Música

Marcelo Bonfá: “Às vezes a mensagem não é o que dizemos, mas o que as pessoas interpretam”

Baterista da Legião Urbana fala ao AcheiUSA sobre a influência cultural da lendária banda e sobre o que os fãs podem esperar dos shows da turnê pelos Estados Unidos

Legião Urbana XXX Anos
Legião Urbana XXX Anos

Por Roy Frenkiel, especial para o AcheiUSA

Houve vez, em tempo recente, esquecido e relembrado como teima o tempo, quando aferventava uma banda de pop-rock brasileiro que não era só banda, era de bandos, e não era pop, mas era pop, porque era Legião. Foi-se, mas nunca se foi. Foi-se, mas foi estrondo. A banda, não a de Chico, mas a Urbana, de Brasília, ou seja, de todo o Brasil, essa banda, era de musicalidade boa e execução excepcional. Tinha em suas letras tanto poesia quanto pragmatismo e uma característica rara no ramo:

Há performances como a de Cássia Eller, que crescem e aumentam até mesmo criadoras de melodias e letras. Há as sutis, musicalmente imaculadas, como a dos gênios da Bossa Nova e da Música Popular Brasileira. No entanto, há apenas algumas canções que reverberam o interno, o âmago do ser urbano, ou de qualquer outro. Havia, no entanto, e ainda há, a Legião Urbana, cuja mensagem era quase toda mímica perfeita dos sentimentos, experiências e pensamentos brasileiros de sua e, ainda, nossa época.

Se os Beatles conseguiram enriquecer um gênero, Legião Urbana lograram enriquecer o ideal, psicológico, sociológico e identificativo do jovem adulto brasileiro. Tarefa difícil em um cenário que ainda sofria o luto de Cazuza, mas que rebentava de novos e velhos talentos. No entanto, com Renato Russo, Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos, alcançava-se grande parte de uma geração que buscava heróis e líderes, mas que não os encontrava. Podemos discutir o significado da Legião Urbana para as nações dos povos brasileiros, mas um destes, talvez indiscutível, é de que foram eles que indicaram de modo enfático e pela primeira vez que os líderes éramos nós e ninguém além. O incabível…

Trinta anos depois, vivemos novas e velhas situações difíceis, nas urbes e nos matos, entre os rudes e os finos, alardeados ao ódio e ao nojo que rodeavam e ainda rodeiam a flor da rua de Carlos Drummond de Andrade. Trinta anos depois e também celebramos o nascimento da Legião Urbana, ungida por Renato Russo, não a banda, mas todos aqueles que lutam pela raça humana, pelo país, pelos sem voz e por si próprios. Uma Legião urbana de jovens deprimidos, agitados, confusos, como os da juventude de Kurt Cobain, viciada em papoulas e outras flores, sem pena de ninguém, triste pelas mesmas notícias que entristeciam John Lennon, furiosa, ansiosa e sonhadora. Sem mais nem mais ou menos, uma legião, reflexiva das cidades pela qual perambulava e perambula: A Legião Urbana que ergue e derruba líderes, ora inconsequente e juvenil, mas sempre forte, sempre com tempo de melhorar, de refazer, de inspirar e reavivar.

É essa a atração esperada para o domingo, dia 21 de agosto, às 8pm (ou 20hrs, se preferirem), no North Beach Bandshell, à 74 com a Collins Ave., uma realização da Brazil in Concert.

Os trinta anos da Legião Urbana vivem em turnê dos sobreviventes do grupo original, originada também do aniversário, em 2015, do álbum “Legião Urbana”, de 1985, com direito a Edição Especial da EMI. O projeto conta com diversos músicos do cenário Urbano atual, como André Frateschi (vocal), Mauro Berman (baixo), Roberto Pollo (teclados) e Lucas Vasconcellos (guitarra). A intenção é viajar a um tempo tão rente, que se cheira e se sente e se acresce a hoje, com músicas inesquecíveis e imortais. Renato Russo não estará presente por miserável detalhe, mas o que importa é que estará presente a Legião e, entre esta, um pequeno servo que vos convida, desde já, a fazer parte do espetáculo. E, desde já, saúda:

“Urbana Legio Omnia Vincit”

Marcelo Bonfá, Dado Villa-Lobos, Renato Rocha e Renato Russo formavam a Legião Urbana nos tempos de maior sucesso da banda

Para saber mais sobre como será a turnê da Legião nos Estados Unidos falamos com o baterista Marcelo Bonfá. Confira na entrevista abaixo.

