Trinta anos depois de ter feito o caminho preferido dos valadarenses, ou seja, sair da cidade mineira e vir para os Estados Unidos, Urbano Santos está fazendo o caminho de volta. Na bagagem, garante estar levando toda sua experiência de ter sido um cidadão bem-sucedido, tanto brasileiro como americano, e sobretudo ter aprendido a ser líder. Agora, decidiu Urbano, é o momento de levar para Governador Valadares toda sua experiência e, mais do que isto, o modo americano de fazer política.
Nascido em Itambacuri (MG), Urbano viveu dez anos em Governador Valadares (1979-89) e mudou-se para Massachusetts em 1989, cheio de vontade de vencer. E venceu! Após ter ralado em subempregos como a maioria dos recém-chegados, ele abriu uma loja própria em 1992 que vendia eletrônicos e móveis.
Como não tinha capital para abrir a loja na rua, alugou uma sala no segundo andar de um prédio em Framingham. Certo dia, o então prefeito da cidade, John Stefanini, foi para uma reunião com algumas pessoas em uma sala bem em frente à sua loja. Mesmo falando um “inglês de Tarzan”, eles bateram um papo. e Stefanini sugeriu que ele criasse uma associação para ajudar a comunidade brasileira. Assim nasceu a Bramas (Brazilian American Association).
“Aquilo foi um chamado”, garante Urbano. A partir daí, começou a fazer cursos de liderança, frequentar reuniões políticas e se destacou dentro da comunidade. “Em alguns eventos chegamos a reunir mais de 15 mil pessoas”, exulta.
Com sua condição como líder comunitário consolidada, Urbano protagonizou uma ação ousada em 1996, contando com apoio de Stefanini, que também ocupou o cargo de deputado federal. “Entrei pelo México com minha esposa, e fui o primeiro brasileiro a se entregar em um escritório do Departamento de Imigração. Tanto Stefanini como um padre, meu advogado e um representante da Panasonic depuseram ao meu favor na Corte de Imigração. Assim, obtive meu green card”, conta o empresário brasileiro.
Líder comunitário é sua vocação
E não é o que tal “chamado” se fez presente também na Flórida. Muitos conterrâneos o procuraram porque supostamente o então sheriff de Broward, Al Lamberti, ordenara aos policiais do condado que encaminhasse à imigração os imigrantes que estivessem fora do status legal no país. Assim surgiu o Centro Comunitário Brasileiro (CCB), que conta com um banco de dados de mais de dez mil nomes cadastrados.
O desejo agora é se tornar prefeito de Governador Valadares nas eleições municipais deste ano e, embora filiado ao Partido Novo, Urbano disputará o pleito pelo Patriotas – o Novo apresentará candidatos apenas em capitais e grandes cidades. Seu projeto consiste em formar os chamados meetings town realizados aqui, nos quais representantes serão eleitos para determinar as prioridades administrativas. Sua chapa já conta com prefeito e 21 vereadores (inclusive superando a cota feminina), e todos se comprometeram a trabalhar somente com uma remuneração de salário mínimo e doando para a cidade o restante que deveriam receber. E não recorrerão ao fundo partidário para fazer campanhas políticas.
Dentro desse sistema, os 300 membros voluntários representarão mil habitantes cada um. “São eles que determinarão as prioridades administrativas, seguindo o modelo dos meetings town praticados aqui nos Estados Unidos”, promete o candidato. Faz sentido. Afinal, Governador Valadares é a cidade brasileira mais americana do país.