Um sinal de que empresas aéreas estão mal das pernas, é quando começam a tratar mal seus passageiros. Foi assim com a Pan Am – eu fazia parte de seu programa de milhagem e aproveitei bem até a última milha antes que a empresa quebrasse. No fim dava para sentir a irritação das aeromoças – só faltava elas jogarem a comida em nossa cara. Quando meu irmão e eu percebemos que os negócios deles estavam ruins, resgatamos todos nossos pontos e fomos procurar outra companhia aérea. Testamos algumas, e em uma de nossas primeiras viagens pela American Airlines nos inscrevemos no programa de milhagem deles. O que nos cativou logo de cara, foi um upgrade que nos deram assim no nada! Quem viaja muito sabe a diferença de viajar lá na frente…. desde então entre meus dois irmãos e eu temos uns 12 milhões de milhas voadas com eles desde 1992.
Para quem não conhece esses programas, eles oferecem várias regalias. Na American se começava com o cartão básico, que não oferece grandes coisas, mas se pode juntar milhas para atingir o status de Gold, com vinte e cinco mil milhas voadas durante o ano. O Gold dava prioridade de embarque logo após as classes Executiva e Primeira, e dos cartões Platinum e Executive Platinum. Não parece grande coisa, mas em uma fila com centenas de pessoas isso já faz diferença. O status seguinte é o Platinum e era necessário voar cinquenta mil milhas no ano, e finalmente o Executive Platinum, com cem mil milhas voadas. Ao se atingir o Platinum, eles davam 4 upgrades para serem utilizados em viagens internacionais (ou seja, duas viagens com ida e volta). O Executive Platinum dava direito a oito desses passes e-VIP, quatro viagens com conforto no ano! Nada mais justo, considerando-se o preço de passagens para se voar cem mil milhas no ano.
Ao se atingir um milhão de milhas, não se perdia o status Gold, mesmo se não fizesse nenhuma viagem no ano. Com dois milhões, o status de Platinum era permanente, o que é (era, sei lá se ainda vale) meu caso.
Faz algum tempo que meu irmão José e eu atingimos o Executive Platinum, já que estamos transferindo a empresa para a Itália e cada viagem dá um monte de milhas (tem que se passar por Miami ou NY) e atingir cem mil milhas nem tem sido tão difícil. Só que… a GANÂNCIA (ou burrice) da empresa estragou tudo isso. Começou no ano passado, cortaram os passes e-VIP pela metade – como se estivéssemos atrapalhando as suas vendas de classe Executiva. Escrevi uma mensagem questionando isso e me ligaram no mesmo dia da central deles, falei com a responsável da ouvidoria. Ela meio que gaguejou quando viu que eu estava irritado, e me ofereceu cinco mil milhas como “compensação”. Como sou educado, não disse à ela onde colocar essas cinco mil milhas (e nem sei se me deram, não conferi).
E agora, não basta voar cem mil milhas no ano para atingir o topo, há um mínimo de doze mil dólares a ser gasto em passagens/ano! Ora, não somos idiotas, ajustamos os períodos de nossas viagens de modo a não pagar as tarifas mais altas! E criaram dois status novos, o Platinum Pro e o Platinum Meia Boca (ok, é só Platinum) de forma que pessoas como eu que voaram o ano todo esperando atingir o Executive, se contente em chegar no Pro. Pois eu não me contento.
Desconfio que a American contratou um estrategista que secretamente trabalha para a concorrência, afinal que tipo de empresa TAPADA tira privilégios de seus clientes mais fieis? Tipo “não preciso te bajular para te manter fiel”. Claro… vamos começar a voar direto do Brasil para a Itália com outras companhias aéreas, sairá mais barato e provavelmente os aviões serão mais novos que os que fazem o trajeto Miami-Milão da American – uns 767 dos anos 90, umas lixeiras com asas. Nem espuma no assento tem mais.
Não tenho bola de cristal, mas antevejo em breve o mesmo fim que a Pan Am. Alguém sabe de algum outro programa de milhagem bom e que queira passageiros que viajem o ano todo?