A Polícia Federal brasileira continua à procura de Heli Moura de Paula, ex-vice-prefeito e candidato derrotado à Prefeitura de Tarumirim (Minas Gerais) em 2020. Ele é um dos supostos chefes de um esquema de tráfico humano de brasileiros para os Estados Unidos. O outro líder da quadrilha, Vanildo Moura de Paula, irmão de Heli, está preso e os dois são acusados de já terem enviado mais de 1.200 pessoas – a maioria delas da região do Vale do Aço mineiro – para a travessia ilegal pela fronteira sul norte-americana. As autoridades acreditam que eles são os responsáveis pela morte do produtor rural Pedro Alexandrino Filho, que há dois anos afogou-se no Rio Grande.
“Meu irmão avisou que não sabia nadar, mas foi informado que o caminho não era difícil e que não haveria a necessidade de atravessar o rio”, afirmou Angelita Gonçalves, irmã de Pedro Alexandrino. O mineiro de 34 anos que morreu na fronteira em 2020 também era de Tarumirim e, dias antes da tragédia, enviou um áudio para a família referindo-se a um dos acusados ao informar que estava sendo ajudado na tentativa de entrada ilegal nos EUA. “Eu quero justiça”, disse Angelita.
De acordo com relatório da Polícia Federal, os dois irmãos acusados de liderar a organização criminosa mantêm o esquema há vários anos e que chegavam a cobrar até 20 mil dólares pelo serviço. Eles teriam enviado cerca de 1.200 indocumentados para a travessia ilegal pelo México, num pacote que envolvia passagens aéreas para o México, o transporte até a fronteira, o apoio de coiotes locais e até a propina cobrada pela polícia de imigração mexicana.
Heli tem 53 anos e foi vice-prefeito eleito de Tarumirim em 2012, na chapa de Dalva Maria de Oliveira (do PT). Os dois foram acusados à época de realizar captação ilícita de votos. Em 2020, ele foi o candidato derrotado à Prefeitura (Partido Avante) ao obter cerca de 34% dos votos. Heli e o irmão são donos de mais de três mil cabeças de gado e várias propriedades rurais – as autoridades acreditam que o patrimônio foi usado para lavagem de dinheiro.
Figura bastante conhecida no Vale do Aço, Heli Moura emprestava uma certa credibilidade ao negócio. O delegado Daniel Ottoni, que atua na área de Governador Valadares, ressalta que, apesar de criminosa, a prática é socialmente aceita naquela região mineira e os acertos são feitos abertamente. Com a prisão de Vanildo, no final de junho, que estava foragido há quase dois anos, a PF acredita que está fechando o cerco a Heli. Os policiais acham que ele não vai se entregar e, por isso, vão intensificar as buscas pelo acusado.