Depois da turnê no Brasil, como você espera que seja o clima aqui nos Estados Unidos?

Eu espero… sinceramente? Eu espero tudo, eu não espero nada. Espero que acompanhe o excelente clima dos mais de 60 shows que fizemos no Brasil, em lugares que nunca fizemos com o Renato, mas eu não sei o que esperar. Hoje temos um público renovado, não só os fãs da Geração Coca-Cola. Temos novos fãs, pessoas jovens, fãs renovados. Faremos um show de rock, com músicas que acho que são atemporais, então também resgatando o antigo e trazendo para o novo, então eu sinceramente espero que seja muito bacana como foi no Brasil.

Quais são as similaridades ou diferenças destes fãs novos com os fãs do passado?

Tem muita similaridade sim. Tem até uma frase que diz: “Quando o aluno está pronto, aparece o professor”. O mundo, não só o Brasil, passa por situações muito parecidas àquelas que passávamos nos anos 80. Tem a crise atual no Brasil, o impeachment… Muita coisa parecida. As pessoas parecem ter acordado e é o momento para essas músicas, que nunca foram partidárias, mas que sempre falaram de amor, de sentimentos em relação ao que acontecia, em tempos de mudanças e turbulências, como hoje. Hoje sou avô. Meu neto é uma pessoa nova, mas já tem a minha bagagem, a nossa bagagem.

Sir Paul McCartney às vezes acorda e pensa: “Nossa, eu fiz parte dos Beatles”! Você sente a mesma coisa em relação à Legião?

Eu fico muito feliz, muito orgulhoso de estar com eles. Eu comecei a banda com o Renato, dividindo as composições, dividindo todo o aprendizado, o quê é muito especial. E ainda estamos juntos, até o Renato está junto, com suas músicas, nesses shows. Por isso estou muito feliz de estar no projeto. Estava em outro projeto ainda antes desse começar, que é o Música de Alambique, que fala sobre a cachaça, entre outras coisas, com o “Hino da Cachaça” e tal, coisas que são muito da história e vivência do interior, porque eu sou do interior de São Paulo e, de repente, tem um contraste com esse show de rock que faço com a Legião Urbana.

Como anda a Geração Coca-Cola, a seu ver?

Ela vai bem. Está muito bem. Tem filhos, estão estabelecidos, cresceu e se desenvolveu. As pessoas que crescem hoje não são bem da Geração Coca-Cola, são mais da Geração iPhone, mas as gerações se misturam e se entendem. Não tem aquele negócio de que uma geração não entende a outra. Acho que entende sim, cada vez mais.

Qual seria a mensagem da Legião Urbana a essa Geração iPhone?

As pessoas interpretam as mensagens de forma diferente. E a minha mensagem seria diferente. A minha mensagem é diferente. Acho que o mais importante dessa geração é justamente a sincronicidade (nota: Sincronicidade de Carl Gustav Jung, não sincronização – Sincronicidade: relação não causal de acontecimentos, mas de significado), a codificação das mensagens. O mundo mudou, é mais complicado. As pessoas vivem com os pés um pouco fora do chão, um pouco ligados às nuvens, estão perdidos, têm menos certezas. Então às vezes nem é o que dizemos, mas sim o que as pessoas interpretam.

Nota: Para saber mais sobre a cachaça artesanal divulgada e ligada ao projeto de Marcelo Bonfá, Música de Alambique, e para conhecer mais sobre seu alambique e produto de alta gastronomia e produção limitada, visite o site http://www.cachacaperfeicao.com.br/

Para informações sobre preço e horário do show, acesse brazilinconcert.com  

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