Clientes da Mundial Moving reclamam do atraso e dono alega que problema é excesso de rigor no Porto de Santos
Um pesadelo que parece não ter fim assim pode ser definida a saga dos clientes do sul da Flórida que enviam suas caixas para o Brasil. Depois dos problemas recentes enfrentados por consumidores lesados pela Nacional Moving, Adonai Express e Express Moving, agora é a vez da Mundial Moving ficar no olho do furacão: brasileiros estiveram na porta do galpão da empresa, em Pompano Beach, para cobrar uma explicação pelo atraso na entrega das mercadorias, que em alguns casos passa de dois meses.
Queremos ao menos uma explicação sobre o que está acontecendo, exigiu a empresária Vera Ávila, que mandou uma caixa em março deste ano para Goiânia e não tem notícia do paradeiro das roupas e eletrodomésticos que deveriam chegar ao destino no início de maio. Ela está tentando reunir outros clientes na mesma situação para prestar queixa conjunta na Corte de Broward contra a Mundial.
O furgão da empresa, ainda estacionado na porta do galpão, foi pichado por consumidores lesados. É um absurdo que a história esteja se repetindo, reclamou outra brasileira, chorando, ao lembrar que mandou itens pessoais em oito caixas para o Brasil, inclusive parte de sua herança. São coisas sem muito valor econômico, mas que valem demais sentimentalmente, lamentou.
Outro cliente, José Alexandre, disse que tem recebido informações desencontradas dos funcionários da Mundial desde que começou o seu drama, há duas semanas. Percebi que algo estava errado quando alguém me disse que minhas caixas já estavam no Brasil e outro garantiu que tudo continuava no galpão da empresa, disse Alexandre, que mandou suas ferramentas de trabalho para o Brasil, usando parte do dinheiro da venda de seu carro.
Para tentar esclarecer o paradeiro das mercadorias, o proprietário da Mundial, Thiago Bayde, que está no Brasil, informa que dois contêineres estão bloqueados no Porto de Santos. “De uns dois meses para cá a situação não está muito boa. Estamos aguardando a definição do pessoal da Receita Federal, pois o problema não é apenas com a Mundial”, disse Thiago. Ele admitiu que o depósito no número 2570 da Powerline Road já está fechado e todas as caixas já estão no Brasil. “Não tive condições de manter a empresa aberta, pagando despesas de aluguel e funcionários sem saber o que vai acontecer”, explicou.
Thiago garantiu que está tentando manter contato com todos os cerca de 50 clientes que têm suas mercadorias retidas com a Mundial e promete que em breve terá novidades. “Sabemos que a comunidade está traumatizada e muitos brasileiros não entendem o que está realmente acontecendo”, disse, enigmático, o empresário.
Denúncia de irregularidades
A resposta pode estar numa matéria publicada recentemente num jornal de São Paulo, denunciando que muitas empresas brasileiras sediadas nos Estados Unidos cometeram irregularidades transportando produtos novos como se fossem itens de mudança, sem pagamento de tributos. De acordo com a lei, apenas quem viveu mais de um ano nos EUA tem direito a enviar mudanças sem imposto. Para quem não está nessa situação, o caminho é um processo de bagagem desacompanhada, sujeito a tributação.
Por uma taxa de serviço que varia de 150 dólares a 350 dólares, empresas simulam que computadores, eletroeletrônicos, roupas e brinquedos comprados por turistas na América ou até mesmo pela internet, por quem está no Brasil são artigos de uso pessoal que fazem parte de mudança de pessoas que residiam fora e estão retornando ao país, denunciou o jornal. Desde então, os fiscais da Receita estão fazendo pente fino nas mercadorias. Há rumores de que as autoridades encontraram contâineres com jet-ski, motocicletas e até automóveis importados que seriam jogados no mercado brasileiro sem registro.
Segundo Sergio de Oliveira, da SO Express, as caixas enviadas pela sua empresa estão chegando normalmente. Antes de enviar as caixas fazemos questão de fazer uma vistoria minuciosa. Se há algo irregular, a mercadoria fica apreendida em nosso galpão e o cliente tem até três meses para retirá-la, mediante pagamento de multa, conta Sergio. Do mesmo modo, Francisco Rodrigues, da BR Courier, que tem 15 anos de experiência no mercado, ressalta que a Receita tem dificultado um pouco a liberação dos contâineres, mas todas as mercadorias estão sendo entregues com um pouco de atraso, pois não têm irregularidades. Perdemos o negócio, mas não arriscamos o nosso nome com remessas duvidosas, disse Francisco.