Em meio a mais de oito meses de pandemia e um novo decreto para ficar em casa, o condado de Los Angeles anunciou que deve receber pelo menos 84 mil doses de vacina contra a Covid na semana que vem. O plano é imunizar primeiramente os profissionais de saúde na linha de frente da pandemia.
Em reunião do Conselho de Supervisores na terça-feira, a Diretora de Saúde Pública, Barbara Ferrer, disse que começarão a ser vacinados neste mês os profissionais de saúde em hospitais de terapia intensiva, além dos que trabalham em estabelecimentos de cuidados de longo prazo, incluindo casas de repouso. Para tanto, o governo federal estabeleceu contratos com CVS e Walgreens.
A expectativa é de que o condado receba do governo federal todas as doses necessárias para vacinar 100% desse público até o final de janeiro. Em seguida, começará a vacinação de trabalhadores essenciais, incluindo professores, cuidadores de crianças, policiais e bombeiros. O Departamento de Saúde do condado aguarda ainda as diretrizes do CDC para determinar exatamente quem seria considerado trabalhador essencial – se funcionários de supermercados estariam incluídos, por exemplo.
Seguindo essa ordem de prioridades, cidadãos saudáveis que não trabalham nesses setores só devem ter acesso à vacina lá pelo final de maio ou junho.
Mas a pandemia galopante conta ainda com a desconfiança das pessoas quanto aos possíveis efeitos colaterais da vacina e até mesmo da sua eficácia. Nesse sentido, a disseminação de teorias conspiratórias anti-vacina nas redes sociais só tem criado mais desinformação e medo.
Latinos são mais atingidos
De acordo com uma pesquisa realizada em outubro pelo Public Policy Institute of California, cerca de metade dos latinos disseram que provavelmente ou definitivamente tomariam a vacina. Dentre negros, a resistência é maior: só 30% concordaram em tomar a vacina.
Mas, de acordo com especialistas, a tendência é de que essa hesitação diminua à medida em que mais pessoas forem sendo vacinadas sem apresentar maiores reações adversas. Segundo estudos, é preciso que cerca de 70% da população seja imunizada para que a vida possa retornar à normalidade da ausência de máscaras e banhos de álcool gel.
A medida é especialmente crucial para latinos porque, segundo os dados mais recentes, a taxa de infecção em residentes hispânicos agora é mais que o dobro da de brancos no condado de Los Angeles. Latinos correspondem a 40% da população da Califórnia, mas representam 58% dos casos de Covid e 48% das mortes por vírus. Não por acaso, grande parte dessa parcela – da qual fazem parte os brasileiros – é de trabalhadores essenciais, que estão mais expostos ao coronavírus em plantações, frigoríficos, canteiros de obras e comércio.
UTIs lotadas no Vale do Silício
Do Vale do Silício a Fresno, as UTIs começaram a atingir sua capacidade máxima na terça-feira, enquanto o Estado continua a bater novos recordes de casos de coronavírus. As autoridades temem que a situação se agrave ainda mais nos próximos dias.
A situação em outras partes da Califórnia está um pouco melhor, mas ainda alarmante. A capacidade não utilizada está em cerca de 10% no sul (Los Angeles inclusa), 24% na região metropolitana de San Francisco e 19% na região de Sacramento, e criticamente inferior a 6% no Vale Central.
Já são mais de 20 mil mortes por Covid no Estado desde o início da pandemia, sendo 8 mil no condado de Los Angeles. De acordo com levantamento, morreram cerca de 135 californianos por dia na última semana – um número que não era visto desde agosto. Além disso, quase 25 mil pessoas testaram positivo para o vírus diariamente, um quadro mais de duas vezes pior do que o pico observado no verão.
Pelo menos três condados no Vale de San Joaquim estão com UTIs lotadas, tornando o centro agrícola do Estado a primeira área na Califórnia a esgotar sua capacidade de cuidados intensivos.
Aplicativo informa contato com infectado
A partir desta semana, residentes na Califórnia poderão receber notificações em seus celulares se forem expostos a alguém que posteriormente testou positivo para o novo coronavírus. O aplicativo chamado CA Notify foi criado com base em uma tecnologia de rastreamento por bluetooth, desenvolvida por Apple e Google, para determinar quando dois aparelhos estiveram próximos um do outro por mais de 15 minutos.
Basicamente, quando um usuário do aplicativo fizer um exame laboratorial e testar positivo para Covid-19, ele receberá uma notificação de texto do Departamento de Saúde Pública da Califórnia com um código para inserir no aplicativo.
Aqueles cujos celulares estiveram próximos do telefone dessa pessoa infectada nas duas semanas anteriores receberão avisos de exposição. A ideia é identificar os indivíduos expostos precocemente, permitindo que eles entrem em quarentena imediatamente. O programa foi testado com sucesso na Universidade de San Diego, com 250 mil alunos, funcionários e professores.
O aplicativo também recebeu aprovação de entidades defensoras da privacidade, como a American Civil Liberties Union. Isso porque os dados dos usuários permanecem anônimos. Os dispositivos móveis próximos apenas trocam sequências de números geradas aleatoriamente – chaves que mudam com frequência para evitar o rastreamento de um dispositivo ao longo do tempo. Os dados são armazenados no dispositivo do usuário por apenas 14 dias. Depois disso, são excluídos automaticamente.
“Quanto mais pessoas participarem, mais eficaz este programa pode ser”, disse o governador Gavin Newsom em entrevista coletiva na segunda-feira. “É 100% privado, 100% seguro, e 100% voluntário. Você escolhe se quer participar ou não”, assegurou.
Para fazer parte, quem tem Android, precisa fazer o download do aplicativo na Google Play Store e ligar o bluetooth do seu aparelho. Usuários de iPhone só têm que habilitar as notificações. Basta abrir “Configurações”, rolando para baixo até “Notificações de exposição”, selecionando “Ligar” e definindo Califórnia como o local.
A Califórnia já investiu mais de 2,3 milhões de dólares em esforços de rastreamento de contatos. De acordo com o Departamento de Saúde Pública do Estado, cerca de 10.600 funcionários municipais e estaduais trabalham rastreando a doença por meio do programa California Connected. Eles telefonam para pessoas que testaram positivo para dar a notícia e ligam também para os contatos informados por elas. São conversas difíceis, em que um lado argumenta que não pode parar de trabalhar porque não teria como se sustentar. Outros afirmam que o vírus não é real.
Recentemente, as autoridades de saúde lançaram também um dispositivo que permite que as pessoas com teste positivo alertem seus contatos anonimamente por meio de seus telefones celulares, clicando em um link na notificação eletrônica que recebem.