Portugal é o novo destino dos imigrantes que querem deixar o Brasil e não conseguem visto para os Estados Unidos ou para aqueles que acham que “falam a nossa língua e fica mais fácil”. Mas assim como nos EUA a realidade é outra para imigrantes indocumentados, em Portugal a situação não é diferente.
Reportagem publicada pelo O Globo, de Gian Amato, mostra que centenas de brasileiros estão pedindo auxílio financeiro do programa de retorno voluntário Árvore, da Organização Internacional para as Imigrações (OIM). O número, registrado até julho, já superou todos os 232 pedidos de ajuda de 2017 feitos por brasileiros em situação considerada crítica em cidades portuguesas. Os brasileiros esbarram em diversas dificuldades como falta de qualificação, falta de experiência e, o mais importante, falta de documentos legais para trabalhar.
Em 2017, a população de brasileiros em Portugal, a maior no país, voltou a crescer após seis anos e chegou a 85.426, ou 20,3% do total de 421.711 imigrantes. Só universitários são mais de 12 mil, amparados por visto de residência de estudante e, às vezes, por bolsas e renda vindas do Brasil. Este ano, 22 pessoas entre os 235 retornados até agora pelo Árvore receberam o apoio de € 2 mil.
“As pessoas chegam iludidas com Portugal, não conseguem contrato de trabalho e não encontram o que buscavam. Às vezes, ficam menos de três anos no país, porque falta emprego estável e passam a viver de biscates. Sem renda proveniente do Brasil, encontram obstáculos financeiros para seu sustento. É uma onda de imigração que percebemos ser mista, que tem também pessoas que chegam sem planejamento adequado e ficam mais vulneráveis”, explicou ao Globo Bárbara Borrego, assistente de projeto na OIM.
Após entrevistas para a constatação da condição de extrema dificuldade, o candidato selecionado para o benefício do Árvore recebe, além da passagem aérea, ajuda de € 50 para despesas de viagem. Para ter acesso ao programa, é preciso comprovar falta de renda e apresentar um nada-consta criminal. Não pode haver pendência de documentação junto ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), e o processo pode levar de um a três meses. Quem retorna ao Brasil pelo Árvore fica impedido de entrar em Portugal por três anos.
Em casos de extrema necessidade, a OIM oferece € 2 mil para o recomeço no Brasil, para assistência médica, qualificação profissional ou a criação de um pequeno negócio. Foi o que fez Sônia Andrade. Aos 29 anos, ela sofre de raquitismo hipofosfatêmico e não trabalhou em Portugal. Quem garantia a renda era o marido, Hudson Silva, de 28, empregado na construção civil.