Um querido amigo de infância me ligou no fim de semana buscando informações sobre a pandemia do coronavirus. “É que você é um cara bem informado e deve saber o que está acontecendo de verdade”, disse ele.
Fiquei lisonjeado com a confiança, mesmo porque esse meu amigo, assim como muita gente hoje em dia, é um inocente propagador de lendas, boatos, fake news e teorias conspiratórias pelo WhatsApp, essa praga midiática do século 21.
Contei a ele tudo que eu sabia sobre o caso, na vaga esperança de que ele acreditasse em mim, já que, por experiência, sei que as pessoas ultimamente têm dado mais crédito ao falso enfeitado que ao nu verdadeiro. Ele me ouviu meio desconfiado, fez umas ponderações, comparou com as informações que ele tinha, considerou meus argumentos e no final pareceu aceitar os meus dados, não sei se por convencimento ou por amizade.
Meu poder de persuasão não anda muito eficaz nesses tempos de cólera virtual. Assim, fiquei aliviado com o resultado, mas não resisti a uma pequena provocação. Perguntei por que ele repassava tanta informação falsa pelo WhatsApp e por que nunca respondia ou se retratava quando às vezes eu desmascarava a farsa de volta.
“Eu só repasso o que recebo. Não sei se é verdade ou não, mas passo adiante para quem quiser conferir se é”, ele respondeu.
Está aí a chave para a febre de desinformação que se espalha como um coronavirus pelo mundo.
Uma pessoa com um telefone é uma mídia em si, com o poder de inventar uma notícia qualquer e passá-la adiante sem o menor compromisso com os fatos. Quem recebe essa informação, assim como o meu querido amigo, também não tem nenhum compromisso: se a informação agrada e parece interessante, passa adiante o caso e lava as mãos. O grau de disseminação é proporcional à gravidade da informação, o que faz com que as notícias falsas mais perigosas se espalhem mais rápido do que um vírus de gripe. Nesse processo, a informação falsa às vezes é avalizada pela procedência, com justificativas do tipo “quem me passou foi meu tio, que é uma pessoa super séria”.
Meu amigo repassa notícias “sem saber se são verdadeiras ou não”, mas quem as recebe pensa que ele não repassaria notícias falsas, porque também é “um cara super sério”, e isso acaba legitimando a informação. Está feito o estrago, é quase impossível desmentir a notícia, que a essa altura já pode ter tido graves consequências. Alguns recentes processos políticos no mundo são um bom exemplo do resultado da propagação de notícias falsas através de mídias sociais, como o WhatsApp. O pior de tudo é que não há um responsável pelas consequências. Ou seja, ninguém paga por elas, mas todos acabam pagando por eventuais estragos causados pela informação falsa.
Em todo caso, a ligação do meu amigo é uma esperança. Ela sugere que nas horas de perigo, nas horas mais graves, quando a informação correta é imprescindível para a nossa segurança e sobrevivência, as pessoas de bom senso ainda vão buscá-la onde tradicionalmente há um comprometimento com a verdade, onde há uma responsabilidade profissional com os fatos.
As mídias tradicionais e sérias a rigor não repassam notícias “sem saber se são verdadeiras ou não”. Primeiro, porque há uma responsabilidade profissional na apuração da informação. É nosso trabalho comprovar os fatos, e temos todos os recursos para comprová-los, através de uma legião de jornalistas, contatos profissionais e agências de notícias disponíveis. Segundo, porque há responsabilidade com as consequências. Um veículo que repassa notícias falsas terá sua credibilidade comprometida, perderá leitores e audiência, da mesma forma que um produto perde consumidores por causa de sua má qualidade. A própria sobrevivência das mídias profissionais depende da sua credibilidade. Quanto mais sério o veículo de comunicação, mais dependente da verdade ele será, porque sua credibilidade é que vai determinar a fidelidade e a confiança dos seus leitores ou audiência. Nosso produto é a informação, e quanto mais verdadeira ela for, mais valiosa será.
A Organização Mundial da Saúde decretou este mês a pandemia de um novo coronavirus, batizado de COVID-19. O vírus transmite um tipo de gripe forte, altamente contagiosa, e que tem uma letalidade maior que as gripes comuns. O mundo todo está tomando medidas de precaução contra a pandemia, e é imprescindível que informações precisas sejam levadas ao maior número de pessoas. Nós, do AcheiUSA, estamos, como sempre, empenhados com esse compromisso, como o leitor poderá comprovar nas páginas desta edição e nas nossas atualizações diárias online.
Valorize a verdade, compartilhe informações de fontes comprovadamente confiáveis. Para isso, basta verificar conferindo o seu histórico como mídia responsável. A vida de muita gente pode depender disso.