A arquiteta que virou artista plástica
A interatividade com as artes plásticas continuou fazendo parte da vida de Lucila. Tanto que aos 16 anos de idade ela começou freqüentar o atelier de dois artistas – a italiana Giuliana Pedrazza e o argentino Carlos Arias -, a fim de aprender as técnicas de pintura.
Para aprimorar sua técnica, ela começou a fazer um curso de Artes Plásticas na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). No entanto, ela não concluiu o curso e transferiu-se para a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU). Antes, havia estudado letras na Universidade de São Paulo (USP). “Aí, resolvi terminar a Faculdade de Arquitetura para ter pelo menos um diploma universitário”, disse Lucila, sorrindo.
“Régua e compasso” – A FAU, por sinal, forneceu ferramentas importantes para o desenvolvimento de seu trabalho. Parafraseando o ministro Gilberto Gil, a FAU deu para Lucila “régua e compasso”. Através do curso, ela entrou em contato com várias tendências e opções técnicas e artísticas, como desenho industrial, gráfico e escultura. Este cabedal de informações foi sendo processado na cabeça da artista e serviu de subsídio para sua criação artística.
Admiradora da arte contemporânea do final do século 19 e início do século 20 e da maioria dos mestres italianos, Lucila também se encanta com o trabalho de Rothko, que faz uma pintura abstrata moderna monocromática.
O abstrato, aliás, é a corrente artística com que Lucila mais se identificou. Tendo Kandinsky como referência, vários outros artistas seguiram seus passos, compondo quadros com formas irregulares e linhas, em harmonia com todas as nuances de cores. Pintores como Malevitch Kupka, Albers e Matta e também Lucila Filizola.
Essa, pelo menos, foi a análise de Ivo Zanini, famoso crítico brasileiro de Artes Plásticas. Segundo Ivo, “ela usa sua habilidade com linhas retas, retângulos e ângulos de maneira bem diferente, não sujeitando a tela aos rigores da linha, tornado a pintura facilmente compreensível. Porque seu cromatismo e o formato evolui com disciplina e firmeza”.
Liana Rivas, curadora da mostra que reuniu cinco pintoras brasileiras que estão expondo na galeria instalada no sexto andar da Main Library de Broward em Fort Lauderdale, também enfatiza a pintura abstrata de Lucila Filizola, “que sabe combinar perfeitamente materiais como areia e pigmentos para captar a essência do abstrato”.
Casamento com americano – Entre 1985 e 1997, Lucila Filizola participou de diversas exposições – todas na capital paulista e no interior do estado de São Paulo. Em 1989, ganhou a Medalha de Ouro por seu trabalho em papel na Arjomari do Brasil Fine Art Prize.
Entre exposições e pinturas, Lucila fez uma viagem de turismo às Bahamas. Além de se encantar com a beleza do lugar, conheceu Jeremy Chancey, um americano da Flórida que também estava a passeio. A paixão fulminante levou os dois a se casar. Passaram a morar no Brasil, mais exatamente na cidade de Embu das Artes, na Grande São Paulo, local onde se concentram vários artistas e que se tornou sinônimo de arte para os paulistanos.
Após cinco anos morando no Brasil, o casal decidiu mudar-se para a Flórida, por questões profissionais. Desde 1998, eles estão vivendo em Fort Lauderdale (com a filha Julia, de quatro anos de idade). Assim, Lucila passou a integrar o time de artistas do sul da Flórida, realizando exposições em São Paulo e em várias cidades da região: West Palm Beach, Miami e Fort Lauderdale.
Antonio Tozzi
Inauguração de galeria – No último mês de setembro, ela expôs seus trabalhos na Art Fifteen Gallery, em Wilton Manors, na região de Fort Lauderdale. A mostra reuniu três artistas latino-americanos, com trabalhos sugestivos. Além dos quadros abstratos de Lucila Filizola, pintados em acrílico sobre tela, também foram apresentados o realismo fantástico do cubano Leonel Matheu e os compostos em vidros da venezuelana Linda Behar, que explora os aspectos místicos dos desejos e dos sentimentos humanos.
Lucila ficou feliz por ter sido uma das três artistas escolhidas para inaugurar a Art Fifteen Gallery, em Wilton Manors. Sem dúvida, foi uma demonstração de prestígio para a jovem artista.
Agora, sua próxima exposição será em São Paulo. A data ainda não está marcada, mas ela já está preparando outros quadros para esta amostra. “Estou sempre produzindo. Procuro manter minha disciplina, até porque trabalho num escritório de consultoria durante o horário comercial. À noite, me dedico a pintar, sem esquecer, é claro, de cuidar da minha filha, do meu marido e da casa”, sorri Lucila.
Os quadros de Lucila, cujos preços variam entre US$ 1.000 e US$ 4.000, sempre obedecem a uma organização espacial, às vezes formando figuras que se complementam. Estas obras agradam a uma determinada faixa de público, que se identifica com o abstrato geométrico. Algo bem diferente, por exemplo, das pinturas de Romero Britto, colorido e festivo. “Gosto muito dos quadros de Romero e também do trabalho beneficente feito por ele em sua galeria”, afirmou a pintora.
Os fãs de arte moderna que quiserem conhecer um pouco da obra de Lucila Filizola podem conferir a coletiva com as cinco pintoras brasileiras na Main Library (100 South Andrews Avenue, em Fort Lauderdale), que vai até o dia 16 de outubro.