DA REDAÇÃO, COM O GLOBO – O secretário especial de Assuntos Estratégicos do governo Michel Temer, Hussein Kalout, foi impedido de embarcar em um voo da American Airlines, com destino a New York, na última segunda-feira (21). O ministro caiu na seleção de passageiros que deveriam passar por uma inspeção especial antes da viagem — mas recusou a revista, não embarcou e cancelou os compromissos oficiais no exterior. Ele alega que foi alvo de racismo por ter nome arábe.
Desde o dia 19 de julho, o Departamento de Homeland Security (DHS) determinou que todas as empresas aéreas que voarem para os Estados Unidos vão ser obrigadas a inspecionar os equipamentos eletrônicos dos passageiros. O foco da inspeção são celulares, computadores e tablets. O novo procedimento é uma exigência do governo americano e será seguido por cerca de 105 países.
Segundo Hussein Kalout, ele estava a caminho de NY em missão oficial no Council of the Americas e no Council on Foreign Relations. Ele chegou ao portão do voo com um carimbo no cartão de embarque que indicava a necessidade do procedimento. Já estava na fila para apresentar o passaporte quando foi abordado.
“Depois de ter feito o check-in, me dirigi à fila normal como qualquer cidadão para os procedimentos padrão. Fiquei na fila, passei pelo raio-x, tirei meus objetos, passei pela imigração. Na entrada do finger print, fui comunicado que precisaria passar por uma inspeção especial, ou seja, a segunda inspeção. Perguntei o motivo e me disseram que eu tinha que os acompanhar. Perguntei o motivo novamente e me disseram que eu seria levado para uma nova área. Me disseram que eram normas do governo americano e da empresa. Quando cheguei, vi que a forma da inspeção me ofendia na condição de cidadão e autoridade de Estado brasileiro”, disse o ministro.
Ainda de acordo com Hussein, seus pertences foram novamente revistados e o próprio ministro passou por inspeção corporal.
Hussein revelou ainda que essa não foi a primeira vez que passou por algo semelhante por causa da descendência. No entanto, a ação nunca havia acontecido no Brasil.
“Eu sou sistematicamente parado. Mas, independentemente de ter um nome árabe ou não, a discriminação é inadmissível. Qual a outra razão de eu ser parado se não for essa? Eles sabiam que eu estava em missão especial. Por que toda vez eu sou parado? E quantas pessoas no avião são paradas? A discriminação, às vezes, é feita de forma velada. Às vezes, transparece. Neste caso não há nada que indique que não seja isso. Eu estava em solo brasileiro e dessa vez resolvi que não passaria por isso novamente. Achei que não era cabível me submeter a um tratamento humilhante de uma companhia aérea estrangeira e optei por não embarcar”, comentou.
Questionado se havia sido procurado pela empresa ou por autoridades americanas, Kalout afirmou ter recebido e aceitado um pedido desculpas da Embaixada.
Em nota, a American Airlines destacou que as “as inspeções de segurança são realizadas de acordo com os regulamentos da Transportation Security Administration (TSA), agência dos Estados Unidos, e com base em seus protocolos de seleção e designação”. Segundo a companhia, é a TSA que define as isenções de protocolos de triagem, que fogem ao controle das empresas aéreas. A American Airlines ainda frisou que “não comenta a natureza específica das medidas de segurança implementadas”. Presidentes e primeiros-ministros ficam isentos da inspeção. Kalout ressalta que foi o único a ser retirado da fila de embarque — o que a empresa não confirmou.
O governo brasileiro lamentou o ocorrido e reiterou o pedido de que medidas sejam tomadas para evitar novas ocorrências de práticas deste tipo.