Histórico

RETROSPECTIVA 2012 – Imigração

Iniciativa de Obama beneficia mais de um milhão de jovens indocumentados
Programa temporário foi taxado de medida eleitoreira pela oposição

Alguns classificaram a medida de eleitoreira e oportunista. Mas o fato é que cerca de 1,7 milhão de jovens indocumentados que entraram no país antes de completar os 16 anos de idade receberam, em 2012, a boa notícia de que poderiam regularizar sua situação no país. O memorando assinado pelo presidente Barack Obama determinou que o chamado ‘Alívio Administrativo’ permitiria a inscrição em um programa temporário para garantir autorização de trabalho e permanência nos Estados Unidos, sem o risco de deportação para quem estivesse enquadrado nos termos desta variação do ‘Dream Act’.

O Serviço de Cidadania e Serviços de Imigração (UCSIS) divulgou que, até o dia 15 de novembro, mais de 308 mil pessoas já haviam mandado o formulário referente ao DACA (Deferred Action for Childhood Arrivals). Os mexicanos totalizam quase 70% dos pedidos, mas há representantes de vários países da América Latina e da Ásia. Os estados mais participativos são Califórnia, Texas, New York, Flórida e Illinois. A USCIS avisa que todas as solicitações são analisadas com rigor, caso a caso, e as fraudes nas informações fornecidas à agência federal podem resultar em deportação ou processo judicial.

Segundo os grupos de apoio aos imigrantes, o memorando de Obama representa um marco histórico: desde 1986, com a anistia dada aos imigrantes pelo então presidente Ronald Reagan, o país não concedia um alívio imigratório em massa. Naquela época, o ato de Reagan (um republicano, por sinal) beneficiou mais de três milhões de indocumentados, com um visto de residência permanente.

Os estudantes já haviam demonstrado, meses antes, que não esmoreceriam na luta pelo Dream Act. Em março eles organizaram em várias cidades do país passeatas e atos para mostrarem sua força e pressionarem as autoridades. O pedido? Apenas o direito de estudar. Eles agora são chamados de ‘dreamers’ e, finalmente, estão vendo o seu sonho virar realidade, pelo menos em parte.

Cai o número de indocumentados

A crise e as deportações de criminosos têm reduzido, e muito, o número de indocumentados nos Estados Unidos. Com base em dados do Censo, o universo de imigrantes em situação irregular na América, que há pouco mais de um ano era bem superior a 12 milhões de pessoas, em 2012 foi reduzido em quase 10%, para aproximadamente 11 milhões.

Outro dado curioso é que, pela primeira vez desde 1910, os hispânicos representam a maior parcela de imigrantes, ultrapassando o número de asiáticos. No total, 28% das pessoas nascidas em outro país e que moram nos Estados Unidos são indocumentados (mais da metade delas mexicanas), outros 31% possuem Green card e outros 37% são naturalizados americanos.

O ano fiscal de 2012 registrou um número ainda alto quanto as deportações. Até agosto, 366.292 pessoas foram removidas do país, de acordo com o ICE, a polícia de imigração. Mesmo admitindo publicamente que a questão imigratória era uma dos fracassos de sua gestão, o presidente Obama tratou de explicar que a grande parte dos deportados era formada por criminosos. “Este número de deportações é inaceitável”, rebateu Angélica Salas, diretora executiva da Coalizão pelos Direitos Humanos dos Imigrantes de Los Angeles (CHIRLA), na Califórnia.

Republicano compara imigrantes a cães

O deputado republicano norte-americano Steve King, do estado de Iowa, não costuma ser feliz em suas metáforas. Depois de defender a instalação de cercas na fronteira, justificando que assim é feito com o gado, o político voltou a fazer uma comparação pejorativa envolvendo imigrantes: “Devem ser escolhidos como se escolhe um cão de caça… só os melhores”, disse em maio de 2012, sobre a concessão de vistos de trabalho.

Por mais que tenha argumentado que, na verdade, fez um elogio aos estrangeiros, King não escapou das críticas da opinião pública americana e de organizações em defesa de imigrantes. Matt Sinovic, diretor-executivo da ONG Progress Iowa, por exemplo, disse que as palavras do congressista ofendem aos trabalhadores, mulheres e idosos. “Ele foi, no mínimo, infeliz no comentário”.

Mesmo envolvido em polêmicas, King foi reeleito no pleito de novembro. Mas a mesma sorte não tiveram outros candidatos anti-imigrantes. O partido defendeu o corte de benefícios fiscais a indocumentados e a postura, de fato, afastou eleitores. O resultado nas urnas foi uma prova disso.

Grupo partidário ajuda brasileiros

Fundado pela ativista brasileira Isabel Santos, o BADC (Brazilian American Democratic Club) tinha como principal objetivo de agregar membros da comunidade simpatizantes do Partido Democrata e da reeleição do presidente Barack Obama. Só que a entidade acabou indo além e esteve por trás de duas batalhas para ajudar brasileiros indocumentados.

O primeiro caso foi com o casal Maguino da Silva e Alessandra de Sousa, pais de dois filhos americanos. Eles se conheceram na América e chegaram ao país em épocas diferentes, mas pela mesma via a da fronteira com o México, ilegalmente. Detidos, eles teriam que comparecer à Corte, o que não aconteceu. Anos depois, os dois foram interpelados em casa por agentes de imigração porque portavam documentos falsos e passaram a usar tornozeleiras de monitoramento, aguardando a deportação. O BADC encampou a luta e eles receberam um prazo maior do governo para resolverem a situação… sem a tornozeleira.

O mesmo aconteceu com Genario Vitória. Ele e a família, mulher e três filhos, receberam uma espécie de carta de proteção com prazo ilimitado para permanecer no país, graças à intervenção da entidade. O mineiro foi preso numa blitz da polícia e, mesmo sem estar dirigindo o veículo, foi obrigado a mostrar os documentos que ele não tinha. De acordo com os representantes do BADC, o brasileiro foi alvo por causa de seu perfil racial e esteve perto de ser deportado.

Outras notícias

  • Governo federal cria linha telefônica para auxiliar imigrantes presos injustamente.
  • Pesquisa mostra que deportação de indocumentados custaria ao país 285 bilhões de dólares.
  • Expansão do programa Comunidades Seguras preocupa imigrantes.
  • Travessia ilegal pela fronteira entre EUA e México tem movimento fraco no ano e faz com que ‘coiotes’ busquem outras atividades.
  • Jornal New York Times critica lei de deportações.
  • Lei anti-imigrante custa mais de 11 bilhões de dólares ao Alabama.
Compartilhar Post:

Baixe nosso aplicativo

Exit mobile version