Histórico

Na Carolina do Norte, sheriff pede desculpas a imigrantes

Policial insultou indocumentados, chamando-os de sujos, assassinos e ladrões

O sheriff do condado de Johnston, na Carolina do Norte, foi a público pedir desculpas pelas afirmações feitas em uma entrevista à imprensa local. Na reportagem no periódico ‘The News&Observer’, Steve Bizzell chamou os imigrantes, especialmente os mexicanos, de “sujos” e ainda disse que a comunidade hispânica na região “se reproduz como coelhos”.

“Os ilegais são assassinos, ladrões e violadores dos cidadãos americanos, que não pagam impostos e consomem os recursos dos serviços sociais”, disse o sheriff na matéria. E Bizell disse ainda mais: “Eles difundem a cultura da violência e da bebedeira em nosso país”. Durante a entrevista, a autoridade policial fez referência à Smithfield, onde vivem vários hispânicos, principalmente mexicanos, e que a cidade “está sempre cheia de lixo”. “Os mexicanos são sujos”, afirmou.

Críticas

Entre tantas críticas, Bizzell enfatizou um único aspecto positivo em relação aos imigrantes: “Só respeito os latinos porque trabalham forte, desde o amanhecer até a noite”, ressaltou o sheriff, admitindo que uma fazenda de sua família já usou mão-de-obra de trabalhadores imigrantes. Ele acrescentou que as medidas que toma contra os indocumentados – entre elas a parceria com o serviço de imigração para deportação dos detentos com status irregular – são uma exigência da comunidade do condado.

Mas os moradores de Johnston, que fica ao norte da capital do estado, Raleigh, ficaram revoltados com as palavras do sheriff. Nem mesmo o pedido de desculpas público serviu para apaziguar os ânimos.”Não quero um pedido de desculpas, mas o seu distintivo”, enfatizou Tony Asion, diretor de El Pueblo, a organização hispânica mais importante do estado, exigindo a renúncia do sheriff.

Asion garantiu que a entidade vai apresentar uma queixa formal à Associação de Sheriffs da Carolina do Norte, da qual Bizzell é ex-presidente. “Não podemos permitir que ele nos insulte dessa maneira.Uma pessoa que ocupa um cargo como esse não pode, nem deve, fazer estes comentários, que inclusive são falsos”, lamentou o ativista, que é cubano-americano. Ele alfinetou a corporação, comentando que, se aquela é a postura de um chefe de polícia, a população pode esperar algo pior dos demais oficiais.

O ativista aproveitou também para questionar alguns dos comentários publicados no periódico. “Como ele pode acusar os hispânicos de se reproduzirem como coelhos, se vem de uma família com nove filhos? É contraditório”, ironizou Asion.

“Fora de cotexto”

No pedido de desculpas, Bizzell disse que o periódico publicou suas opiniões fora do cotexto, mas não negou que tenha dito algo parecido. Ele lembrou que estava bastante mexido com a morte de uma criança em abril deste ano, atropelada por um motorista indocumentado, que foi flagrado bêbado. “Não foi minha intenção atingir a comunidade hispânica do condado que está no país de forma legal. Fiz algumas generalizações e, por isso, peço desculpas às pessoas a quem ofendi”, escreveu o sheriff num e-mail. Ele garantiu que continuará a proteger a população, independente do status imigratório ou cidadania.

No entanto, as palavras de Bizzell não sensibilizaram os ativistas. Asion ressaltou que apenas 1/3 dos motoristas apanhados em estado de embriaguez é de origem latina. “E os outros, cidadãos americanos, não são culpados também?”, indagou.

Não é a primeira vez que uma autoridade pública na Carolina do Norte emite insultos à comunidade hispânica. Em abril um vereador (comissário) do condado de Mecklenburg, Bill James, comparou os indocumentados a “prostitutas e traficantes de drogas”. O político, porém, sequer pediu desculpas à população.

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