A Seleção Brasileira fez dois amistosos recentes contra Estados Unidos e El Salvador. Saldo final, em termos de resultado, foi bom. Afinal foram sete gols marcados e nenhum sofrido. Mas, em termos de avaliação, os testes foram válidos? Esta é uma questão difícil de ser respondida. Porém, vamos tentar respondê-la.
Inicialmente, há o fato de esses amistosos terem sido jogados nos Estados Unidos. O mesmo ocorreu com a Seleção Argentina. Esclarecendo: os então presidentes da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e da AFA (Asociación del Fútbol Argentino), respectivamente Ricardo Teixeira e Julio Grondona (já falecido), comercializaram os amistosos de suas seleções com um grupo de empresários bancado por dinheiro árabe para ter à disposição Neymar e Messi atuando pelos campos do mundo. Assim, fica mais fácil ver estas seleções jogando nos Estados Unidos, na China e na Europa do que em seus países.
Voltando a falar especificamente sobre futebol o que se viu foi a Seleção Brasileira enfrentando uma seleção americana totalmente renovada e composta por jovens valores com pouca experiência internacional. A vitória de 2 a 0 foi até generosa para os americanos, dada a diferença de categoria entre os jogadores brasileiros e seus adversários. Contra El Salvador a diferença de habilidade ficou ainda mais acentuada e a vitória de 5 a0 ficou até de bom tamanho para os salvadorenhos.
A convocação do técnico Tite propvocou polêmicas. Ele chamou três atletas que atuam no futebol brasileiro e estão envolvidos em decisões importantes: Dedé (Cruzeiro), Lucas Paquetá (Flamengo) e Fagner (Corinthians). De início, favoreceu o Palmeiras, também semifinalista da Copa do Brasil, que não teve nenhum jogador convocado. Depois, atendeu ao pedido dos médicos do Corinthians e cortou Fagner por lesão. Entretanto, o jogador corintiano se recuperou e enfrentou o Flamengo no primeiro jogo da semifinal no Rio de Janeiro. Isso deixou o presidente do Rubro-Negro carioca irritado e Eduardo Bandeira de Melo qualificou de “manobra” para evitar que o lateral do clube paulista se desgastasse. Flamengo e Cruzeiro tiveram de fretar um jatinho para trazer seus jogadores a tempo de atuar por suas equipes no primeiro jogo das semifinais.
Tite poderia ter evitado isto se tivesse escalado Paquetá e Dedé no amistoso contra os Estados Unidos e liberá-los para retornar ao Brasil, pois a seleção de El Salvador é simplesmente bisonha. Independentemente da falta de qualidade do adversário, Richarlison e Arthur se destacaram e devem ter novas oportunidades. O atacante do Everton, que só foi convocado por causa da lesão de Pedro, e o recém-contratado jogador do Barcelona confirmaram estar prontos para integrar o grupo de convocados para os próximos amistosos e até mesmo para a Copa América no ano que vem, competição que terá o Brasil como sede.
Na convocação de outubro, a comissão técnica da Seleção Brasileira terá mais provblemas para convocar jogadores que atuam no Brasil porque alguns clubes estarão envolvidos em jogos decisivos na Copa do Brasil, copa Libertadores da América e o próprio Campeonato Brasileiro. Para os atletas, porém, ser convocado pela Seleção Brasileira representa um orgulho e para seus empresários significa valorização do passe na hora de renovar contratos ou transferências para outros clubes.
Cruzeiro sai na frente na decisão com Palmeiras
A lei do ex não falhou no Allianz Parque, e Hernán Barcos marcou o gol que colocou o Cruzeiro em vantagem sobre o Palmeiras, nas semifinais da Copa do Brasil. Com a vitória na capital paulista, a Raposa joga a volta, em Belo Horizonte, podendo empatar para garantir a vaga na decisão.
O Palmeiras tentou começar a decisão na pressão, contando com o apoio da torcida. Logo aos dois minutos, Miguel Borja conseguiu chance, parando em Fábio.
