Parlamentares partidários de que os Estados Unidos atenuem suas sanções contra Cuba viajarão na sexta-feira a Havana para avaliar a situação desde que o líder Fidel Castro transferiu o poder a seu irmão Raúl, no final de julho, devido a problemas de saúde.
A delegação parlamentar, a maior do gênero já enviada à Cuba comunista, pediu um encontro com Raúl, que há duas semanas se disse aberto a conversar com Washington.
O governo Bush, contrário a uma “sucessão dinástica” na ilha, rejeita participar de negociações sem que antes haja uma abertura democrática.
Observadores dizem que o eventual encontro entre os parlamentares e Raúl Castro poderia significar um ponto de guinada numa relação hostil que remonta à Guerra Fria.
Dez deputados republicanos e democratas passarão três dias em Cuba justamente quando se especula que Fidel, de 80 anos e no poder desde 1959, está à beira da morte.
“Eles estão interessados em conversar com autoridades cubanas sobre a situação política e econômica desde a transferência de poder ocorrida em 31 de julho”, disse uma fonte da delegação, chefiada pelo republicano Jeff Flake e pelo democrata William Delahunt.
Os dois prometeram se empenhar em rever no ano que vem no Congresso uma proibição de viagens e um limite de remessas financeiras dos EUA para Cuba. Eles acham que a aproximação e o comércio com a ilha são mais eficientes que sanções para incentivar mudanças políticas.
O secretário-assistente de Estado Tom Shannon, responsável por assuntos latino-americanos, criticou na quarta-feira o que disse ser uma maior repressão a dissidentes desde a interinidade de Raúl.
“O regime na verdade ficou mais duro e mais ortodoxo, e não está em posição de sinalizar que direção vai tomar após Fidel”, afirmou.
Uma rara pesquisa Gallup divulgada na quinta-feira mostra que os cubanos estão divididos sobre o comunismo e frustrados com a falta de reformas e oportunidades econômicas.
Só 25 por cento dos cubanos ouvidos pela Gallup Organization se disseram satisfeitos com as escolhas que podem fazer na vida, a cifra mais baixa entre 100 países incluídos no levantamento.
Cuba respondeu na quinta-feira aos comentários de Shannon criticando o fato de o governo Bush “desperdiçar” milhões de dólares para financiar dissidentes que Havana qualifica como “mercenários”.
“O governo e o povo vão garantir o total fracasso desses planos para incentivar a subversão e a contra-revolução no nosso país”, disse editorial do jornal Granma, órgão oficial do Partido Comunista Cubano.
A Seção de Interesses dos EUA em Havana (espécie de embaixada) distribui rádios de ondas-curtas, livros, materiais de escrita e acesso à Internet, mas nega fornecer dinheiro.
O Granma citou um relatório do Escritório Geral de Contabilidade do Congresso dos EUA, segundo o qual parte dos 73,6 milhões de dólares destinados a financiar dissidentes e transmissões para Cuba entre 1996 e 2005 foram na verdade usados na compra de roupas, chocolates finos, videogames e livros de Harry Potter.
A auditoria foi encomendada justamente pelos deputados Flake e Delaunt, que chefiam a atual delegação. “Com a iminente saída de Fidel, a recente vitória democrata na Câmara e no Senado e o governo Bush chegando ao fim, ninguém pode duvidar que a política das relações EUA-Cuba está à beira de uma mudança dramática”, disse Dan Erikson, da entidade Diálogo Inter-Americano.