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Lei aprovada por DeSantis causa medo entre indocumentados, mas especialistas acreditam que não há razão para pânico 

Apontada como uma lei de viés político – já que DeSantis pretende ser candidato à presidência dos EUA –, na prática advogada diz que “o governador tem poderes
limitados”

Muitos imigrantes indocumentados da Flórida estão apavorados depois da aprovação da Lei 1718, que já foi assinada pelo governador Ron DeSantis e está prevista para entrar em vigor no dia 1º de julho. Famílias inteiras, temendo serem deportadas, estão de malas prontas para sair do Estado e buscar áreas consideradas santuários para imigrantes, como New York, New Jersey e Chicago. De acordo com o Migration Police Institute, a Flórida tem hoje 772 mil imigrantes indocumentados.

“Lá em casa está todo mundo nervoso, com medo, sem saber o que fazer. Viemos com visto, que está expirado, mas todos nós trabalhamos: eu, meu marido, meus dois filhos, e ninguém tem documento. Será que teremos que mudar daqui? Meu filho já nem quer dirigir mais por medo de ser parado”, afirma a brasileira Maria Reis (nome trocado a pedido da entrevistada), que está nos Estados Unidos desde 2017 e trabalha com limpeza de casas e mora em Pompano Beach.  

Esta lei pode afetar especialmente trabalhadores da agricultura, construção, jardinagem, hotéis e restaurantes. E se houver debandada de trabalhadores para outros estados, a tendência é o custo da mão de obra subir. “Tenho uma empresa de construção e vejo as pessoas apreensivas. O que vai acontecer, se muitos trabalhadores se mudarem da Flórida, é que a mão de obra vai ficar mais cara e o custo vai aumentar ainda mais”, afirma um brasileiro que vive em Orlando e preferiu não se identificar. 

“Não há motivo para pânico”

Apesar de as medidas parecerem radicais, especialistas alertam que o viés da lei é mais político – já que DeSantis pretende ser candidato à presidência dos EUA – e que as chances de serem aplicadas na prática são pequenas. “Não há motivo para pânico”, afirma a advogada de imigração Renata Castro, do escritório Castro Legal Group. “DeSantis quer palanque para sua campanha e, ciente de que a Flórida é um estado conservador, criou esta lei para agradar esses eleitores. Mas a questão é que as leis imigratórias são regidas pelo governo federal e não pelos estados”.

A advogada pontua o que está escrito na lei e afirma que “a maioria das medidas já são passíveis de punição, como usar o E-Verify em empresas com mais de 25 funcionários”. E questiona: “Como ele vai impedir que pilotos de avião carreguem imigrantes indocumentados, já que, de acordo com a lei, mais de cinco indocumentados não podem estar no mesmo meio de transporte?”.

Outro ponto da lei que está causando apreensão por parte dos indocumentados é a os hospitais perguntarem o status imigratórios de imigrantes. “Existe uma lei federal muito séria denominada HIPAA, que protege o sigilo de informações de pacientes”, afirma Renata. 

A advogada adverte que, a situação vai se complicar caso DeSantis vire presidente. “Como governador, seu poder é limitado, mas como presidente, ele pode fazer muitos estragos, pode sim tornar a vida dos indocumentados bem mais difícil”.

O que diz a lei

– Proibir que governos locais emitam carteiras de identificação para pessoas que não tenham residência ou cidadania americana;

– Exigir que hospitais que aceitam Medicaid e Medicare que perguntem sobre o status imigratório dos pacientes;

– Banir imigrantes indocumentados, que concluíram o curso de Direito, de serem admitidos pelo Florida bar;

– Penalizar quem for pego transportando indocumentados. Se o motorista for pego com mais de cinco indocumentados no carro, ele poderá ser preso. Se ele tiver um indocumentado no carro e ele for menor de idade, também será penalizado.

– Expandir o uso do E-Verify, para checar o status imigratório de funcionários;

– Suspender a licença de funcionamento de empresas que empregarem indocumentados, além de aplicar multa de $10 mil.

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