Comunidade

Morre Al Sousa, pioneiro do jornalismo comunitário brasileiro nos Estados Unidos

Jornalista tinha 84 anos e fundou o ‘Brazil News’, em New York, em 1969; amigos prestaram homenagens a Al

Al Sousa com a esposa Lucia Martinusso, o sobrinho Jorge Moreira Nunes e Esterliz Mayer Nunes durante comemoração dos 40 anos de fundação do Brazil News
Al Sousa com a esposa Lucia Martinusso, o sobrinho Jorge Moreira Nunes e Esterliz Mayer Nunes durante comemoração dos 40 anos de fundação do Brazil News. Foto: Ronira Fruhstuck

DA REDAÇÃO – O jornalismo comunitário dos Estados Unidos está com uma lacuna depois do falecimento, no dia 20 de julho em São Paulo (SP), do jornalista Álvaro Raymundo de Sousa Neto, conhecido no meio jornalístico brasileiro nos EUA como Al Sousa. Sousa começou sua carreira jornalística na década de 1950 e trabalhou em jornais cariocas, como “Diário de Notícias”, “O Fluminense” e “Luta Democrática”, até mudar-se para os Estados Unidos em 1968, como correspondente do “Diário de Notícias” em Nova York.

Em 1969, fundou naquela cidade, junto com outros sócios, o “Brazil News”, considerado o primeiro jornal comunitário em português a circular regularmente nos Estados Unidos. O jornal fechou depois de menos de um ano, e Sousa foi trabalhar na Varig, depois que o “Diário de Notícias” também parou de circular no Brasil.

Al Permaneceu afastado do jornalismo até 1977, quando se mudou para Miami e passou a colaborar com jornais e revistas comunitários do sul da Flórida. Assinou por vários anos a coluna “Periscópio”, que apareceu pela última vez aqui nas páginas do AcheiUSA, onde Al ocupava o cargo de Conselheiro Honorário. Sousa também colaborou esporadicamente para alguns jornais brasileiros depois de aposentar-se como Relações Públicas da Varig.

Mauricio Azêdo, ex-presidente da Associação Brasileira de Imprensa, já falecido, entregando troféu a Al Sousa em reconhecimento ao seu pioneirismo nos EUA, no Press Awards. Foto: Linha Aberta/ABI-Inter

Em 2006, ele foi reconhecido pelo Brazilian International Press Awards como um dos pioneiros da mídia comunitária brasileira durante a cerimônia de fundação da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI-Inter). Nesta data, Al Sousa recebeu uma placa comemorativa das mãos do presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Maurício Azêdo, que estava na Flórida para participar da fundação da ABI-Inter. Em 2009, Sousa recebeu homenagem especial do Jornal AcheiUSA em comemoração aos 40 anos do lançamento do Brazil News.

Em 2014, voltou para o Brasil com a esposa, Lucia Martinusso. Natural de Uberlândia (MG), Sousa tinha 84 anos.

Confira, abaixo, os depoimentos de amigos de Al Sousa. Clique aqui para ver o editorial do editor-chefe do AcheiUSA, Jorge Moreira Nunes, sobre seu tio Al Sousa.

Carlos Wesley

Não é necessário falar da importância do Al para o jornalismo comunitário brasileiro… todos nós que vivemos nesta profissão fora do Brasil sabemos disso. Para mim, mais do que isso, fica a imagem de uma pessoa doce, sempre boa-praça e com uma palavra de carinho na ponta da língua. Pena não ter aproveitado mais tempo com ele! Sei que a dor de vocês é imensa, mas sei também que ele deixa um legado maravilhoso para todos nós – em especial, o AcheiUSA, pois ele certamente foi uma das inspirações há mais de 15 anos”, Carlos Wesley, jornalista, Miami (FL)

A Flórida perdeu recentemente, um dos seus mais brilhantes jornalistas de todos os tempos. Tive o privilégio de conviver com Al Sousa por muitos anos aqui na Flórida. Digo privilégio, porque era um homem de uma sabedoria extraordinária, de uma sensibilidade ao público maravilhosa. Um jornalista imparcial com a notícia. Um jornalista capaz de entender todas as necessidades sociais da comunidade brasileira. Sua simplicidade, seu conhecimento intelectual, e sua tendência para ajudar pessoas mais necessitadas, fazia dele um jornalista capaz de identificar todas as necessidades do povo, e lutar por elas. Um homem de vida modesta, ética jornalística fantástica e conhecimento profundo de vários conceitos da vida. Cada vez que eu o encontrava, tinha a oportunidade de prosear um pouco com ele. Eu gostava muito de ouvir suas palavras de encorajamento, no sentido de continuar cuidando da comunidade brasileira na Flórida. Era um profundo respeitador do Ministério que desenvolvemos aqui. Al Sousa se foi, mas deixou um legado do pioneirismo do jornalismo nos EUA. E o mais importante do seu legado, foi o seu sobrinho Jorge, a frente do AcheiUSA. A comunidade sentirá profundamente, ausência dos seus textos, e a interpretação tão lúcida da vida. Que Deus console toda a família enlutada. Que todos os parentes possam se inspirar no legado que ele deixou”, pastor Silair Almeida, Pompano Beach (FL)

