostram a realidade. “O meu canal é um talk show. Eu entrevisto especialistas em diversas áreas e duas vezes por semana eu entrevisto famílias que contam a sua história no país”, diz ele acrescentando que 90% das pessoas que o seguem nas redes sociais já se mudaram para os EUA ou sonham com a mudança em breve.
O Youtube também é usado por uma parte grande de brasileiros que mantém outras atividades nos EUA e enxergam na plataforma uma oportunidade para atrair mais clientes. São corretores de imóveis, vendedores de carros, advogados e comerciantes. Muitos deles, com o crescimento do canal, deixaram de lado outras atividades para dedicarem exclusivamente a produção dos vídeos.
O Vlog do Ricardão é um deles. O canal conta com 566 mil inscritos conquistados nos 5 anos de existência. A cerca de 1 ano Rodrigo dedica todo o seu tempo na produção dos vídeos. “Eu deixei uma empresa no ramo de construção para ficar somente com o Youtube”, diz ele que chegou nos EUA há oito anos.
O canal aborda temas relacionados a vida nos EUA. Em um deles, Rodrigo mostra o que o americano joga no lixo e que pode servir para outra pessoa. Em outro ele fala sobre compra e porte de armas. “Existem 1 milhão de youtubers, mas 99% deles são fakes. São pessoas que vendem um sonho para os brasileiros. Eu falo a realidade. Procuro ficar dentro da lei. Isso é uma diferença muito grande com os outros”, acredita ele. Quanto a influenciar as pessoas, assim como Paulo, ele diz que não tem como controlar o que as pessoas pensam.
Paulo, do Canal Perguntas, diz que muitos youtubers inventam histórias ou abordam temas de forma superficial para colocar no canal somente porque atraem muitas visualizações. “Estas pessoas vendem uma América que não existe”, diz.
Os grupos nas redes sociais refletem a grande demanda por informação. São pessoas que sabem muito pouco de como é a vida fora do Brasil. Para eles, qualquer informação é recebida como correta e poucos podem contestá-las.
Eliel, o jovem universitário que sonha um dia sair do país, confessa que os vídeos no Youtube o influenciaram na decisão, apesar de dizer que pretende concluir os estudos no Brasil. “A qualidade de vida mostrada nos vídeos foi o que mais me influenciou”, diz completando que alguns youtubers “vendem o sonho americano”.
Para se manter informado, ele diz que não busca informação em outras fontes, ficando dependente dos cinco grupos do Facebook e dos dois do Telegram que participa, além dos youtubers que segue, para encontrar as respostas que busca. Hoje, no entanto, ele prefere seguir os menos populares e mais realistas. “Eu não conheço ninguém que more nos EUA por isso fico a mercê destes grupos”, admite.
Para Paulo, muitos youtubers criam um cenário para os vídeos e que isso não seria um problema se fossem canais de entretenimento. “O problema é que eles estão mexendo com sonhos, com pessoas e com famílias de verdade. Isso passa a ser errado”, acredita.