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Milhares de brasileiros nos EUA vão às urnas neste domingo escolher o próximo presidente do Brasil

Clima político polarizado reduziu as abstenções e número de imigrantes cadastrados para votar bateu recorde histórico

Débora Maia 

Em 2018, a comunidade brasileira nos Estados Unidos garantiu ao então candidato Jair Bolsonaro uma das votações mais expressivas fora do Brasil. Ele superou o oponente Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores, por quase 90% da preferência desse eleitorado. Este ano, e apesar das pesquisas recentes indicarem uma possível derrota de Bolsonaro, o grupo espera repetir o feito de quatro anos atrás. “Votei em Bolsonaro e não me arrependi, vou votar de novo”, diz Roque Costa, 47, morador de Boynton Beach, FL. Segundo ele, as previsões de que o oponente Luís Inácio Lula da Silva pode vencer as eleições deste domingo (2), não condizem com a realidade. “É mentira, fraude, nada disso é verdade! Só você olhar os comícios do Bolsonaro, só tem multidão, enquanto os do Lula tem entre 40, 50 pessoas”, declarou.

O pensamento do catarinense é compartilhado por Inês de Assis, mineira, 39. “A gente sabe que a realidade é bem diferente dessas pesquisas, o ‘data povo’ não mente, e o povo está com Bolsonaro aqui e lá no Brasil”, declarou. 

O levantamento mais recente para as eleições presidenciais de 2022 foi divulgada pelo instituto PoderData na quarta-feira (28), e traz o ex-presidente com 48% das intenções de votos válidos, seguido por Bolsonaro com 38%. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

Na avaliação do professor James Green, que dá aula de História do Brasil na Brown University, com sede em New York, o atual presidente brasileiro tem grande parte da comunidade imigrante nos EUA e em outros países como aliada, mas isso não deve contradizer as pesquisas. “Quem vai decidir as eleições são as pessoas que moram no Brasil e ganham entre zero e dois salários-mínimos, não os que estão no exterior”, disse.

Polarização reduz abstenções na comunidade imigrante

O suporte massivo ao líder da direita pôde ser constatado em junho deste ano quando Bolsonaro arrastou milhares de seguidores pelas ruas de Orlando durante um passeio de moto. Na ocasião, a cidade, que fica na região central da Flórida, inaugurou um vice-Consulado e pela primeira vez terá local exclusivo de votação. O presidente também visitou igrejas evangélicas e foi recebido em churrascarias.

Entretanto, um movimento mais à esquerda também tem se feito notar nos EUA, apesar de menos numeroso. Este ano, a praia de Deerfield Beach, conhecida como reduto de brasileiros no sul da Flórida, foi sobrevoada ao menos três vezes por um avião com frases de oposição ao presidente. Em Orlando, no mesmo dia da motociata, um caminhão-outdoor exibindo fotos e vídeos com críticas a Bolsonaro, foi flagrado transitando nas ruas. Já em New York, manifestantes acompanharam várias idas do mandatário à cidade para fazer protestos contra seu governo.

“Lula vai ganhar com mais votos do que indicam as pesquisas”, acredita uma eleitora ouvida pelo AcheiUSA que se identifica como GS Oliveira. Segundo ela, um grupo considerável de pessoas se prepara para votar no petista este ano, mas “prefere não se expor publicamente por medo de reações violentas”.

Especialistas consideram que o clima político polarizado, dentro e fora do Brasil, reduziu as abstenções e o número de imigrantes registrados para votar no exterior aumentou 39,21% na comparação com 2018; o maior aumento da história. No total, mais de 650 mil indivíduos irão às urnas em diferentes países.

Renato Gonçalves, 50, é um deles. Ele mora nos EUA há 18 anos e pela primeira vez se sente motivado a escolher o próximo presidente do Brasil. Ele afirma que, em 2018, nem cogitava votar. “Nós tivemos a extrema direita subindo ao poder aqui com Trump, e direitos da comunidade LGBTQ [com a qual ele se identifica] sendo atacados”, falou Renato. “Comecei a prestar muita atenção neste e em outros movimentos e resolvi que vou votar em Lula”, declarou.

“Divisão não interessa ao imigrante”

O diretor do departamento de pesquisas da Prefeitura de Boston, Álvaro Lima, disse que falta uma “agenda comum” para a comunidade imigrante nos EUA. De acordo com ele, é preciso unir os brasileiros de todas as ideologias partidárias para garantir conquistas para o grupo. “Esse Fla-Flu não acrescenta para ninguém”, disse ele.

O estudioso, que atua na administração municipal da cidade americana há 18 anos, organizou um documento com reivindicações da comunidade e enviou aos quatro candidatos que pontuam nas pesquisas presidenciais: Bolsonaro, Lula, Ciro Gomes e Simone Tebet. Conforme Álvaro, trata-se de uma carta “baseada nas carências da diáspora brasileira”.

O texto destaca o aumento de mais de 500% no número de brasileiros apreendidos na fronteira nos últimos dois anos; o tratamento dado aos imigrantes deportados para o Brasil; a exploração do trabalhador indocumentado; o preço das transações internacionais para envio de recursos, entre vários outros pontos. “Precisamos usar nosso poder para mudar isso. Somo mais de quatro milhões de pessoas. Isso é o que nos interessa, e interessa às nossas famílias que estão no Brasil”, concluiu Álvaro.

As votações para o primeiro turno presidencial nos EUA acontecem neste domingo, 2 de outubro, das 8 a.m. às 5 p.m. Os eleitores devem comparecer ao local portando qualquer documento de identificação brasileiro, expirado ou não. A única exceção é para certidões de casamento e nascimento que não serão aceitos.

No dia da eleição é vedada a aglomeração de pessoas com vestuário padronizado de propaganda eleitoral, bem como a chamada “boca de urna”. É permitida a manifestação individual e silenciosa da preferência do eleitor ou eleitora.

LOCAIS DE VOTAÇÃO NOS ESTADOS UNIDOS:

Miami: Miami Dade College, Kendall Campus – 11011 SW 104th St, Miami – FL 33176.

Orlando: Valencia College West Campus – Special Events Center – 1800 S Kirkman Rd, Orlando – FL 32811

Massachusetts, New Hampshire, Maine e Vermont: Salemwood School – 529 Salem Street, Malden MA 02148;

Framingham, Hyannis e Stoughton, no estado de Massachusetts: Igreja Saint Tarcisius de Framingham – 562 Waverly Street, Framingham MA 01702.

Califórnia, Nevada, Arizona ou Havaí: Consulado-Geral do Brasil em Los Angeles – 8484 Wilshire Blvd #300, Beverly Hills, CA 90211

Montana, Idaho, Wyoming e Utah: Lumos Language School – 220 East 3900 South, Salt Lake City, UT 84107

Atlanta (GA): Associação Latino Americana – 2750 Buford Highway NE, Atlanta GA, 30324

New York: Cathedral High School – 350 E 56th Street, Midtown, Manhattan

Texas: Norris Conference Centers – 816 Town and Country Blvd Suite 210, Houston, TX 77024

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