Roberto Lima

Sempre tive muito carinho pelo Al Sousa. Guardo imenso respeito pelo pioneiro do jornalismo brasileiro nos EUA, mas não poderia deixar de enaltecer o homem generoso que ele foi. Todas as vezes que nos encontrávamos ele tinha sempre um abraço guardado para mim. O mundo fica um lugar pior sem ele”, Roberto Lima, jornalista, Newark (NJ)

Conheci o Sousa na época da Varig, porque eu frequentava o aeroporto por negócios e lá fazia boas amizades, como a dele.
Ele sempre foi uma pessoa muito educada, galanteador, com uma boa conversa que poderia durar por horas, se tivéssemos tempo.
Quando morava em Miami Beach, ele era cliente assíduo da Via Brasil, na Collins. Sempre estava por lá. Passava para bater um longo papo e contava suas histórias e não deixava de levar seu café brasileiro. Reclamava sempre do preço do café no Brasil, e dizia que “eles teriam que abaixar os preços lá, para vendermos mais aqui, na América”.
Agradeço por eu ter tido o prazer da amizade de Sousa, pois são coisas raras no dia de hoje, pessoas como ele, simples, educado, instruído e de coração amigável.
Que Deus dê a ele o descanso merecido, e a nós, o privilégio da lembrança boa que deixou nos nossos corações”, Joe Menezes, empresário , Miami Beach (FL)

Gaston Rodriguez

Al era uma pessoa extraordinária, muito querido. Para mim, era um ídolo. Ele me ajudou muito no início da minha carreira na aviação, me orientou e me ajudou com toda sua experiência e bondade. Al era muito querido por todos e muito especial para mim”, Gaston Rodriguez, diretor da Azul Linhas Aéreas, Miami (FL).

Atilano Muradas com Al Sousa

Por duas oportunidades, em 2007 e 2009, quando morava na Flórida, tive o privilégio de entrevistar o jornalista Al Sousa. Na primeira, conversamos a respeito do jornal Brazil News, o primeiro jornal brasileiro em solo norte-americano, que foi fundado por ele, com o apoio do jornalista Jorge Milton Moreira Nunes. Na segunda oportunidade, falamos sobre a ABIInter (Associação Brasileira de Imprensa Internacional), entidade recém fundada. Com respostas claras e objetivas, Al Sousa destilou toda a sua sabedoria e, definitivamente, marcou minha carreira jornalística. Mais ainda quando ele elogiou a matéria, o que me alegrou profundamente. Foram momentos inesquecíveis. Um encontro com a história do jornalismo no Brasil e nos EUA. Al Sousa iniciou sua carreira nos anos 1950, aos 17 anos, e nunca mais encerrou as atividades. Passou pelos jornais O Mundo, A Noite, Última Hora, Diário de Notícias, Luta Democrática, O Fluminense, O Liberal, Brazilian Post, Brazilian Paper e AcheiUSA. Trabalhou na Rádio Continental e na Rádio Nacional, no famoso Repórter Esso. Além disso, trabalhou na TV Tupi. Uma carreira de tirar o fôlego e inspirar quem o conheceu de perto.
Vê-lo passar para o outro lado da vida à sombra da história que construiu é constatar, mais uma vez, que vale a pena trabalhar em prol do mundo, mesmo que não se receba dele a justa retribuição. Al Sousa não se preocupava com isso. Com o dom da comunicação que Deus lhe deu, ele ajudou pessoas, comunidades, cidades e trouxe esperança e entusiasmo aos sofridos brasileiros que atravessam o Atlântico para tentar a vida na América. Não me lembro de vê-lo triste ou negativo. Estava sempre nos levantando o ânimo e mostrando os promissores horizontes. Deixou discípulos. Deixou seu sobrinho, Jorge Moreira Nunes, um jornalista tão idealista quanto o tio, que sabe ser útil a todos que estão à sua volta. Legou o pioneirismo. Legou a resiliência, qualidade tão rara em nossos dias.
Confesso que estou triste pela passagem do amigo e referência profissional – já deixei cair lágrimas –, mas feliz porque ele foi um homem alegre e contagiante, que viveu muitas décadas intensamente. Sua vida valeu a pena. Seu exemplo ficou. Sua jornada me inspirou e também a muitos. Até breve, Álvaro Sousa, ou simplesmente “Al”, o jornalista pioneiro na América”, Atilano Muradas, jornalista, Belo Horizonte (MG – Brasil)

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