DA REDAÇÃO – Contrariando todas as previsões, expectativas e pesquisas eleitorais que davam como quase certa a eleição de sua oponente Hillary Clinton, o empresário e celebridade televisiva Donald Trump, de 70 anos, toma posse nesta sexta-feira (20), em Washington, D.C., como quadragésimo-quinto presidente dos Estados Unidos da América.
Sem qualquer antecedente administrativo ou político, Trump derrotou a Democrata Hillary e políticos Republicanos tradicionais, como Jeb Bush, Ted Cruz e John Kasich, graças a um polêmico discurso de campanha, calcado no lema “Faça a América Grande Novamente” (Make America Great Again) e em promessas radicais, como construir um muro na fronteira americana com o México, deportar todos os imigrantes ilegais no país e revogar todas as medidas administrativas do governo de seu antecessor, Barack Obama, em especial o projeto de reforma do sistema de saúde Affordable Care Act, conhecido como Obamacare. O discurso conquistou a base eleitoral rural e trabalhadora de estados-chave e, de acordo com o sistema eleitoral americano, que conta os votos de delegados de um colégio eleitoral em vez do total do voto popular no país, Trump chegou à Casa Branca, mesmo com quase três milhões de votos a menos que sua rival Democrata.
O que esperar do governo Trump
Trump assume o governo em meio à uma grande expectativa e cercado de ceticismo. Se ele cumprir todas as promessas, o governo Trump deve ser bastante polêmico. Ele jura que o governo do México pagará pelo muro na fronteira, expulsará todos imigrantes ilegais que tenham problemas legais, combaterá o acordo de limitação de emissão de poluentes. Enfim, será um governo extremamente combatido e acirrará os ânimos entre apoiadores e opositores de Donald Trump.
O presidente eleito deve ter uma relação conturbada com a imprensa. A maioria dos órgãos de comunicação promete fazer uma oposição ferrenha à Trump e à sua equipe de governo. Afinal, durante a campanha ele disparou tweetes que logo ganhavam repercussão na mídia social. Sempre polêmicas, as mensagens eram provocativas e normalmente atacavam as pessoas que ousassem discordar de seus pontos de vista.
Ao agir assim, ele conquistou o apoio de uma faixa do eleitorado que tem a imprensa como agente do mal e inimiga de seus valores. Em contrapartida, angariou antipatia de grupos e setores mais alinhados com as causas sociais. A tática deu certo e ele conseguiu os votos necessários para se eleger, uma vez que venceu a maioria dos chamados swing states – ou seja, aqueles estados que em algumas eleições pendem para os democratas e em outras ficam com os republicanos. Alguns deles são clássicos como Iowa, Ohio e Flórida, onde ele venceu por uma pequena margem de votos.
A vitória surpreendeu o próprio Trump. tanto que ele nem tinha formado ainda um possível governo de transição. Com oposição até mesmo dentro do Partido Republicano, ele escolheu algumas figuras polêmicas para formar seu governo, entre eles, Rex Tillerson, CEO da Exxon, empresa petrolífera que tem interesses em várias unidades produtoras de petróleo, inclusive na Rússia, país que tem no comando Vladimir Putin, o novo czar russo que entrou em rota de colisão com Barack Obama. O clima de tensão chegou ao ápice com a expulsão de diplomatas e agentes de espionagem russos em função dos ciberataques originados da Rússia e apoiados por Putin. Estes ataques dinamitaram a candidatura de Hillary Clinton e Trump vem dando mostras de que sempre foi favorável à eleição de Donald Trump, tendo recebido muito bem a indicação de Tillerson, que inclusive foi agraciado com uma medalha de honra concedida pelo próprio governante russo às pessoas que são amigas do país.
Democratas estão sabatinando os indicados de Trump
Os secretários indicados por Donald Trump para compor sua equipe de governo estão submetendo-se à uma sabatina no Senado, onde precisam responder às perguntas dos senadores sobre o papel que desempenharão no governo, como controlarão o orçamento de sua pasta, e informar os planos e as ações a serem tomadas.
Ao contrário de seus antecessores, os indicados por Trump não estão sendo aprovados com facilidade. Só para comparar. Antes de tomarem posse, George W. Bush em 2001 e Barack Obama em 2009 já haviam recebido o comunicado de que sete de seus auxiliares tinham sido aprovados. No caso de Trump, nenhum deles ainda havia sido aprovado.
Por ser uma figura que possui intimidade com as câmeras de TV, Trump tem facilidade em se comunicar com o povão. Entretanto, uma coisa é dirigir um complexo empresarial, outra, bem diferente, é comandar a mais poderosa nação do planeta. Se o desempenho dele será bom ou ruim, a resposta só será conhecida após quatro anos.
Carreira como empreendedor imobiliário
Donald John Trump nasceu e cresceu no Queens, em New York, em 1946, quarto filho de uma próspera família de ascendência alemã. Formou-se em economia em 1968 e três anos depois assumiu os negócios da empresa familiar, Elizabeth Trump & Son – batizada em homenagem à avó paterna -, que atuava no ramo imobiliário, principalmente alugando imóveis de classe média no Brooklyn, Queens e Staten Island. Mudou o nome da companhia para Trump Organization e diversificou os negócios da empresa, ampliando-a para outros ramos, como cassinos, hotéis, restaurantes. É casado com a ex-modelo Melania Trump, nascida na Eslovênia e naturalizada americana, com quem tem um filho de dez anos. Trump tem mais quatro filhos de outros dois casamentos. Ganhou projeção nacional depois de apresentar de 2003 a 2015 o programa de TV The Apprentice, da rede NBC, onde um grupo de pessoas competia por um alto cargo administrativo nas organizações Trump. A frase “you’re fired!” (está demitido!) era o bordão do programa, repetido a cada fracasso de algum participante eliminado. Em fevereiro de 2015, o empresário decidiu não renovar o contrato com a NBC por causa da possibilidade de uma candidatura à presidência.
Em junho de 2015, Trump anunciou oficialmente sua candidatura à presidência pelo Partido Republicano. Em discurso, ressaltou que focaria em problemas domésticos, como imigração ilegal, êxodo de empregos, dívida interna e terrorismo, e anunciou o lema “Make America Great Again”. Começou uma campanha onde o principal meio de comunicação com o eleitorado foram mensagens curtas através da rede social Twitter, que chegavam direto aos seus seguidores. Na campanha, Trump acusou a mídia tradicional de distorcer suas palavras, mas várias de suas declarações não correspondiam aos fatos. Por causa de seu status de celebridade, entretanto, o empresário recebeu uma intensa exposição pública que ajudou a alvancar a sua candidatura. Numa surpreendente arrancada, conseguiu a vitória nas primárias Republicanas e conquistou a vaga para disputar a presidência pelo Partido nas eleições de 2016 contra a rival Democrata Hillary Clinton.