O presidente russo, Vladimir Putin, criticou nesta quinta-feira os planos dos Estados Unidos de posicionar seu “escudo antimísseis” na Europa do Leste, perto das fronteiras da Rússia, e prometeu uma resposta “assimétrica” e “muito eficaz”.
Putin qualificou como “inconsistentes” os argumentos de Washington de que o objetivo de seu sistema nacional de defesa antimísseis (NMD, na sigla em inglês) é interceptar possíveis lançamentos de foguetes balísticos pelo regime iraniano ou grupos terroristas.
“O Irã nem sequer tem mísseis balísticos, só de médio alcance” e a trajetória de vôo dos foguetes que pode lançar se conhece muito bem, disse Putin durante sua tradicional entrevista coletiva anual no Kremlin à mídia russa e estrangeira.
Putin descartou que os EUA posicionem seu “guarda-chuvas nuclear” na Europa do Leste em resposta ao “crescente poderio militar da Rússia”, ao assinalar que Washington havia anunciado esses planos há muito tempo.
O presidente, no entanto, ressaltou que a Rússia “reforça sua segurança exterior” e que suas respostas serão “muito eficazes”, em alusão ao desenvolvimento de novos armamentos estratégicos que o escudo antimísseis americano não poderá interceptar.
“Já dispomos de sistemas capazes de superar a defesa antimísseis, mas não nos limitamos a isso e trabalhamos em armamentos de nova geração, contra os quais os elementos de defesa antimísseis que são criados e posicionados nada poderão fazer”, assinalou.
Putin explicou que o NMD é criado para interceptar e abater os mísseis balísticos tradicionais, enquanto a Rússia desenvolve armamentos estratégicos que “operarão a velocidades hipersônicas e variarão sua trajetória em altitude e vetor de vôo”.
“O sistema de defesa antimísseis é inútil neste caso”, afirmou o líder russo.
Irã
Ainda hoje, Putin defendeu o direito do Irã de desenvolver tecnologia nuclear, mas pediu ao regime de Teerã que dê fim às suspeitas da comunidade internacional.
“O povo iraniano tem direito a ter acesso às tecnologias mais avançadas, incluindo a nuclear”, afirmou Putin. O presidente pediu a Teerã para “desbloquear a relação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e dissipar qualquer suspeita da comunidade internacional sobre os supostos planos do Irã de fabricar armas nucleares”.
O chefe do Kremlin insistiu na “necessidade de encontrar uma variante que permita garantir plenamente o acesso do Irã e, por outro lado, elimine as inquietações da comunidade internacional”.
Putin disse que esta variante “existe” e aludiu à proposta do diretor-geral da AIEA, Mohamed El Baradei, de suspender a aplicação da resolução 1737 da ONU sobre o Irã em troca do fim das atividades de enriquecimento de urânio.
A resolução exige que o Irã suspenda essas atividades em um prazo de 60 dias e estabelece que, caso contrário, a ONU proibiria os Estados-membros a fornecer material e tecnologias que Teerã possa utilizar para seus programas nuclear e de mísseis.
“Acho que todos deveríamos trabalhar juntos nesta direção”, disse.
Putin apontou também que a Rússia deve levar adiante o projeto da usina nuclear de Bushehr, que o Irã constrói com a assessoria de engenheiros russos às margens do Golfo Pérsico.
Além disso, Putin defendeu a cooperação militar com o regime islâmico, apesar da oposição dos Estados Unidos e de Israel, após o fornecimento ao Irã, este ano, de 29 sistemas russos de defesa antiaérea Tor-M1.