Não há estatísticas ou números oficiais que apontem que o número de brasileiros que migraram ou estão tentando migrar para os Estados Unidos recentemente tenha aumentado. Há uma percepção do aumento do interesse dos brasileiros em se mudar, que pode ser verificado nas redes sociais, pelo que é retratado pela mídia e até mesmo pelo grande número de e-mails que a redação do AcheiUSA recebe todos os dias com pessoas querendo se mudar do Brasil. “É possível conseguir facilmente um visto de trabalho? ”, “Quero me mudar com minha família, mas não quero ir ilegalmente. O que faço”, são perguntas frequentes.
Para entender um pouco mais sobre esse processo migratório, em especial na região leste de Minas Gerais, região conhecida pelo grande número de migrantes que deixaram suas casas nos anos 80 e 90 rumo aos EUA, o AcheiUSA conversou com a especialista e professora Sueli Siqueira, da Univale. Ela estuda e acompanha há mais de 30 anos os fenômenos da migração brasileira.
AcheiUSA – É possível afirmar que, em função da crise que o Brasil enfrenta, aumentou o número de valadarenses se mudando para os Estados Unidos?
Sueli Siqueira – Não há nenhum número que comprove isso, mas vemos sim um movimento de pessoas que perderam seu trabalho e que tenham algum tipo de vínculo com os Estados Unidos, querendo voltar à América. Mas o perfil desse imigrante mudou muito. Nos anos 80, quando houve uma ‘revoada’ de imigrantes de Governador Valadares para os EUA, as pessoas iam porque ganhavam um salário mínimo por mês aqui no Brasil e, na época, ganhavam um salário mínimo por dia trabalhando nos Estados Unidos. Isso pode até existir hoje, mas é mais raro. Até porque hoje elas ganham mais que um salário mínimo e a economia americana mudou, você já não faz tanto dinheiro como fazia antigamente. Isso quer dizer que quem quer se mudar, já teve algum tipo de contato com o país. Você já não vê mais as pessoas saindo para enfrentar outro país sem qualquer referência para tentar o “sonho americano”. Ao contrário da década de 80, quando os migrantes passavam pela fronteira com o México, hoje o brasileiro que vai para os EUA, prefere ir com o visto. Hoje é muito mais fácil conseguir um visto do que era no passado.
AcheiUSA – Qual a diferença entre o imigrante da década de 80 para o imigrante de agora?
Sueli Siqueira – O Brasil das décadas de 80 e 90 não é o mesmo Brasil de agora. A crise existe sim, mas o poder de compra do brasileiro melhorou, as condições de vida e o acesso também melhoraram. Antigamente, você não via voos lotados de turistas para Miami e Nova York como você ainda vê hoje. Governador Valadares é uma cidade imigrante por essência, então, as pessoas sempre irão migrar. Mas hoje eles querem migrar com mais segurança do que no passado.
Hoje mesmo encontrei um trabalhador que construía casas para o programa “Minas Casa, Minha Vida” e o programa foi paralisado na cidade. Ele, que já trabalhou com pintura nos EUA, quer voltar porque não acha emprego aqui. Ele já tem contatos e sabe como funciona, como muita gente que mora aqui.
“Quero ficar aqui”
O valadarense Alex chegou com visto de turista a Boca Raton (FL) há três meses. Alex já tinha vindo passear, então, resolveu “tentar a vida”. “Eu tinha emprego no Brasil, mas quis juntar mais dinheiro. Aqui a vida é bem melhor, as coisas funcionam. Quero regularizar minha situação imigratória porque não quero ficar preso nos Estados Unidos. Se eu conseguir o visto, pretendo ficar”, disse. Hoje ele trabalha como pintor e ajuda na igreja que frequenta.
De acordo com a advogada especializada em imigração Renata Castro, a questão imigratória é a principal barreira, já que é necessária a permissão para trabalhar (work permit) e com visto de turista você não pode trabalhar de forma alguma. A advogada ressalta que há uma crença popular que desde que a pessoa entre com um visto válido, e esteja dentro do período de permanência, esse indivíduo se encontra em status legal, o que é incorreto. “Portadores do visto B-1/B-2 que trabalham nos Estados Unidos estão cometendo uma grave violação de leis federais, já que a permanência dada no momento da entrada nos Estados Unidos foi para fins específicos, ou seja, turismo, e não para trabalho”, afirma Renata. Ela expressou preocupação com o número de pessoas que estão trilhando esse caminho em virtude “de informações erradas vindas de amigos, parentes, ou até mesmo de grupos de desconhecidos no Facebook”.