Comunidade

Novo cônsul em Miami quer implementar consulado itinerante todo mês em Orlando e Pompano Beach em 2017

Em entrevista ao AcheiUSA, o embaixador Adalnio Senna Ganem falou sobre os projetos do consulado junto à comunidade brasileira na Flórida

Embaixador Adalnio Senna Ganem
Embaixador Adalnio Senna Ganem

DA REDAÇÃO – O novo cônsul-geral do Brasil em Miami, embaixador Adalnio Senna Ganem, chegou à cidade há apenas dois meses e já afirmou que está encantado com a organização e proatividade da comunidade brasileira que vive na Flórida. O cônsul já trabalhou em Atlanta (GA), no Panamá, em Lima, no Peru e na Europa, mas foi na Flórida que, segundo ele, encontrou a comunidade mais unida.

Baiano da cidade de Lençóis, Adalnio, 63 anos, formou-se em Direito, mudou-se para o Rio de Janeiro e ingressou na carreira diplomática ainda muito jovem, somando mais de 35 anos a serviço do Itamaraty.

Em conversa com o AcheiUSA na sede do Consulado-Geral do Brasil em Miami, o novo cônsul falou sobre o que espera para o próximo ano, dos projetos do consulado, da aproximação com a comunidade brasileira e da vontade que tem de melhorar cada vez mais os serviços oferecidos ao brasileiro que vive e ao que vem à Flórida a passeio, número que chega a 2 milhões de pessoas todos os anos.

AcheiUSA – Qual a impressão que o senhor teve sobre a comunidade brasileira?

Adalnio Senna Ganem – É uma comunidade fantástica, especial, e a nossa primeira tarefa é tentar otimizar tudo que já é feito. Há uma imensidão de atividades e de iniciativas. Então, como otimizar? Quero tentar fazer com que as várias organizações que já existem trabalhem em conjunto. Muito já é feito e eu não sou uma pessoa de apenas reagir ao que já está sendo feito. Queremos fazer mais.

O consulado está aqui para propor e discutir uma agenda para a comunidade e estamos iniciando projetos de empreendedorismo, emponderamento da mulher, o ENCCEJA (que é a oportunidade da pessoa concluir o segundo grau), entre outras iniciativas.

AU – Um dos serviços mais requisitados pela comunidade e que esteve em falta em 2016 é o consulado itinerante. Qual a previsão para o próximo ano?

ASN – O Itamaraty passou de 0.50% do orçamento da união para 0.17%. Chegou um momento em que houve dificuldades até para pagar os gastos fixos. Agora, progressivamente, estamos regularizando a situação. Nós estamos tentando encontrar um formato de consulado itinerante que seja bom para todos. Primeiramente, eu espero que haja uma regulação orçamentária do Itamaraty. E a ideia é que tenhamos, em 2017, consulados itinerantes em Pompano Beach e em Orlando todo mês, nos finais de semana. Nosso objetivo é ter uma programação mensal nessas cidades onde a demanda é grande. Precisamos aumentar, também, o nosso quadro de pessoal.

AU – Quais são os novos projetos que serão implementados pelo consulado?

ASN – Todos os nossos projetos são realizados em parceria com o Conselho de Cidadãos. Hoje, temos serviços de assistência à comunidade, como psicólogo e advogado, mas não podemos ampliar isso e dizer que temos advogado para todas as situações como, por exemplo, a guarda de filhos, não temos como prestar toda a assistência para esses casos. Estamos, também, trabalhando com projetos de intercâmbio cultural, empreendedorismo, combate à violência doméstica e emponderamento feminino, entre outros.

Um exemplo é o “ENCCEJA”, que é uma prova que será aplicada em 2017, caso haja demanda. O exame é destinado a jovens e adultos que moram no exterior e não tiveram a oportunidade de concluir seus estudos no Brasil. Estamos fazendo um levantamento de demanda junto com o Centro Comunitário Brasileiro. Já consegui um espaço na Florida International University – FIU para a realização dos exames, caso o projeto chegue até aqui.

AU – Na sua opinião, como está a relação entre Brasil e Estados Unidos hoje?

ASN – A relação entre Brasil e EUA tem se fortalecido e haverá um reforço da cooperação bilateral com o novo governo.  No caso da relação comercial, acho que pode ser muito incrementada. Com a crise, tivemos uma redução de 20% no comércio entre os dois países.

Há um estoque de investimentos brasileiros nos EUA de $20 bilhões e acredito que grande parte desses investimentos seja na Flórida, ou pelo menos uma parte substantiva. Vamos trabalhar para retomar o comércio, retomar a capacidade de serviços na Flórida e trabalhar com pequenas e médias empresas em outros ramos de serviços e na área de investimentos.  Vamos continuar trabalhando nos dois sentidos.

Acredito que haja um quarto tema, um quarto assunto, que não diz respeito ao aspecto econômico. A representação da Flórida para o Brasil e do Brasil para a Flórida. A percepção dos americanos na Flórida em relação ao Brasil é positiva no nível dos negócios. Mas no imaginário do empresariado brasileiro a Flórida não tem a importância que deveria ter. Você não vê muitas autoridades brasileiras vindo ao Estado. Aparentemente, ainda no imaginário brasileiro a Flórida é um destino de passeio. Na percepção brasileira a Flórida não ocupa o mesmo nível de importância que New York, Inglaterra, a França. É fundamental trabalharmos no sentido de que nós façamos com que essa percepção seja diferenciada mais positivamente em relação à importância que a Flórida tem para o Brasil. Os empresários virão com uma visão de que podem fazer negócios por aqui e não somente turismo.

AU – Outro assunto que interessa os brasileiros diz respeito à possível isenção de vistos entre os dois países.

ASN – Essa isenção só vai acontecer quando houver a reciprocidade, ou seja, quando o Brasil também isentar os americanos do visto. Nós já conversamos sobre o Global Entry, não há nada concreto, mas estamos avançando progressivamente. A médio e a longo prazo chegaremos a isso. O momento atual não é propício para conversar sobre isenção de vistos, houve uma suspensão provisória das conversações sobre o assunto. Mas sem dúvida vamos chegar a esse objetivo.

AU – Qual a sua opinião sobre as eleições presidenciais americanas?

ASN – Prefiro não opinar sobre este assunto, mas o que posso dizer é que sempre depois que as pessoas integram o governo a perspectiva é diferente, porque elas passam a lidar com a realidade da situação. Qualquer que seja o candidato eleito, esperamos que o Brasil tenha uma excelente relação e vamos continuar trabalhando em prol do fortalecimento das relações bilaterais.

AU – Que mensagem gostaria de deixar para os mais de 300 mil brasileiros sob sua jurisdição?

ASN – Atendemos 300 pessoas por dia, num universo de 300 mil brasileiros na Flórida (estimativa). Além do mais, temos por ano 1,7 milhões de brasileiros que visitam o Estado, ou seja, dois milhões de pessoas que de alguma forma podem ter alguma necessidade junto ao consulado. O que eu quero dizer é que nós estaremos aqui sempre à disposição para servir. Não somos perfeitos, às vezes não poderemos atender às expectativas da comunidade, às vezes o serviço não vai ser prestado imediatamente, mas estamos trabalhando para prestar o melhor serviço possível.

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