Antonio Tozzi
– Sou coreógrafa; ou então:
– Sou bailarina. Pensando melhor, ela dirá:
– Sou atriz.
Qualquer uma das respostas está correta para definir a carioca Nadia Nardini, que vive na Flórida há 13 anos – descontando-se o curto período em que retornou ao Brasil. Aliás, Nardini nem é o seu verdadeiro sobrenome. Ela o adotou quando foi sindicalizar-se e lhe perguntaram qual era o seu nome artístico. Foi, então, que Nadia Silva (seu nome de batismo) transformou-se em Nadia Nardini, seguindo sugestão de um amigo. E Nardini passou a ser o sobrenome artístico de toda a família.
Nadia sempre foi determinada. Começou a dançar com apenas quatro anos de idade e aos 23 anos já era dona de uma escola de dança no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro. Em seguida, associou-se ao arquiteto e cenógrafo José Carlos Ripper (já falecido) para fundar um Centro de Artes em Botafogo. “Nosso objetivo era reunir todas as formas de manifestações artísticas em um só lugar”, comentou a bailarina.
Desponta a coreógrafa e a atriz – Aos 23 anos de idade, ela estava no elenco do show de Lenny Dale, um dos mais famosos bailarinos americanos, cujo espetáculo foi montado no Rio. Demonstrando sua versatilidade, Nadia foi convidada para fazer a coreografia para uma peça infantil de Lauro Corona e Bia Nunes: “História de Copélia”.
No momento de estréia da peça, a atriz que deveria fazer o segundo papel feminino na peça simplesmente desapareceu. O diretor e os atores sugeriram – melhor seria dizer exigiram – que Nadia assumisse o papel para a peça não ter sua estréia adiada. Ela tentou argumentar que não era atriz e não havia ensaiado, mas eles não aceitaram desculpas. Para sua surpresa, ela não só saiu-se bem como foi indicada para o Troféu Mambembe, que premia os melhores profissionais de teatro da temporada.
Embora satisfeita com o desempenho, Nadia creditou a indicação ao fator sorte. “Não poderia ser outra coisa, pensei. Nunca havia feito curso de atriz, entrei de improviso e ainda obtive críticas favoráveis. Tudo isto me estimulou a aceitar outro papel – desta vez de protagonista – na peça infantil ‘Chapeuzinho Quase Vermelho’. E fui novamente indicada para o Troféu Mambembe”, conta a artista. Ela sentiu que de fato tinha talento para a arte dramática
Daí, para o teatro adulto foi um pulo. Participou do elenco do Teatro Musical Brasileiro, dirigido por Luiz Antonio Martinez Correa. Depois, a convite de Jorge Fernando, fez a peça “A Divina Chanchada”. Descobriu-se comediante e integrou o elenco da peça “Chorus Line”, montada em São Paulo (Teatro Sérgio Cardoso) e no Rio (Teatro Teresa Raquel), onde interpretou o papel de Val.
Paralelamente, montou a Companhia Bandança de Teatro Musical, com 12 integrantes, inclusive seus irmãos Tony e Tania. Nesta companhia, pôde reunir a dança, a arte dramática e música.
E o trabalho de coreógrafa também não foi esquecido. Convidada por Jorge Fernando, fez coreografia para várias novelas da TV Globo e participou como atriz na teledramaturgia da emissora. Coreografou, entre outras, “Que Rei Sou Eu?” e atuou em “Corpo Santo”. Mas seu talento como coreógrafa foi sendo cada vez mais reconhecido. E ela confessa ter coreografado a maioria dos artistas no Rio de Janeiro: “Coreografei até mesmo Ana Botafogo (na época, a principal bailarina brasileira), num espetáculo dirigido por mim.”
Momento da virada – Certo dia, recebeu um telefonema de uma produtora de shows. Ela pediu a Nadia que recomendasse uma dançarina para participar de espetáculos em navios de turismo que viajavam pelo Caribe. Para surpresa da moça, chamada Simone, a própria Nadia se candidatou ao cargo. Simone ainda alertou que ela era muito talentosa para a vaga e poderia ficar aborrecida com a rotina dos shows para turistas que lotam navios de cruzeiros.
Nadia, porém, estava mesma decidida a mudar de ares. E em três dias arrumou as malas e desembarcou em Miami. Durante sete anos, integrou o elenco de companhias artísticas que se apresentaram em navios de grandes empresas como Royal Caribbean, Celebrity e Costa.
