A polícia portuguesa impediu que um grupo de cerca de 30 dentistas brasileiros realizasse um protesto em frente ao hotel em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficará hospedado em Lisboa.
O grupo, que foi impedido de abrir uma faixa no local antes da chegada do presidente, pede o reconhecimento do diploma de odontologia brasileiro.
Lula está em Lisboa para participar da cúpula entre União Européia (UE) e Brasil nesta quarta-feira.
À tarde, a expectativa era de que o presidente enfrentasse outra manifestação, da associação de imigrantes Casa do Brasil –em frente do local em que ele se reunirá com representantes da União Européia– que pede a regularização da situação dos ilegais, entre outras reivindicações.
Os dentistas reclamam por terem chegado a Portugal depois do acordo de 1998, que tentou solucionar o caso dos dentistas que já estavam no país, e tiveram de obter equivalência nas faculdades portuguesas.
“Em 2003 nós fizemos um exame na faculdade da Universidade de Lisboa. Eram 250 questões para serem respondidas em 240 minutos”, conta o dentista Roberto Barcelos.
Dentista preso
Há quatro semanas, outro caso aumentou a revolta dos brasileiros. No dia 5 de junho, o dentista Erasto Martins Fonseca, de Piracicaba e formado em Taubaté, que mora em Portugal há oito anos, foi preso em seu consultório e passou a noite na cadeia até ser ouvido por uma juíza.
“Fui acusado de exercício ilegal de medicina e de usurpação de funções”, conta Fonseca.
Proibido de atender os seus pacientes, ele tem que se apresentar uma vez por semana em uma delegacia de polícia até o processo ir a julgamento.
“Eles disseram que foi uma denúncia anônima”.
Barcelos conta que são cerca de cem os dentistas nessa situação e espera reunir 60 deles na porta do hotel.
Uma das queixas é que o Brasil dá um tratamento melhor aos profissionais portugueses: “Lá eles recebem uma autorização temporária para trabalhar dos conselhos regionais de odontologia enquanto tratam da equivalência e em Portugal nós não podemos trabalhar”.
Para poderem sobreviver, muitos tem que trabalhar para outros dentistas, em situações de exploração.
“Há colegas que fazem trabalhos que custam aos pacientes 360 a 400 euros e eles recebem 6 a 10 euros”.
Ele reclama também que há dentistas brasileiros que exploram os que não têm o reconhecimento do diploma.
Protesto europeu
Perto da reunião de cúpula, o protesto da Casa do Brasil é dirigido a todos os líderes europeus.
Querem que sejam discutidos quatro pontos na reunião com o presidente brasileiro: a legalização dos trabalhadores imigrantes em situação irregular; a realização de acordos para usufruírem da seguridade social; a livre circulação dos imigrantes no espaço europeu e o reconhecimento dos diplomas.
“A Europa precisa dos imigrantes, que são parte da economia européia. Sustentam a seguridade social, permitem a manutenção do nível de vida europeu e são muito importantes para o equilíbrio demográfico da Europa”, afirma o presidente da Casa do Brasil, Gustavo Behr.
Na avaliação de Behr, atualmente encontram-se em Portugal cerca de 120 mil brasileiros, dos quais um terço não estão legalizados.
Ele acredita que de Portugal as remessas para o Brasil fiquem entre US$ 300 e US$ 400 milhões anuais, de um total de US$ 8 bilhões enviados anualmente pelos emigrantes brasileiros no exterior.