Estados Unidos Gabriela Egito

Roteiristas chegam a um acordo com grandes estúdios em Hollywood

Sindicato anuncia que novas regras incorporam ganhos e proteções significativos para a categoria

A greve do sindicato dos roteiristas de Hollywood (Writers Guild of America, WGA) está oficialmente encerrada, depois de quase 5 meses de piquetes. A proposta da associação que representa 350 estúdios e produtoras (Alliance of Motion Picture and Television Producers, AMPTP), apresentada no último final de semana, ainda deve ser votada pela categoria, mas tudo indica que será aprovada.

Em e-mail aos seus associados, a entidade sindical declarou: “Podemos dizer, com grande orgulho, que este acordo é excepcional – com ganhos e proteções significativos para roteiristas em todos os setores.”

A comissão de negociação do sindicato reconheceu a força do movimento, destacando: “O que conquistamos neste contrato é resultado da determinação de nossos membros em exercer seu poder, demonstrar solidariedade, enfrentar juntos as dificuldades e incertezas dos últimos 146 dias. Foi a pressão gerada pela greve, juntamente com o extraordinário apoio de outros sindicatos, que finalmente trouxe as empresas de volta à mesa de negociação.”

O acordo foi alcançado após cinco longos dias de negociação entre representantes do sindicato e quatro líderes de estúdio, incluindo Bob Iger, CEO da Disney; David Zaslav, CEO da Warner Bros. Discovery; Donna Langley, diretora de conteúdo da NBCUniversal; e Ted Sarandos, co-CEO da Netflix. Eles afirmaram que o pacote atende às principais demandas da categoria, incluindo a definição de um número mínimo de pessoal para as salas de roteiristas, proteções contra o uso de Inteligência Artificial (IA) e pagamento de direitos conexos de imagem com base no sucesso de streaming.

Embora o acordo tenha uma validade de três anos e ainda precise ser votado pelos roteiristas entre 2 e 9 de outubro, existe a esperança de que os estúdios possam chegar a um entendimento rápido também com os atores sindicalizados (SAG-AFTRA), que estão em greve desde julho, e assim permitir que a indústria do cinema retome plenamente suas atividades.

Crise no setor

No entanto, apesar dos desenvolvimentos positivos, há preocupações de que os desafios enfrentados pela profissão persistirão. Roteiristas temem que a indústria encolha, afetando oportunidades para jovens talentos e diversidade, à medida que o número atual de cerca de 600 produções de séries roteirizadas nos EUA diminua, devido às dificuldades em tornar os serviços de streaming tão lucrativos quanto a TV a cabo, que está perdendo espaço entre o público.

Um dos maiores desafios durante as negociações foi fazer com que os empregadores, que inicialmente resistiam a qualquer demanda, compreendessem os problemas causados pelas mudanças na indústria e como essas alterações ameaçavam a viabilidade da profissão. Isso levou à necessidade de modificações estruturais na forma de compensação financeira, entre outras questões, que foram finalmente alcançadas.

Atualmente, quase metade dos membros sindicalizados ganha o piso mínimo da categoria, que será reajustado nos próximos três anos com aumentos anuais de até 5%, começando imediatamente. Além disso, houve melhorias nos benefícios de aposentadoria e seguro de saúde.

Revisão dos “residuals”

Uma demanda crucial da categoria em relação à remuneração era revisar a forma de cálculo dos direitos conexos de imagem, conhecidos como “residuals”, nas plataformas de streaming como Netflix, Hulu e Amazon Prime. Essas empresas geralmente não divulgam dados de audiência por série ou filme, e a remuneração estava vinculada apenas ao custo de produção da obra  (o chamado “cost-plus”), resultando em remunerações muito baixas mesmo para produções de sucesso mundial.

Nesse quesito, os estúdios concordaram em conceder um bônus de 50% sobre o cost-plus, caso 20% dos assinantes ativos assistam ao filme ou série nos primeiros 90 dias na plataforma. Embora seja um avanço, isso ainda não atende completamente às expectativas da categoria.

Outra demanda importante e controversa era estabelecer um número mínimo de roteiristas por série para combater a exploração da mão de obra devido ao excesso de trabalho com poucos profissionais. O acordo agora exige que, para programas com seis episódios ou menos, os estúdios contratem pelo menos três roteiristas e três roteiristas/produtores. Para programas com sete a 12 episódios, o mínimo agora será de cinco roteiristas e três roteiristas/produtores, e para programas com mais de 13 episódios, deve haver pelo menos seis roteiristas e três roteiristas/produtores.

Proteções quanto às IAs

Em relação ao uso de Inteligência Artificial, foram negociadas duas formas de proteção. Primeiramente, os direitos autorais dos roteiristas e sua compensação foram garantidos independentemente do uso de IA, com definições claras sobre o que é considerado conteúdo literário e o que não é, pois obras originais e adaptações são remuneradas de maneira diferente. A IA não está autorizada a criar ou reescrever material literário, e o material gerado pela IA não será considerado material original.

No entanto, as novas regras não proíbem o uso de IA na produção, mas impedem o uso de software para substituir ou eliminar profissionais e seus salários. Um roteirista pode optar por usar IA se a empresa concordar, mas o empregador não pode obrigar o profissional a utilizar software de IA (por exemplo, ChatGPT) ao realizar seu trabalho.

Além disso, foram negociadas proteções no caso de empresas desejarem usar o material produzido por roteiristas para treinar IA, o que foi vedado. Os profissionais devem ser compensados, embora os detalhes exatos dessa compensação ainda precisem ser discutidos posteriormente e implementados somente com a expressa aprovação do sindicato.

O anúncio do acordo foi recebido com grande comemoração pelos grevistas, incluindo lágrimas de alegria e brindes. Após cinco meses de dificuldades financeiras, mesmo com as doações generosas feitas por celebridades para apoiar os grevistas, que receberam pequenos auxílios para pagar aluguel e alimentação, muitos ainda enfrentam desafios econômicos. Entre os manifestantes, além do retorno ao trabalho, a preocupação agora é continuar apoiando os artistas que permanecem em greve.

Historicamente, os contratos do WGA servem como referência para outros sindicatos em Hollywood. Portanto, isso provavelmente estabelecerá um precedente importante para um possível acordo com os atores do SAG-AFTRA.

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