Não foi muito fácil chegar à ilha de Roatan saindo do Brasil – a ilha faz parte das Bay Islands em Honduras, um destino turístico muito conhecido por quem faz mergulho (ou coleciona conchas). Já que não havíamos planejado a viagem com antecedência, todos os voos já estavam lotados e haviam sobrado poucas opções. A maior parte dos voos para Roatan são provenientes dos Estados Unidos, mas o Paulo–mergulhador que me acompanhou–não tinha visto, então tivemos que voar para o Panamá, parar na Costa Rica, de lá para Tegucigalpa (a capital de Honduras) onde passamos a noite.
Como tivemos um dia inteiro em Tegucigalpa fomos visitar o Museu de Antropologia. As conchas estiveram presentes durante boa parte da cultura hondurenha, em artesanato a instrumentos musicais–e aproveitadas como comida também. E vimos alguns ornamentos dentais bem estranhos (e provavelmente doloridos) feitos há centenas de anos, com incrustações de jade e outras pedras semipreciosas.
Na manhã seguinte voamos para San Pedro Sula, e de lá pegamos um aeromodelo, digo, um avião pequeno para Roatan. O Paulo nunca havia viajado de avião antes, então para ele tudo era festa (na volta ele estava enjoado de voar).
Nosso amigo Tony McCleery estava nos esperando com o veleiro ancorado na baía da cidade de Roatan, e de lá seguiríamos viagem na costa oeste até a ilha Barbareta, uma ilha particular onde somente poderíamos mergulhar no entorno, sem desembarcar.
Dá para entender porque essas ilhas são um dos destinos preferidos pelos mergulhadores: a água é transparente, quente e cheia de vida. A fauna marinha é muito rica e chega a distrair mesmo quem já mergulhou mundo afora – fiz várias fotos submarinas muito bonitas lá.
Como a maior parte de nossos mergulhos foi em águas rasas o tanque durava horas, dificilmente eu olhava o profundímetro e o manômetro para ver qual profundidade estava e quanto ar eu ainda tinha disponível. Como só ficava entre cinco e dez metros, bastava subir quando percebia que o ar não estava fluindo forte (atenção crianças, não façam isso em casa). Em um dos mergulhos eu fiquei quase três horas em menos de 3 metros de profundidade, e como demorei tanto tempo para voltar o Tony já estava quase chamando a guarda costeira para me procurar…
Em um dos pontos de mergulho resolvi ir para a parte mais funda para ver se encontraria algo diferente. Eu estava sem o profundímetro em meu regulador, somente com meu relógio Aqualand que também mede a profundidade. Para variar, a lei de Murphy agiu de novo e a bateria do relógio acabou no meio do mergulho. A água estava muito clara, sem corrente e quente até o fundo–três fatores que podem enganar até mergulhadores experientes com relação à profundidade. Mas eu pude sentir a pressão e resolvi voltar devagar pelo paredão para evitar ter problemas descompressivos. Na superfície eu troquei o tanque e o regulador–desta vez peguei um regulador com profundímetro acoplado e voltei para onde estava antes só para saber a profundidade: 40 metros! Eu devia ter percebido que era bem fundo ao nadar em direção à uma cabeça de coral que parecia ser pequena – ao me aproximar ela era maior que uma casa.
O fundo era bem visível e parecia perto, mas certamente estava a mais de 50 metros de profundidade! Apesar de ser perigoso, estar nesta profundidade com água cor de piscina é tão incrível que nos faz perder o fôlego – modo figurado de dizer, porque se acabar o fôlego significa que o tanque está vazio!