Respeitável público… Com vocês…
Essa certamente é a apresentação que ele mais espera ouvir. Com uma veia circense recém-descoberta o paulistano de Ribeirão Preto, Ricardo Fábio, 39 anos, resolveu mudar de vida. Voltou para o Brasil, onde pretende dar seguimento ao seu trabalho de ator enquanto espera, ansioso, ‘o chamado’ divino. O Deus dele, nesse caso, são os empresários do Cirque de Soleil, com os quais vem fazendo contatos há dois anos.
A paixão pelo circo internacional começou aqui nos Estados Unidos, quando viu uma apresentação do grupo em 2002. “Quando eu vi aqueles artistas, eu chorei. Eu não parava de chorar e naquele instante eu pensei: -É isso que eu quero para mim”, lembra. A partir daí começou a perseguir o sonho e iniciou contatos com os artistas do circo. Já fez workshops com eles e conta com a possibilidade de vir a trabalhar com o grupo. O principal passo para esse goal vai ser dado em 2004, quando Ricardo irá ao Canadá para outro workshop (o Soleil sempre capta artistas de outros países os quais testa a aptidão através de workshops).
O começo ‘Luminoso’
Enquanto o grande sonho não se realiza Fábio vai seguindo sua trilha e tentando refazer a história artística que começou na música. Ele fez parte de um grupo de sucesso no Brasil, o Placa Luminosa, no qual ficou por cinco anos e gravou vários discos. O grupo não se curvou à febre sertaneja do cenário musical brasileiro e foi desfeito na década de 90 (o último disco foi gravado em 1992).
Ricardo conhecia então alguns membros da banda que tocava no restaurante Brazilian Tropicana e, em contato despretencioso acabou sendo convidado para vir trabalhar nos Estados Unidos. Há 9 anos começou a atuar no Brazilian Tropicana, onde foi ganhando cada vez mais espaço e já atuava com influência do circo. Suas participações sempre se verteram para o lado cômico. Embora tenha sido contratado para atuar na banda foi ganhando participações cênicas e seu lado de ator foi despontando.
No restaurante criou personagens que fizeram história, como a Januária. “Havia um problema no restaurante no intervalo dos shows. Os garçons deixavam cair comida no chão e acontecia, às vezes, dos dançarinos escorregarem. E sempre havia um intervalo, de um minuto, onde alguém ia lá e varria. Então eu resolvi criar a Januária.
Era uma faxineira que saia varrendo tudo pela frente”, conta.
Com a personagem que nasceu do improviso ele ganhou admiradores e até prêmios em concurso de fantasia. O personagem era tão carismático que foi contratado para recepecionar os convidados de uma festa em uma mansão de Fort Lauderdale.
Da passagem pelo Tropicana vai guardar sempre um carinho especial pelo Balloon Guy, personagem que criou com esquete de 1 minuto e com o decorrer dos anos ampliou para 15 minutos – que também ficaram insuficientes. “Foi acontecendo uma química entre a personagem e o público. Havia pessoas que levavam carecas e iam falar comigo:-‘Olha, hoje eu trouxe um careca para você!'”, lembra. Para quem nunca viu o show do Tropicana o número consistia numa brincadeira com carecas onde o Balloon Guy tentava prender um balão nos cabelos – leia-se perucas- do “escolhido”. E é claro que as perucas saiam voando, começando aí o esquete que servia de cobertura para que os dançarinos tivessem tempo de trocar de roupa no camarim.
A parte da sua atuação no restaurante o artista tentou reavivar seu lado músico e montou a banda Falsa Baiana. “O nome era porque a gente cantava axé mas não tinha nenhum baiano no grupo”, explica Fábio. Com a banda atuou na antiga Millenium de 1997 a 2002 e animou “as principais festas da comunidade”, como gosta de enfatizar.
Desde 2002 o paulistano vinha se dedicando exclusivamente ao show do Tropicana e a novos projetos. “A minha participação na Flórida fechou um ciclo. Era a minha hora de voltar `para o Brasil`”, afirma, acrescentando que a “Flórida não é a mesma que eu encontrei; perdeu o charme”.
O artista argumenta que não tinha mais sentido para ele investir na sua carreira nos EUA, onde a compensação é só financeira e não artística. Por isso resolveu voltar aos palcos do Brasil com o projeto Lumina. Ao lado de outros 32 artistas ele deve percorrer o estado de São Paulo com espetáculos de música, teatro e dança. “Eu vou tentar introduzir um pouco da linguagem de circo no grupo”, ressalta.
A entrevista ao AcheiUSA, aliás, foi concedida um dia antes do artista viajar para o Brasil e Fábio não conseguia conter a expectativa em chegar ao país. “Eu tô com tanta saudade do país, de ver gente na rua… estou com tanta vontade de chegar lá… Eu estou com saudade até de andar de ônibus”, disse entusiasmado já pensando em voltar a receber aplausos do público brasileiro que, segundo afirma, é o público que melhor sabe reconhecer o trabalho de um artista.
Vanuza Ramos – AcheiUSA