Viagem de instrução de guardas-marinha passa pelos EUA e depois segue para a Europa
A Marinha do Brasil forma a cada ano uma turma de guardas-marinha, que depois se transformarão em oficiais da Marinha brasileira. Para coroar a formatura, os cadetes fazem uma longa viagem por portos de nações amigas do Brasil. A viagem da turma de 2005 durará cerca de quatro meses. O Navio-escola Brasil deixou o porto do Rio de Janeiro, onde funciona o Colégio Naval, no dia 9 de julho e deve retornar ao Rio em novembro. A parada no porto de Miami foi a terceira escala, após ter aportado em Fortaleza e San Juan, Porto Rico. O navio deixou Miami no dia 10 de agosto e seguiu para a Europa, onde ancorará em uma série de portos europeus. Na volta ao Brasil, ainda está prevista uma escala no porto do Recife, antes da parada final no Rio de Janeiro.
O embaixador João Almino, cônsul geral do Brasil em Miami, presente à recepção oferecida pelo capitão Luiz Carlos Zamith e sua tripulação, explicou que já faz parte da tradição: “Após quatro anos de estudos, eles fazem uma viagem internacional que serve como batismo de fogo para os futuros oficiais da Marinha. Além dos brasileiros, estão na turma também alguns cadetes de outros países, como venezuelanos e argentinos”. Almino lembra que este intercâmbio também ocorre no Instituto Rio Branco (escola responsável pela formação de diplomatas brasileiros), onde é comum contar com estudantes de diplomacia de nações amigas.
Oficiais da Marinha confirmam – O capitão Zamith confirmou que a viagem do Navio-escola Brasil tem dois objetivos: “O primeiro é permitir que os formandos possam pôr em prática tudo aquilo que eles aprenderam no Colégio Naval (uma escola de nível superior) e o segundo é fortalecer os laços diplomáticos e de amizade com países aliados e mostrar a bandeira brasileira em portos importantes do mundo”.
O almirante Fernando Nunes, adido naval na Embaixada do Brasil em Washington, também ratificou o caráter de fortalecimento de amizade e agregou que o roteiro é negociado entre os Ministérios das Relações Exteriores e da Indústria e Comércio, a fim da viagem representar ainda contatos comerciais: “Seguimos uma estratégia logística, boa para nós e para outras autoridades brasileiras”.
Além do Navio-escola Brasil, há outra turma viajando pelo mundo a bordo de um veleiro comprador junto aos holandeses. O almirante Nunes confirmou que o efetivo da Marinha é de 50 mil homens e anualmente são recrutados entre 180 a 200 oficiais. Pode-se dizer que é uma das provas mais difíceis do Brasil. De 10 mil candidatos, apenas 200 são aprovados para fazer o Colégio Naval.
Tour pelo Navio-escola Brasil – O coquetel foi um sucesso entre os convidados. Além de prestigiado pelas autoridades brasileiras e estrangeiras – muitos oficiais americanos e de outros países compareceram à recepção -, os guardas-marinha (que falam inglês) ficaram incumbidos de servir como guias em tours realizados pelo Navio-Escola Brasil: uma fragata de 130 metros de comprimento, 12 metros de largura, 18 metros acima do nível do mar (com sete pesos) e outros 18 metros submersos, onde ficam quatro convés, além de seis metros de calado (medida de profundidade para navegação). A fragata pesa ainda quatro mil toneladas e está levando uma tripulação de quase 500 pessoas.
Edno Vieira da Rosa Neto, natural de Niterói, 24 anos de idade, foi nosso guia pelo Navio-escola Brasil. Ele mostrou todas as dependências e deu para perceber que o navio está bem preparado para instruir os guardas-marinho. São salas de aula e de conferências muito bem equipadas, com TVs e videocassetes, onde os futuros oficiais vão aprendendo cada vez mais sobre suas atividades.
Eles treinam ainda pilotagem, simulam situações reais de ataques e defesas militares, fazem cálculos matemáticos e também com o posicionamento dos astros, usando inclusive sextantes: “Saímos de madrugada, de manhã, à tarde e à noite para conferir a posição dos astros e sabermos para onde estamos indo e como devemos prosseguir com a navegação”, explicou Edno. O guia informou ainda que a água potável é coletada no próprio mar e dessalinizada por equipamentos. E o processo de ar condicionado interno funciona com a água e o ar externo, que circula de fora para dentro. “Estas precauções são tomadas para evitar que um ar viciado circule dentro do navio e traga doenças para os tripulantes”, complementou.
Após a volta, os guardas-marinha serão confirmados como oficiais da Marinha e escolhem aonde pretendem servir. Um ano e meio ou dois anos depois, eles podem continuar na Marinha de superfície (onde podem ir para os departamentos de retaguarda – como comunicações, por exemplo – ou para a Armada) ou especializar-se para servir em submarinos militares.
Nota dez para o coquetel servido no Navio-escola Brasil, todo ele preparado pelos cozinheiros do próprio navio. A depender do cuidado na preparação da comida – servida com produtos cedidos por empresas brasileiras como forma de merchandising -, os tripulantes não têm do que se queixar durante as longas viagens.