Lá atrás já era previsto que o governo Trump não chegaria ao meio do ano. Ele conseguiu, em pouco mais de cem dias de governo, cometer uma gafe monstruosa para cada dia e atitudes irresponsáveis durante a campanha voltam agora para morder feio. Trump não leva a sério o que faz e não tem noção da dimensão do impacto que seu cargo tem na vida das pessoas. É justamente por essa falta de maturidade que o impeachment vem se tornando cada vez mais palpável. Não por opção mas pela necessidade de um sistema que precisa se manter intacto e operante. A permanência dele no poder representa a ruptura do contrato social e a desmoralização das instituições.
Em vista do andamento das coisas, renunciar agora ainda deixa aberta a possibilidade de restaurar sua parca credibilidade no futuro. Insistir no erro de continuar pode levar a consequências sinistras como um indiciamento por traição, por exemplo. Importante neste momento, saber por quem os sinos dobram e está claro que não dobram por ele.
No Brasil, aonde o contrato social já foi rasgado e esfarelado, junto com a constituição, há bastante tempo, começam a perceber que o rei está nu. A chapa está quente e não é porque conseguiram finalmente provar que o famigerado triplex é de Lula mas porque finalmente surgiu a delação bem feita, aquela que vem com provas materiais irrefutáveis, com nome, sobrenome e endereço. Algo inédito, que reduz todas as delações até aqui ao nível de fofoca de comadre. O empresário Joesley Batista, dono da Friboi e tido como parente de Lula (está se saindo melhor do que parente), abre o bico, antes mesmo de ser indiciado por qualquer coisa, e oferece um arsenal de provas que incriminam e enlameiam personagens tido até aqui como intocáveis. São vídeos, áudios, documentos, recibos e provavelmente até digitais, que apontam o rastro de propinas pagas ao presidente golpista, Temer, e ao pequeno príncipe da nobreza política, Aécio.
A bomba explodiu na tarde de quarta e seu efeito pode culminar na renúncia de Temer e prisão de Aécio a qualquer momento. Bolsas caíram, o dólar disparou e se amanhã o juiz Moro der sentença contra Lula pela posse do triplexinho, não vai render nem rodapé de notinha de jornal.
As duas instâncias apontam para mudanças radicais, tanto nos EUA quanto no Brasil. Apesar de uma onda populista e conservadora haver assolado as Américas, estes fatos demonstram que a sociedade insiste na manutenção do contrato social. A humanidade não avançou ao ponto de valorizar o que é politicamente correto à toa. Reconhecer o aquecimento global, liberdades de orientação sexual, religiosa, ideológica e respeito pela vida são conquistas adquiridas que não podem ser negadas a pedido de uma minoria. Não existe mais lugar no undo para os déspotas, oligarquias e todos aqueles que insistem em representar a vontade de todos. E por iso, Trump e Temer, não perguntem por quem os sinos dobram, eles dobram por vocês.