Os médicos brasileiros se destacam por sua atuação em diversas partes do mundo e nos Estados Unidos não é diferente. Nas mais distintas áreas da medicina em todo o País, o profissional brasileiro está lá. O oncologista radioterapeuta gaúcho Márcio Fagundes, é um deles.
Fagundes trabalha no Miami Cancer Institute do hospital Baptist Health South Florida e é referência quando o assunto é a protonterapia, um dos tratamentos mais avançados do mundo para o tratamento de câncer.
A história do brasileiro com a medicina vem de família. Seus pais, hoje aposentados, tinham um centro de radioterapia no Brasil depois de se formarem e fazerem residência em radioterapia entre 1972 e 1976 em Boston, Massachusetts. “Nessa época eu tinha entre 10 e 14 anos e frequentei a elementary school e junior high school em Boston. Aos poucos, passei a me interessar por esse área, que reunia uma parte muita recompensadora da medicina que seria a cura do câncer. Assim como uma área que me interessava, que é a utilização de irradiação”.
Márcio Fagundes se formou em medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1988 e veio para os Estados Unidos em 1989 para fazer residência em oncologia radioterápica no Jackson Memorial Hospital em Miami. Em 1993, ele foi para a conceituada Harvard School of Medicine, em seguida para a Tufts University New England Medical Center em Boston. Durante a residência em Harvard em 1994, Fagundes foi o primeiro médico brasileiro a trabalhar com a protonterapia.
O médico voltou ao Brasil onde ficou por dez anos atuando como diretor do Centro de Oncologia Radioterápica do Rio Grande do Sul em Porto Alegre, época em que conheceu a sua esposa Luciana.
Em 2007, ele voltou para os EUA para um centro médico em St. Louis, Missouri. Desde 2011, dedica-se quase exclusivamente ao trabalho com protonterapia, tendo trabalhado no centro de prótons de Oklahoma e Tennessee. Em 2013 se tornou o primeiro brasileiro diretor medico de um centro de prótons em Knoxville, no Tennessee.
O que é protonterapia
A protonterapia utiliza feixes de prótons para atingir massas tumorais e a radiação de prótons danifica o DNA das células cancerígenas. A diferença da radioterapia convencional é que, na protonterapia, os prótons causam menos danos, preservando as áreas ao redor do tumor que não estão doentes.
“A protonterapia é diferente, é um tratamento por partículas de prótons extraídos do hidrogênio que são acelerados a uma velocidade acima da metade da velocidade da luz e levados por uma linha de condução em vácuo guiados por magneto”, afirma o médico.
Ele explica que a grande diferença é que os prótons vão entrar no paciente e parar em uma profundidade controlada com alta precisão. “A protonterapia é uma forma de irradiação que para onde está o tumor, sem atingir órgãos saudáveis situados além do alvo de tratamento, ou seja localizados em partes mais profundas no corpo. Esse tratamento de partículas é a área mais avançada da radioterapia”.
Em abril de 2015, o médico brasileiro foi pioneiro em implementar a técnica do espaçador retal em conjunto com a protonterapia para tratamento do câncer de próstata no mundo.
O espaçador retal é um produto reabsorvível injetado uma única vez entre o reto e a próstata, que cria um espaço entre o reto e a próstata, de aproximadamente um centímetro. “Essa separação permite irradiar a próstata a doses elevadas com doses de irradiação muito reduzidas no reto, minimizando risco de efeitos colaterais”.
Fagundes explica que a protonterapia é utilizada para tratar muitos tipos de tumores, começando por tumores pediátricos, onde os médicos buscam minimizar a irradiação desnecessária de órgãos saudáveis, especialmente em fase de crescimento.
“Hoje em dia a lista é longa dos diferentes tumores tratados com prótons, incluindo os cânceres de próstata e de mama, que são minhas principais áreas de atuação. No câncer de mama, especialmente do lado esquerdo, os prótons podem reduzir a quantidade de irradiação ao coração e pulmões. Similarmente, há muitos indícios de que prótons permitem fazer irradiação em altas doses em níveis curativos no câncer de próstata, sem afetar a região do reto, reduzindo efeitos colaterais”.
Alto custo do tratamento
Os tratamentos descritos acima são de alto custo e, segundo Fagundes, ainda não foram implementados no Brasil. A protonterapia já foi aprovada pela Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, mas ainda está sob análise de viabilidade. O espaçador retal está em fase de aprovação pelo órgão brasileiro. “O principal obstáculo para a expansão da protonterapia é o custo do equipamento, que é muito maior que a radioterapia convencional com raio-x”. Hoje, o tratamento é oferecido em mais de 40 centros médicos nos EUA e em outros países do mundo.
Segundo o médico, ele atende muitos pacientes estrangeiros, entre eles brasileiros, já que muitos seguros de saúde internacionais cobrem o custo do tratamento.
Quem quiser saber mais, acesse o site https://baptisthealth.net/cancer-care/home e assista Marcio Fagundes, M.D.