Para ela, foram anos bem divertidos. Até o momento em que se apaixonou pelo homem com quem viria a casar e trocou o mar pela terra. “Fiquei dez anos casada e durante este período me afastei da carreira artística. Depois da separação, resolvi voltar para o Brasil porque achava que meu lugar não era aqui nos Estados Unidos. No entanto, tive de retornar para cá por causa da minha cidadania. E o que deveria durar dois a três meses demorou mais de seis meses”, disse Nadia.
Redescoberta da carreira artística – No início, ela ficou altamente irritada com a official de imigração que lhe pediu uma série de documentos para dar andamento a seu processo de cidadania. Mas hoje até agradece a intransigência da mulher. Graças a ela, Nadia pôde organizar sua vida e teve tempo de repensar sobre o retorno à carreira artística.
Adepta do budismo, ela fez uma auto-reavaliação e descobriu que seu problema não estava no Brasil ou nos Estados Unidos, mas, sim, em seu interior. Decidiu, então, retomar a carreira, interrompida durante os anos de casamento, aqui mesmo nos EUA. “Atualizei meu curriculum e mandei para três agências de casting. Fui chamada pelas três. O interessante é que mandei um curriculum e fotografias como se pede no Brasil, que é bem diferente das exigências americanas. Hoje, sou contratada das três”, contou, orgulhosa, Nadia, que foi chamada para fazer comerciais para uma agência de viagem, uma companhia de TV a cabo, uma rede de drogarias e para o Wal Mart.
Encantada com a boa receptividade, ela decidiu sonhar alto. Queria mesmo era participar de um filme. Em janeiro deste ano, ficou sabendo que um professor de cinema daria cursos para formação de atores. Quando foi inscrever-se informaram-lhe que as vagas já estavam preenchidas. Confiante, Nadia disse: “Pode pôr meu nome na lista de espera. Aí, alguém desistiu, e fui chamada”.
No Brasil, Nadia caracterizou-se por ser comediante, mas nos EUA, durante o curso do professor, interpretou alguns papéis dramáticos. Ganhou elogios dele, que a incentivou a seguir na carreira artística, porque é muito talentosa.
Persistência e confiança – Depois de orar pedindo que surgisse a chance de fazer um filme, alguém lhe enviou um roteiro três dias depois. O papel era sobre uma mulher, mãe do protagonista (Matt MacGrath), que sofre de mal de Alzheimer. Ela leu o papel, se preparou e foi para o teste. Ao chegar ao local, foi descartada pelo diretor de elenco, que a achou muito jovem para o papel. Nadia tem 51 anos e aparenta bem menos, enquanto a personagem é uma mulher de 65 anos. Tirou a maquiagem e, novamente, foi dispensada pelo diretor. No momento das filmagens, ela de novo apareceu diante do diretor, que já demonstrava irritação com tanta insistência. Depois de tanto pedir, ele concordou em fazer apenas uma cena com Nadia para que ela voltasse para casa.
No íntimo, sabia que não seria chamada, mas deu o melhor de si naquela cena. Para sua surpresa, recebeu um telefonema três dias depois lhe informando que havia ganho o papel. Outra surpresa agradável foi descobrir que a roteirista Xandra Castleton falava português, por ser uma americana, filha de pais brasileiros, que adorou seu trabalho. Tanto que já prometeu escrever um papel para Nadia no seu próximo filme.
Ela agora está ansiosa para ver o lançamento de “The Full Grown Men”, dirigido por David Munro, que está sendo submetido à comissão do Sundance Film Festival. Ela adorou a experiência e o profissionalismo da equipe e curtiu o fato de ter até mesmo um trailer à sua disposição. “O papel é pequeno, mas sinto que me abriu o caminho para o universo”, revelou.
Agora, seus planos incluem um papel no filme baseado no livro de Guilherme Fiúza, “Meu Nome Não É Johnny”. Depois de ter lido o livro e se apaixonado pela história, Nadia quer integrar o elenco do filme que será rodado no Brasil. A atriz já falou com o próprio Fiúza e mandou um e-mail para a produtora. Além disto, pretende se mandar para a Califórnia, em abril do próximo ano, a fim de tentar definitivamente entrar no cenário artístico americano.
Com fé no budismo e confiança em seu trabalho, Nadia promete: “Serei a primeira atriz brasileira a ganhar um Oscar!”. E quem se atreve a duvidar?