Um morador do Kentucky de 87 anos sofreu um hematoma no cérebro em fevereiro deste ano e os médicos decidiram operar e remover o coágulo sanguíneo. A cirurgia foi comandada pelo neurologista Ajmal Zemmar, da Universidade de Louisville, que falou que o paciente estava se recuperando bem e até conversando. Mas no terceiro dia pós-operação, ele começou a ter convulsões, uma atrás da outra, e os profissionais iniciaram um eletroencefalograma (EEG) para detectar anormalidades nas ondas cerebrais.
Segundo Zemmar, as convulsões iam e vinham. Subitamente, o homem sofreu uma parada cardíaca e morreu, deixando os cientistas com um raro registro de dados que ligam a vida ao momento do último suspiro. Ajmal Zemmar organizou um estudo sobre o assunto que foi publicado pela revista científica Discovery Magazine na terça-feira, 12 de abril. A pesquisa informou que foram medidos 900 segundos de atividade cerebral na hora da morte. Mas os pesquisadores estabeleceram uma investigação específica nos 30 segundos antes e 30 segundos depois que o coração parou de bater.
“Vimos mudanças intensas em um tipo de oscilação neural chamada gama, mas também em outras, como oscilações delta, teta, alfa e beta”, declarou Zemmar. Todas as ondas cerebrais mapeadas estão envolvidos em funções altamente cognitivas, como concentração, sonho, meditação, recuperação de memória, processamento de informações e percepção consciente, assim como aquelas associadas a flashbacks de memória. Os estudiosos consideram que, antes de morrermos, o cérebro pode reproduzir uma última lembrança de eventos importantes da vida. Entretanto, uma conclusão exata não pode ser tirada de um estudo com apenas uma pessoa, e o fato do paciente em questão ser epiléptico, com danos cerebrais, complica as coisas, conforme explicou o especialista.
Em 2013, um estudo feito por um grupo de pesquisadores americanos em cobaias também apontou a teoria de que a vida passa diante dos olhos. Especificamente, as oscilações gama dos ratos também aumentaram 30 segundos antes e depois do óbito, acompanhado de uma explosão de atividade cerebral e hiperconsciência. Sensações semelhantes também foram relatadas por pessoas que alegam ter vivido experiência de quase morte.
“Como não podemos perguntar o que acontece com os pacientes quando eles morrem, ainda estamos procurando maneiras e projetando experimentos que possam nos dar uma resposta definitiva”, diz Zemmar. “Por exemplo, medir a atividade cerebral de um paciente que foi ressuscitado pode dar à equipe evidências mais diretas”, continuou. O médico reconhece que continua sendo um desafio, pois é impossível planejar a morte, que continua sendo um dos mistérios mais complexos para a ciência.