A medida em que um ano a ser esquecido se aproxima do fim, uma sucessão de fatos insólitos vai se acumulando e alternando espaço nas manchetes dos jornais. Parece que a mistura de choque e surpresa, decorrentes da ascenção de Trump ao posto presidencial, deu lugar a resignação e passamos a prestar mais atenção aos acontecimentos do dia a dia. Bom para o topetudo da Casa Branca, que pode dar continuidade a suas bizarrices sem supervisão séria da imprensa e ruim para nós, que não podemos fiscalizar com a devida atenção, só lamentar depois que o leite estiver derramado.
O malvado favorito da hora, depois do atirador maluco de Las Vegas, é Harvey Weinstein, que até ontem era um fazedor de filmes legais, tiozão bajulado por todos artistas e símbolo de força criativa na indústria de Hollywood. Agora é um desprezível predador de mocinhas indefesas, neste caso, belas atrizes. A bem da verdade, Weinstein não é tão bam-bam-bam assim e nem goza do prestígio popular de seus colegas predadores Bill Cosby ou Bill O’Reilly mas é importante o suficiente para nos fazer detestá-lo por seus crimes. A moda de denunciar assédios sexuais produzidos por poderosos não é tão recente assim. Anita Hill estreiou essa prática, em 1992, ao expor os abusos que sofreu de Clarence Thomas, atual Juiz da Suprema Corte, enquanto ele era seu chefe. Tudo bem que Thomas virou juiz assim mesmo mas de lá para cá muita coisa mudou. Como a CNN fez questão de pontuar em uma matéria, hoje estamos mais sensíveis a este assunto porque a nova geração não aceita o comportamento da anterior e é isto que está em julgamento. Melhor Papai Noel parar de colocar criancinhas no colo.
Pra variar, entre um furacão e outro, que volta e meia produz personagens secundários, sejam eles heróis ou oportunistas da hora, a Catalunha pede espaço e declara independência da Espanha, só que não. O feito histórico e inédito dominou o noticiário por uma semana e atiçou a sanha de separatistas do mundo todo. O que era para ser um bom assunto até o fim do ano foi eclipsado pela insegurança do líder do movimento separatistas, que declarou a independência mas logo a seguir congelou a medida até que o assunto seja discutido (?).
Alheios a tudo isso, na província brasileira, a mídia local se esmera agressivamente em encontrar uma forma de desacreditar Lula totalmente para que ele pare com essa mania feia de encabeçar todas as projeções de intenções de voto para a presidência. Infelizmente, par a mídia, ficar dando destaque à Doria ou Bolsonazi não rende manchetes e nem se sustentam nos noticiários. O prestígio de Moro parece ter chegado ao fim.
Voltando ao primeiro mundo, não é preciso dizer que Trump está morrendo de inveja da atenção dispensada ao produtor de cinema com quem adorava trocar farpas no passado ou com essas e outras notícias reais que insistem em nos chamar atenção. Ele parece viver um realidade paralela em que é protagonista supremo de seu próprio reality show e trabalha incansavelmente para reconquistar seu espaço na mídia, que ele chama de “fake” mas que a-d-o-r-a ser mencionado por ela. Para voltar a ser o foco das atenções em grande estilo, ensaia desanexar Porto Rico do mapa americano, revogar a licença de qualquer mídia que fale mal dele, ou seja ABC, NBC, CBS e todo o resto, menos a FOX e ainda de quebra, com uma canetada, estraçalhar o Obamacare.
Perfeito! Em sua fúria narcisística, Trump faz o apocalípse se tornar mais próximo. Se rasgando a constituição ele não conseguir desmantelar todo o Establishment americano ainda no primeiro ano de mandato, pelo menos pode destruir o mundo gastando todo o arsenal nuclear que o governo dispões, para matar alguma barata. Se todos sobrevivermos a este furacão, é certo que roteiristas de HQ e de Hollywood terão acumulado material suficiente de narrativas surreais para os próximos 50 anos. Isso, se sobrevivermos. Afinal, será que ele não foi mesmo infiltrado aqui pelos russos?