Só que o Cruzeiro, que parecia, e de fato estava, recuado, conseguiu um contragolpe mortal. Após fazer jogada com Thiago Neves, Robinho mandou para Hernán Barcos confirmar a lei do ex, sempre imperdoável.
Moisés e, em seguida, Dudu tentaram uma resposta imediata pelo lado palmeirense, mas não acertaram o alvo. Willian, em chute mascado, mandou no poste. O time celeste se fechava ainda mais.
Depois de alguns minutos de sufoco na defesa, a Raposa passou a ficar mais tempo com a posse de bola, e conseguia irritar o rival. Só aos 28 Borja voltou a assustar pelo lado alviverde. Além de sofrer pouco na defesa, os mineiros ainda chegaram perto de um segundo gol. Após jogada pela direita, Thiago Neves mandou para De Arrasceta, do outro lado. Só que Wéverton fechou bem o gol e evitou que a bola passasse. A única notícia ruim para o lado mineiro na primeira parte foi a saída de De Arrascaeta, machucado.
Os primeiros minutos do segundo tempo se mostravam mais uma prova psicológica do que qualquer outra coisa. A tensão estava dominando o Allianz Parque. O Palmeiras ia perdendo força com o passar do tempo. Os erros iam complicando um time que sentia falta de Dudu, em noite de pouca inspiração. As coisas não fluíam.No abafa, o Verdão voltou a apertar nos minutos finais. Ainda mais depois da expulsão de Edílson. A pressão foi grande, mas, mesmo com dez, o time celeste contou com uma defesa sólida para segurar a vitória.
Fábio também foi protagonista, evitando, com grande defesa, um quase gol contra de Egídio. No fim, emoção e polêmica: em uma das últimas tentativas, Lucas Lima acertou o travessão. Em seguida, os donos da casa ainda tiveram gol anulado, e o jogo acabou com muita reclamação e polêmica.
Na verdade, o árbitro cometeu um equívoco no lance que poderia ter determinado o empate. A bola foi alçada na área do Cruzeiro e o zagueiro do Palmeiras Edu Dracena subiu para disputar a jogada juntamente com um zagueiro da equipe mineira e com o goleiro Fábio. A bola sobrou limpa para o zagueiro palmeirense Antonio Carlos empurrar para as redes. O gol foi invalidado porque o árbitro Wagner Reway já havia apontado falta de Dracena sobre o goleiro cruzeirense. A decisão de Reway foi criticada pelos comentaristas de arbitragem Carlos Simon (Fox Esporte) e Leonardo Gaciba (SporTV) por dois motivos. Ambos não viram falta do palmeirense sobre Fábio e também criticaram a inexperiência do árbitro que não usou o recurso do VAR, disponível na Copa do Brasil. Segundo eles, Reway deveria ter deixado a jogada prosseguir e, após sua conclusão, rever o lance e ouvir os árbitros consultores de arbitragem.
Agora, os dois times voltam a se enfrentar em Belo Horizonte no dia 26 de setembro. Ao Cruzeiro basta um empate para ir à final. O Palmeiras precisa derrotar a Raposa por dois gols de diferença. Vitória do Verdão por um gol de diferença leva a decisão para os pênaltis.
No domingo (16) as duas equipes voltam a campo pelo Brasileirão. O Cruzeiro tem o clássico com o Atlético-MG e o Palmeiras vai a Salvador enfrentar o Bahia.
