A moça de Taubaté, interior de São Paulo, faleceu durante uma escala em Manaus, capital do Amazonas na manhã do dia 10 de outubro
Joselina Reis
O delegado do 6º Distrito Policial do bairro Cidade Nova, em Manaus (AM), Luciano Calixto Júnior, disse em entrevista ao AcheiUSA que vai investigar a morte da estudante brasileira Dimitria Rocha Carvalho, de 21 anos. Ela morreu na manhã do dia 10 de outubro durante uma escala, na capital amazonense, do voo fretado pelo North Broward Hospital, em Deerfield Beach, que a levaria até São Paulo.
Ele disse que há dúvidas sobre a morte da brasileira, porque ainda não foi esclarecido se ela faleceu dentro do avião americano ou durante o trajeto para o Hospital Público 28 de Agosto. O delegado afirmou ter protocolado um pedido de investigação junto a Infraero para averiguar as condições do jatinho que levou Dimitria ao Brasil. “O caso é muito complicado. Falta informação e temos que saber se as condições do voo agravaram a saúde dela”, resumiu.
A brasileira Dimitria Rocha Carvalho, de 21 anos, estava internada no hospital em Deerfield Beach desde que sofreu um acidente de trânsito em janeiro deste ano. Seis meses depois, a conta do hospital já ultrapassava $1 milhão e pela última entrevista dada a equipe do jornal AcheiUSA, em junho desse ano, ela deveria permanecer na unidade pelo menos até dezembro. Segundo a família, mesmo sem ter o aval do médico americano que acompanhava seu caso, o hospital insistiu em transferi-la para o Brasil.
Na terça-feira (9), a família recebeu o aval do hospital para a transferência. Segundo a mãe, o próprio North Broward teria alugado o jato que a levou para o Brasil num voo que duraria 12 horas com três escalas. Na segunda parada, em Manaus (AM), Dimitria passou mal e uma ambulância da Infraero tentou socorrê-la, mas a estudante acabou falecendo.
A mãe de Dimitria, Rosangela Rocha, não havia embarcado com a filha, porque ainda teria que resolver assuntos relacionados ao seguro nos Estados Unidos. Ela acusa a administração do hospital de tentar “se livrar” da filha embarcando-a para o Brasil, mesmo sem condições de saúde, para amenizar as perdas financeiras do hospital com os seus cuidados.
Dimitria e o noivo, o também estudante brasileiro, Daniel Domingues, 23 anos, tinham vindo aos Estados Unidos para estudar inglês, quando aconteceu o acidente em janeiro deste ano. A estudante chegou ao North Broward Hospital com apenas 1% de chance de sobreviver. Depois de três meses em coma e outros dois meses na unidade semi-intensiva ela foi transferida para um quarto, e foi surpreendida com o pedido de casamento de Daniel.
A história de superação da brasileira ainda teve mais episódios marcantes. Poucos dias depois de ser transferida para o quarto, ela teria caído da cama e voltado ao coma por mais alguns dias. Na época, a família reclamou dos serviços do hospital e do possível descaso de enfermeiros que teriam deixado a grade de segurança da cama onde ela dormia sem a trava. No entanto, com medo de represálias por parte do hospital, a família não levou as queixas adiante.
A mãe de Dimitria embarcou na quarta-feira (10) para Manaus para liberar o corpo da filha. No aeroporto, ela ligou para a redação do Jornal AcheiUSA para contar sua indignação com as autoridades hospitalares americanas que teriam forçado a transferência. “Minha filha morreu. Ela saiu daqui ontem bem, mas o médico havia falado que o estado dela ainda não era bom. A administração insistiu e ela não aguentou”, disse Rosangela muito emocionada, enquanto era amparada por amigos no aeroporto de Miami.
Hospital nega informações sobre a transferência de Dimitria
A porta-voz do North Broward Hospital, em Deerfield Beach, Lyn Clark, afirmou que a direção não pode oferecer nenhum tipo de informação sobre a transferência de Dimitria para o Brasil porque não tem autorização da família da estudante. “Isso é contra a lei”, disse ela à reportagem do AcheiUSA. Os dois únicos membros da família de Dimitria que estavam nos Estados Unidos eram o noivo, Daniel Domingues, que viajou com ela, e a mãe, Rosangela Rocha, que viajou no dia seguinte para liberar o corpo da filha.
Lyn Clark afirmou ainda que perguntaria ao setor jurídico do hospital, porém nenhuma informação poderia ser liberada.”Posso apenas confirmar o dia que ela foi liberada do hospital, nada mais”, afirmou. Meia hora depois da declaração, a porta-voz comunicou-se novamente com a redação e reafirmou a posição do hospital. “O nosso hospital libera paciente somente quando temos certeza de suas condições de saúde”, afirmou. Quanto ao avião comum que levou Dimitria ao Brasil, a porta-voz disse que não estava autorizada a dar nenhuma informação.
A história de Dimitria e a atitude repentina do hospital em liberá-la para a viagem provocou a indignação de muitos brasileiros. Logo após o anúncio da morte da estudante brasileira, vários leitores postaram seu relato de indignação com o descaso do hospital no website do AcheiUSA.
O pastor Silair de Almeida, da Primeira Igreja Batista (PIB), uma das entidades que ofereceu apoio à família também relatou sua revolta sobre o caso à equipe do AcheiUSA.”Ela foi empurrada para a morte”, desabafou.
Segundo informações de pessoas amigas de Rosangela e Dimitria, voluntários que ajudaram a família durante sua permanência nos Estados Unidos, a família foi pressionada a aceitar a remoção do hospital. O avião, um jatinho particular, não era equipado o suficiente para uma emergência médica.
Ao chegar a Manaus, sua segunda parada, Daniel, seu noivo, pediu para a tripulação do jato um remédio para dor de cabeça. Como eles não tinham ou não podiam oferecer, ele foi aconselhado a ir até o saguão do aeroporto. Quando voltou, a noiva não estava mais no jato, porque uma equipe de emergência local a levou para um hospital público.
As informações sobre o que aconteceu durante os minutos que ela ficou sozinha no avião e o translado até o hospital de Manaus são desencontradas. Alguns amigos dizem que Dimitria teria morrido no caminho, outros que ela teria chegado viva ao hospital, porém não há nenhum documento ou histórico médico para confirmar qual das versões é a correta. O laudo do Instituto Médico Legal (IML) afirmou que ela morreu por embolia pulmonar.
Daniel foi levado para São Paulo no mesmo dia com apoio da família. Já Rosangela Rocha conseguiu a doação de uma passagem de avião de Miami para Manaus. Voluntários da PIB se mobilizaram em Manaus para tentar levar a mãe da estudante e transladar o corpo de Dimitria para Taubaté, onde elas viviam antes do drama que passaram nos Estados Unidos. JR
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