Durante reunião com comunidade brasileira chefe de polícia divulgou nova resolução interna da polícia em Broward
Joselina Reis
A resolução foi baseada em duas ordens judiciais de outros estados americanos em que a Justiça afirma que “deter os imigrantes sem uma causa justa atendendo a ordens do ICE é uma violação dos direitos civis”. Neste caso, diz a resolução interna do BSO (Broward Sheriff Office), nem mesmo “um mandado de busca emitido pelo ICE pode ser usado para deter uma pessoa”. Durante a reunião, os sheriff pediu que cópias do documento fossem entregues aos presentes.
Desde o início de sua administração, em 2013, o sheriff vem tentando convencer a comunidade imigrantes indocumentados a não ter medo de delatar crimes. Agora, além de afirmar que não vai entregar o indocumentado para a polícia de imigração, Israel ainda disse, em público, que os advogados do BSO vão “trabalhar arduamente para manter o imigrante `vítima ou testemunha de um crime` no país, trabalhando para extender seu visto, até que justiça seja feita”.
Ainda na mesma linha de aproximação com a comunidade de imigrantes, Scott Israel criou este ano o programa Suporte à Comunidade (Community Support Division). Nele, os integrantes representam comunidades, falam o idioma e, de preferência, são imigrantes ou descendentes de imigrantes. “Nós sabemos que nem todo problema se resolve com uma arma na mão. Por isso a necessidade de ter trabalhando conosco pessoas que tenham alguma ligação com a cultura e a língua que aquela comunidade fala”, explicou.
Até então, a única comunidade que ainda não tinha um representante no CSD era a brasileira. Na noite de quarta-feira (6), Scott Israel apresentou a detetive brasileira Millie Palushaj como sendo a nova integrante do grupo e responsável pela conexão com os brasileiros. Ela vai trabalhar no Departamento de Polícia em Deerfield Beach. Até então, quando havia necessidade de um oficial que falasse português, o policial do grupo especial SWAT, Ricardo Braga, era chamado.
Redução de crime
Durante a reunião, Scott Israel aproveitou ainda para reinterar o foco do seu trabalho em seu mandato que vai até 2016: a diminuição da prisão de jovens que comentem crimes menores. De acordo com estatísticas da sua administração, 65% dos que comentem um crime de menor proporção e são presos voltam a cometer o mesmo crime em menos de dois anos.
Desde que tomou posse, ele implementou o Civil Citation Program, onde os jovens recebem uma medida sócio-educativa ao invés de serem presos. “Lugar de jovem é na escola e não na cadeia, onde ele aprende ainda mais como cometer crimes”, afirmou o sheriff, comemorando a estatística de que o condado de Broward, sob sua tutela, conseguiu reduzir em 30% a criminalidade nos últimos dois anos.
Reunião
A reunião entre o Sheriff Scott Israel e a comunidade brasileira foi organizada pelo Centro Comunitário Brasileiro. Ainda estavam presentes na reunião, o presidente do CCB, Urbano Santos, os representantes do consulado do Brasil em Miami, Leonardo Faria, e Luiz Guilherme Costa Koury, além de representantes de algumas prefeituras do condado.
Comunidade comemora, mas ainda desconfia
Para o presidente do CCB, Urbano Santos, a reunião com o sheriff e a apresentação pública da resolução interna do departamento de polícia afirmando que não há nenhum tipo de acordo com o ICE, significa a vitória de uma luta de muitos anos. “Muitas prisões de brasileiros foram feitas injustamente. Acabar com esse acordo entre ICE e BSO é uma luta de muitos anos, foi uma busca incansável. Hoje, com essa resolução do sheriff, afirmando que não vai honrar o acordo com a imigração, se alguém for parado, preso e o ICE for contactado, o sheriff vai ter que fazer alguma coisa para honrar seu compromisso com a comunidade”, disse o presidente do CCB.
Mal conseguiu a primeira vitória, explica Urbano, o CCB já está planejando a próxima batalha. Dessa vez, o foco é a carteira de motorista para os imigrantes indocumentados. Com a chegada das eleições, o CCB quer mobilizar a comunidade imigrante (não só brasileira) para mostrar a força do voto imigrante em novembro.
Para tanto, o CCB planeja criar um banco de dados com um milhão de nomes imigrantes (eleitores ou não) para mostrar aos candidatos a governador e outros cargos públicos a força da comunidade imigrante. “Se juntarmos a comunidade brasileira e caribenha podemos fazer uma grande diferença. Esse grupo só vai apoiar os candidatos que defendem o projeto de carteira de motorista para imigrantes, como nos outros estados. Até os que não podem votar, conhecem pessoas que votam e podem ser um agente de persuação nas próximas eleições”, afirmou Santos.
Para Silair Almeida, porta-voz da Flórida no Conselho de Representantes Brasileiros no Exterior, todo mundo esperava essa resolução há muito ttempo. “Era um absurdo essa conexão entre a polícia do condado e a polícia de imigração. Ser multado por falta de documento é normal e está na lei, mas a prisão era uma arbitrariedade. Agora, o sheriff vem corrigir esse problema”, acredita ele, lembrando que isso foi promessa de campanha de Scott Israel.
As histórias de prisões, entregas de imigrantes para o ICE, seguido de deportação, ainda são um fantasma para a comunidade brasileira. Por isso, alguns acreditam, mas ainda desconfiam. “Você tem que acreditar, fazer o quê? Na época do outro sheriff `Al Lamberti` ele também falava que não entregava para o ICE, mas muitos foram presos e deportados porque foram pegos sem carteira de motorista. O que tem que ser feito é liberar a carteira de motorista para que todos possam andar em paz”, disse a brasileira Rosangela Silva, moradora em Deerfield Beach.
“Eu conheço várias histórias. Principalmente das blitzen da polícia com o ICE na área do Seabra `supermercado`. Eles chegavam e levavam o pessoal. Quem não tinha documento era deportado. Infelizmente, o problema que vivemos é o risco que os imigrantes correm quando decidem buscar um sonho”, lembra Odoardo Agnelli, morador de Boca Raton.