Não é segredo para ninguém que todo menino brasileiro sonha em se tornar jogador de futebol, enquanto a menina quer ser modelo quando crescer.
Entretanto, muitos poucos conseguem realizar seus sonhos. Portanto, quando adultos, os meninos e as meninas precisam optar por outras profissões.
Nosso entrevistado Marcos Cesar DeOliveira II, filho do cronista esportivo Marcos Cesar e da empresária de comunicação Tania Azevedo, que, infelizmente, já nos deixou, não foge à regra.
Depois de ter sonhado ser um astro dos gramados, Cesinha, como é conhecido, optou por uma carreira correlata no futebol. Ele decidiu se tornar árbitro de futebol e é atualmente o único braso-americano a atuar na MLS (Major League Soccer), a mais importante liga de futebol, ou soccer como é chamado o esporte aqui nos EUA.
Nesse bate papo, ele vai falar um pouco sobre essa carreira que muitos meninos e meninas deveriam considerar no futuro.
Agora, depois do apito inicial, acompanhe a mini entrevista de Cesinha.
Por que motivo você escolheu a carreira de árbitro? Seu sonho não era se tornar jogador de futebol profissional?
Acho que quase todos árbitros no mundo gostariam inicialmente de ser jogador, mas não tiveram sucesso. De uma maneira ou outra, encontraram na arbitragem uma compensação de participar do espetáculo. Comecei como árbitro com apenas 13 anos. Então, após ter jogado futebol pela universidade FIU de Miami, decidi por esta carreira. Percebi na época o interesse da federação de arbitragem dos EUA e decidi por esta carreira. Assim, a opção para me tornar árbitro porfissional foi ficando mais clara e possível do que o de me tornar um atleta do futebol.
Há quanto tempo você está atuando como árbitro? Você atua apenas na MLS ou já participou de outras competições?
Como frisei, comecei com 13 anos. Com 19 anos, já cheguei ao nível de atuar nas ligas profissionais, e aos 24 anos fiz minnha estreia na MLS. Já apitei mais de 100 jogos da Segunda Divisão e agora faltam somente 10 jogos para chegar aos 100 na MLS como árbitro central, com 35 anos de idade.
Quais são teus objetivos para sua carreira? Qual tua idade e até quando você pode continuar apitando?
Objetivo era sempre foi entrar na MLS como árbitro central full time. Agora que já consegui quero ser indicado como árbitro FIFA para a uma Copa do Mundo. Estou com 35 anos e não há idade para parar. Basta ser aprovado no exame físico e manter boa atuação nos jogos. Já estou sentindo que a vida passa muito rápido. Como adoro futebol, quero continuar atá as pernas não aguentarem mais.
É verdade que você deve ser um dos árbitros da Copa América? Em sua opinião, quando você acredita que pode ser eleito como árbitro FIFA?
Acho que estou bem perto de ser indicado como árbitro FIFA. Não sei se será neste ano ou no próximo, mas deve ocorrer em breve. A partir daí, tudo é possível em relação à Copa América, Copa do Mundo e vários outros torneios internacionais.
Você tem algum clube do coração? Caso tenha de apitar alguma partida deste clube, isto afetaria suas decisões?
Quando era criança, por causa da proximidade da casa da minha vó com o estádio do Morumbi, acabei torcendo muito pelo SPFC. Mas hoje, como árbitro, sou bastante neutro. Então, não tenho esses conflitos.
Em termos de remuneração, é possível viver apenas dedicando-se à arbitragem?
Claro! Os EUA é um dos poucos países do mundo em que os árbitros da Primeira Divisão tem contrato full time. Vivo de salário pago pela MLS, o qual pode ultrapssar 100 mil dólares.
Em tua opinião, a vinda do VAR tem ajudado ou prejudicado os árbitros? Quais são as vantagens e as desvantagens?
Gosto muito do VAR. Para mim, a pior coisa do futebol é quando há um gol legítimo que não foi marcado. Agora com o VAR fica bem difícil acontecer isto. Claro que ainda tem erros da arbitragem, mas isto faz parte do futebol, tornando-o um jogo bem especial. Sempre haverá surpresas. O único lado ruim é a paralisação da partida para checar as jogadas. Com mais tempo trabalhando com o VAR, acho que isto melhorará bastante. Poucas pausas e mais futebol é sempre o objetivo do espetáculo.
Como você vê o crescimento de mulheres apitando no futebol masculino? Você já apitou alguma partida do futebol feminino? As duas categorias são muito diferentes?
Acho importante este entrosamento das mulheres nos jogos masculinos. Se elas conseguirem passar no exame físico, precisam ter essa oportunidade. Hoje na MLS há uma mulher entre os 28 árbitros que formam o quadro da arbitragem. Mas já há muitas batendo na porta e a tendência é crescer o número de árbitras. Apitei muitos jogos femininos na Liga Universítária aqui. Nunca na Liga Profissional. Acho bem diferente. É um pouco difícil explicar a diferenças mas é outro estilo de jogo. Precisa entender as táticas diferentes e as reações delas no jogos. Quase igual um jogo de futebol no Brasileirão em comparação com MLS, Libertadores ou Copa do Mundo.
Qual a importância de um bom preparo físico e mental nesta atividade? Quando ocorrem erros, vocês são submetidos a uma reciclagem? Como isto é feito?
Hoje o jogo está muito rapido. Preparo físico é bem importante. E estar melhor fisicamente ajuda no plano mental e o árbitro fica mais calmo o jogo todo. Quando o preparo físico cai, o foco no jogo é prejudicado, com certeza. O VAR hoje ajuda muito os árbitros a minimizar os erros. Mas normalmente ocorrem erros e o VAR também comete erros. Neste caso, ficamos algumas rodadas de fora e preparando-se para voltar aos campos em melhores condições.
Que conselhos você daria a alguém que quiser seguir a carreira de árbitro de futebol? Você recomendaria?
Recomendo muito. Acho uma excelente oportunidade de não só estar ativo no esporte, como também ganhar um dinheiro a mais. E não é só pelo dinheiro. São as experiências de viajar, fazer amizades e aprender a ser uma pessoa melhor. Estamos precisando muito de árbitros em todos os níveis.