Flamengo e Corinthians fazem jogo sofrível
Flamengo e Corinthians são dois clubes que lidam diariamente com a amplificação de seus fatos, seja no sentido mais favorável /favorecido ou no mais maléfico. E durante as últimas semanas, as faíscas soam alarmes de incêndio tanto na Gávea quanto no Parque São Jorge. Os rubro-negros deixaram a liderança do Brasileiro e foram eliminados na Copa Libertadores, enquanto lutam contra alguns velhos fantasmas: a falta de eficiência, a soberba de seus astros, a cobrança alta por resultados. Não que os corintianos fujam muito de problemas parecidos. As razões, porém, são diferentes. Se de um lado é o investimento que não surte efeitos, do outro é a falta dele que vê o abismo, em um clube que já vinha rendendo muito mais do que se imaginava a partir do pouco. Neste sentido, a semifinal da Copa do Brasil surge para ambos como uma salvação para apaziguar os ânimos. Mas entre desesperos e receios, o Maracanã recebeu um jogo deplorável na quarta-feria (12). Difícil dizer quem foi pior ofensivamente, entre a impotência carioca e a nulidade paulista. Não existia outro placar mais propício que o 0 a 0, ampliando o ranger de dentes para a volta em Itaquera.
O Maracanã de arquibancadas cheias e de fumaceira do lado de fora poderia prometer um grande duelo aos desavisados. Algo que não se esperava tanto assim dentro de campo. A começar pelo próprio gramado que os dois times também tiveram que enfrentar. O excesso de jogos certamente prejudica as condições no Maraca, mas não apenas isso, diante da falta de cuidado evidente. A areia em excesso era um obstáculo a mais para os jogadores driblarem. Pior, sequer o “tapete” foi irrigado no intervalo, por um problema no sistema que distribui água pelo retângulo. Já nas escalações, um pouco mais de alarde pelos jogadores de “seleção” confirmados: Cuéllar e Lucas Paquetá, já de volta após a Data Fifa, e Fágner, no polêmico retorno à lateral direita alvinegra.
Em campo, era fácil notar dois clubes naturalmente pressionados, mas com equipes que não conseguem encarar bem essa cobrança. O Flamengo tinha a iniciativa, com muita posse de bola e pouca objetividade – uma constante nos últimos jogos, que aumenta os pedidos pela demissão de Maurício Barbieri. Enquanto isso, o Corinthians repetia a estratégia que não deu certo no clássico contra o Palmeiras: se fechar inteiro no campo defensivo, com espasmos ofensivos quando os adversários cometiam algum erro. Os alvinegros montavam sua blitz na entrada da área e tinham relativo sucesso na missão, com os rubro-negros limitados a chutes tortos de média distância.
As imagens da TV mostravam senhores se descabelando, crianças xingando, olhos marejados. O som do lado de fora se abafava pela ansiedade. Um ritual de acreditar e não ser correspondido que se repete continuamente com este time flamenguista. E as vaias ecoaram nas arquibancadas.
O fim do jogo não levanta uma reflexão apenas sobre a fase dos times, mas sim sobre aquilo que se vende como entretenimento no futebol brasileiro. Um futebol que se resume à espera frustrada por uma jogada bem trabalhada e o mau costume com tanta falta de precisão. É triste pensar que 48,8 mil pessoas pagaram caro pelo ingresso para ver duas equipes tão fracas. Pior também a quem gastou 90 minutos diante da televisão para isso. Jair Ventura terá muito trabalho para construir algo com esse Corinthians. Embora o time mostre acertos defensivamente, não existiu no ataque durante os últimos dois compromissos. Já o Flamengo precisa questionar o que Maurício Barbieri e seus jogadores vêm produzido nos treinamentos. Não se vê uma inventividade sequer nas jogadas, entre a demora nas definições, a falta de movimentação e os medalhões que só querem a bola no pé. Não é uma equipe funcional e que se mostra mais manjada a cada partida. Se há uma esperança para o reencontro em Itaquera, parafraseando Casagrande, é que dificilmente poderá ocorrer algo pior do que o visto no Maracanã.
No sábado (15), o Flamengo faz o clássico contra o combalido Vasco da Gama no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, enquanto o Corinthians tem uma grande oportunidade de obter a primeira vitória sob comando de Jair Ventura, pois recebe em seu estádio o Sport Club do Recife que está no Z4.