Mais dois voos com brasileiros deportados dos EUA chegaram ao Aeroporto Internacional Tancredo Neves em Confins, Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG), entre sexta-feira (6) e esta segunda-feira (9).
Na sexta, chegou o sétimo voo fretado pelo governo americano com brasileiros deportados dos EUA com 55 deportados. Nesta segunda-feira, outros 40 vão chegar de volta ao Brasil, em um total de mais de 700 brasileiros deportados desde outubro em voos fretados pelo governo americano.
Três voos chegaram em um intervalo de uma semana. Na segunda-feira (2), outro voo chegou com mais de 100 pessoas deportadas.
O AcheiUSA conversou com dois brasileiros deportados que relataram que passaram pelos piores momentos da vida deles.
Fabiane, que é natural de Ipatinga (MG), viajou com a filha de dois anos e o marido. Eles chegaram no dia 25 de janeiro, se entregaram aos agentes de imigração e foram mandados para a prisão no Texas, onde a maior parte dos detidos é enviada. A mineira descreve o local como um ‘gelo’, com pouca comida e sem condições para receber crianças. O marido dela foi mandado para outro setor e ela ficou com a filha.
“Na cela em que eu estava cabiam 11 mulheres e eles colocaram 27, entre adultos e crianças. Depois desses dias, me perguntaram se eu queria ser deportada ou recorrer do processo. E eu sabia que não ia adiantar recorrer e optei por ser deportada. Assim que chegamos, jogaram nossas roupas fora e nos deram uma espécie de papel de alumínio que servia de cobertor. Dormimos no chão. Minha filha passou mal, vomitando e com febre alta, não deram comida para ela. O médico disse que ela precisava se alimentar e tomar bastante água, porque estava desidratada. Passei 27 dias nesse lugar e pareciam 27 anos, foi muita humilhação e sofrimento”, disse Fabiane.
Cerco apertado para brasileiros
O governo Trump tem apertado o cerco contra os brasileiros que tentam atravessar ilegalmente a fronteira. O chamado “cai cai”, no qual a pessoa se entregava para a imigração na esperança de responder ao processo dentro do território americano, não está funcionando mais. Os brasileiros estão sendo sumariamente mandados de volta para o México, presos e deportados.
Isso porque o número de imigrantes brasileiros presos nos Estados Unidos tentando cruzar a fronteira pelo México aumentou mais de 10 vezes no último ano fiscal norte-americano (outubro de 2018 a setembro de 2019), chegando a 17.900, contra 1.500 no ano fiscal anterior. Em 2019, cerca de 850 mil pessoas de diversas nacionalidades foram presas tentando cruzar a fronteira dos EUA.
O governo do presidente Jair Bolsonaro tem facilitado a deportação de cidadãos que vivem irregularmente nos EUA.
O governo emitiu um parecer autorizando a volta de brasileiros no país apenas com um atestado de nacionalidade. Isso porque a lei brasileira proíbe a emissão de passaportes à revelia do cidadão, o que impedia o governo americano de embarcar os deportados sem que eles se dispusessem a pedir um passaporte. No governo Temer, sob pressão dos EUA, foi feito um acordo para que os consulados emitissem o certificado em alguns casos, mas algumas empresas aéreas se recusavam a aceitar o documento até o parecer do governo brasileiro.
Os voos fretados, no entanto, eliminam também esse problema. Não há necessidade de documento para desembarque no Brasil.