Histórico

Mortos na fronteira vão para cemitério de indigentes

O sonho americano muitas vezes termina em morte para muitos imigrantes que tentam entrar ilegalmente no País

Pelo menos metade dos 700 túmulos do cemitério de Holtville, na fronteira da Califórnia com o México, é de imigrantes que morreram ao tentar atravessar a fronteira. A história fica ainda mais triste porque a maioria não possui identificação e o sonho americano acaba em uma vala para indigentes ou se transforma em cinzas no crematório local. A família sem saber do paradeiro dos entes queridos acaba sem notícias pelo resto da vida.

Muitos dos corpos são encontrados por oficiais americanos que patrulham o vasto deserto binacional que separa o México dos Estados Unidos. Os peritos americanos não são capazes de identificar os corpos, pois não há registros deles nos sistemas do país e não são raras às vezes em que apenas restos dos corpos são achados depois que os animais no deserto atacam os desfalecidos.

O cemitério é custeado pelo Estado, que é obrigado por lei a dar um enterro a todos aqueles que não possam pagar por isso. No entanto, nos últimos anos, por questões financeiras, muitos dos corpos têm sido cremados, já que cada lote em Holtville custa cerca de US$ 1 mil aos cofres públicos.

Apesar de não existirem estatísticas oficiais, acredita-se que algo entre 180 e 280 pessoas morrem por ano tentando fazer a travessia entre o México e os Estados Unidos pela fronteira próxima a Holtville.

Os enterros em Holtville começaram nos anos 90, após a construção de um muro na divisa do México com os Estados Unidos e o lançamento de uma operação chamada Gatekeeper (guardião do portão), do governo Bill Clinton, de fiscalização das fronteiras.

Desde 1993, estima-se que 3,8 mil pessoas morreram naquele trecho da fronteira. Outras entidades, como a Coalizão de Direitos Humanos de Tucson, afirmam que até seis mil pessoas perderam a vida.

Travessia

A travessia do deserto na fronteira é uma tarefa que se prova fatal para a maioria dos imigrantes. Na faixa de terra que se estende por 55 quilômetros, as temperaturas podem chegar a até 50 graus. O deserto parece ser pouco controlado, no entanto cerca de cem pessoas são presas por dia totalizando 33 mil em 2011.

A olho nu, só se percebe as barricadas que foram montadas para impedir o trânsito de veículos, e que seriam facilmente dribladas por alguém a pé. Mas as aparências enganam. A região está repleta de câmeras de segurança, sensores de movimento e câmeras infravermelhas. Os patrulheiros dizem que é possível prender imigrantes ilegais em questão de minutos. São 1,2 mil oficiais fiscalizando o local.

Mas o maior obstáculo aos imigrantes é a natureza. Acredita-se que no verão, ninguém sobrevive por mais de duas horas no deserto, morrendo de desidratação. Se morrem no deserto e os corpos não são encontrados rapidamente, a atividade animal deteriora os restos e fica impossível identificar a vítima. Também existe na região um canal de apenas 75 metros de largura, mas com forte correnteza, onde um terço dos corpos são encontrados.

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