Há anos as autoridades do ICE investigam pessoas e empresas nos Estados Unidos que oferecem o chamado turismo de maternidade: o serviço em que as grávidas de outros países, normalmente com alto poder aquisitivo, vêm para a América semanas antes do parto para que as crianças recebam a dupla cidadania através do nascimento em solo americano. E, pela primeira vez na história, uma operadora deste tipo de negócio será condenada por este tipo de atividade, o que deve abrir um precedente para evitar a proliferação dos chamados bebês-âncora.
A proprietária da ‘You Win USA Vacation Services Corporation’, a chinesa-americana Dongyuan Li, pode receber uma sentença de até 15 anos de prisão por orientar e ajudar famílias estrangeiras a planejarem a vinda para os Estados Unidos pouco antes do nascimento dos filhos. A agência de Li não apenas instruía os clientes sobre o que dizer em entrevistas com o serviço de imigração, como também oferecia acomodações de alto nível para que ficassem alojados por até três meses, na Califórnia. Segundo um comunicado do ICE, a chinesa teria recebido mais de $ 3 milhões em transferências bancárias nos últimos dois anos pelos serviços prestados a mais de 500 clientes.
Ela foi presa há alguns meses com outros três colaboradores que faziam parte deste esquema da Califórnia, mas a polícia investiga ainda outras 19 pessoas que ofereciam serviços do mesmo tipo, em outros estados, inclusive na Flórida. Pela primeira vez, as autoridades conseguiram reunir provas e argumentos suficientes para uma condenação. “O esquema era ousado. Tivemos acesso às comunicações entre a acusada e os clientes, e eles tinham a certeza de que era fácil ludibriar nossas leis”, afirmou Daniel Showalter, agente especial do Departamento de Segurança Nacional. Para ele, este caso vai servir de exemplo para que outros operadores desistam de enganar o sistema em busca de lucro fácil.
Dongyuan Li se declarou culpada na Corte e a sentença deve sair nos próximos dias. Entre os conselhos que ela dava aos interessados em participar do esquema, extraídos de um documento chamado “Estratégias para aumentar suas chances de entrar nos EUA’, estava um bem curioso: “Na chegada na Alfândega, diga que pretende ficar em um hotel 5 estrelas da marca Trump”. Aliás, para os turistas chineses, ela indicava que o melhor seria um voo para o Havaí, onde as dificuldades relacionadas à imigração são menores. Somente depois é que os clientes eram levados em voos domésticos para Irvine, na Califórnia, onde a agência mantinha todo o negócio, desde as acomodações até os profissionais da área de saúde.
O caso é tão comum que o presidente Donald Trump disse recentemente que planeja acabar com a cidadania por nascimento nos Estados Unidos, através de um decreto. Apesar de especialistas acreditarem que esta questão ensejaria uma batalha judicial até a Suprema Corte, o fato é que este tipo de atividade está na mira do governo. Na 14ª Emenda da Constituição dos EUA, de 1865, está garantido o princípio da cidadania por nascimento: “Todas as pessoas nascidas ou naturalizadas nos Estados Unidos (…) são cidadãs americanas”. O mesmo não acontece em nações como a Suíça e o Japão, por exemplo, que não garantem a cidadania a bebês nascidos em seus territórios, a não ser que um dos pais seja cidadão do país. Estatísticas da Casa Branca mostram que pelo menos 40 mil estrangeiros vêm para a América todos os anos, apenas com o objetivo de terem os chamados bebês-âncora.