Um amigo era o chefe dos comissários de bordo de uma companhia aérea na Europa nos anos 80. Em uma de suas viagens entre NY e Zurique, o principal cliente à época quis enviar seu cachorro para a esposa na Europa – e pagou um bilhete de primeira classe para o bicho. Cada um faz o que quiser com seu dinheiro, mas até para os padrões da empresa isso soou meio exagerado – falamos de algo como dez mil dólares nos dias de hoje. Anyway, como se tratava de um ótimo cliente e estava pagando pelo assento, concordaram em levar o animal mesmo desacompanhado.
Provavelmente nos anos 80 não devem ter exigido o tanto de documentações que pedem hoje em dia. Por exemplo, minha filha quer trazer seus dois gatos para a Itália – passou por um milhão de exigências burocráticas e sanitárias para conseguir a autorização da companhia aérea e das autoridades brasileiras e italianas. Ela vai entuchar os dois gatos pequenos em uma caixa de transporte e irá levar na cabine em seus pés. A veterinária aconselhou dar algum medicamento para relaxar os bichos, mas isso é um mico que eu nunca pagaria em uma viagem – se as pragas acordarem, será um pé nas bolsas dos outros passageiros (escrevi “bolsas” porque a editora disse que estou escrevendo muitos palavrões nos textos).
Teve que reservar o espaço com um mês de antecedência, já que só podem viajar poucos animais por voo, sem falar que ela terá que pagar (sozinha) as taxas. Eu tinha dado uma solução muito mais prática, era só arrumar outros dois gatos pretos iguais aqui na Itália, além de sair mais barato eles já falariam a língua local! (ok, ok… sou insensível…)
Voltando para o voo do meu amigo. No meio da viagem, uma das aeromoças foi fazer carinho no cachorrinho, que ficou quieto o tempo todo. Para seu horror, ele não se mexia! Ela chamou o superior e ao abrirem a caixa constataram que estava morto!! Pensaram “Vixe, e agora? Um dos melhores clientes da empresa nos confiou seu animal, pagou primeira classe e chegará morto!”
Não damos conta, mas esses profissionais são preparados para todo tipo de emergência e conseguem improvisar nas situações mais difíceis. Meu amigo contatou a diretoria pelo rádio e eles pediram uma descrição detalhada do cachorro, modelo, ano, etc. (é, não entendo nada disso). Por sorte encontraram um igualzinho, mesmo tamanho e cor e levaram ao aeroporto no dia da chegada. Esperaram todos saírem do avião e fizeram a troca, rezando para que a dona não percebesse. Na hora que saíram com a caixa do corredor do gate, a dona viu o cachorrinho e gritou:
– MEU DEUS! MILAGRE!!!!
Todos se entreolharam com espanto, ao que a mulher exclama:
– Meu Totó (nome de cachorro inventado e patenteado por mim, não usar) morreu em New York e meu marido me enviou para ser enterrado aqui! Que milagre divino!!
Imagino que o cachorro deva ter agido com indiferença e provavelmente ela pensou que ao “ressuscitar” mudou um pouco a personalidade – tipo o filme Pet Sematary de Stephen King…