No domingo passado fui comprar umas ferramentas na Leroy Merlin aqui em São Paulo, aonde sempre vou. Só que havia ficado fechado devido ao lockdown que o prefeito impôs por quase um mês, então a quantidade de gente com deficiência “ferramentística” era muito grande. A fila era enorme, e não estavam deixando entrar muita gente ao mesmo tempo. Ansioso como sou, fila grande para mim é uma com cinco pessoas à minha frente, e aquela tinha cinquenta… obviamente desisti e voltei para casa–droga, eu precisava demais de uns parafusos, lixas, desentortador de banana da Bosch e sei lá mais o quê.
No dia seguinte, após o expediente decidi tentar novamente – desta vez não tinha muita gente e entrei sem fila. Fiquei um tempão olhando as ferramentas, peguei um punhado de tranqueiradas e fui para o estacionamento. Mas… CADÊ MEU CARRO??? Olhei o corredor inteiro, eu só estaciono naquele corredor justamente para não ter problemas na hora de encontrá-lo! Me gelou a espinha – meu carro é velho, digo, clássico, um Bora 2006, quem iria roubar um carro desses? Sei que tem mercado pra velharias onde peças são difíceis de encontrar, e modéstia às favas o meu carro estava inteiraço! Só tinha 65 mil km, único dono…. e eu havia acabado de trocar os quatro pneus, arrumei suspensão, mandei pintar os arranhões e minha irmã e minha funcionária me deram de aniversário um rádio multi-midia!
Pretendo voltar para a Itália em breve, então eu não tinha nenhuma intenção de comprar um carro para deixar parado aqui – o Bora era meu segundo carro e vendi meu Jetta 2016 quando mudei para a Itália. Como no começo do ano vim para cá e não consegui voltar mais, decidi dar um tapa geral no Bora, para poder usar ao invés de alugar um carro pagando três mil reais por mês.
Tive muitos carros na vida, mas nunca me roubaram nenhum. No máximo roubaram toca-fitas e um estepe – mas nunca o carro. É uma sensação horrível – enquanto voltava para dentro do complexo de lojas para avisar do roubo, tentava contabilizar meu prejuízo com as coisas que estavam dentro do carro, como óculos de grau e de sol, controles das garagens de casa, do escritório e da casa de minha mãe, chaves reservas no console central, agasalhos no banco de trás… nada caro, mas muita coisa pentelha de se conseguir de novo. E eu até facilitei o serviço do larápio – eu não tranquei o carro (a fechadura emperrou uma vez e preferi não trancar mais – afinal, quem vai ficar checando qual carro está destrancado?) e ainda por cima, deixei o ticket do estacionamento no para-sol, pois ficaria menos de uma hora e não precisa pagar estacionamento.
Cheguei ao caixa do estacionamento e avisei o ocorrido para a atendente, que prontamente pegou o rádio e chamou o supervisor. O pessoal da fila ficou horrorizado com meu relato, e enquanto eu já estava quase chamando um Uber para voltar para casa, lembrei que havia entrado por trás do complexo, e não pela frente onde costumo entrar. Ora pois…. assim que o gerente chegou eu já comecei a me desculpar, e que “possivelmente” havia estacionado em outro lugar. Ele fez questão de me acompanhar e chegando ao local eu disse surpreso com um sorriso amarelo “olha, o carro está aqui!”. Ele deu risada e foi embora.
Entrei no carro e fui olhar o ticket de estacionamento – havia passado três malditos minutos do prazo para não pagar! Tive que voltar ao caixa do estacionamento e novamente com um sorriso amarelo expliquei para a atendente “além de ser burro e esquecer de onde estacionei, agora tenho que pagar o estacionamento…”. Ela deu risada e me perguntou se havia comprado algo – claro que sim, gastei uma grana de porcariada em ferramentas – aí ela carimbou o ticket e não paguei nada. Exceto o mico, esse sim eu paguei.