A primeira vez que fui para Miami em 1988, o local das compras onde todos brasileiros batiam ponto era downtown, em lojas com cara de Paraguai – e muitas vezes éramos enrolados a “la Paraguai” (nota do autor: sem ofensas ao Paraguai, mas antigamente era assim…). Os vendedores sempre tentavam empurrar porcarias de marcas inferiores com conversinha mole – tanto que quando percebiam que iam perder a venda, abaixavam os preços até convencer o cliente a comprar. E se incialmente custava 500 dólares e no fim saia 100 dólares certamente era alguma tranqueira de péssima qualidade. Ou pior, um amigo pediu para comprarmos um motor de máquina fotográfica, e nos venderam um usado mas fechado na caixa como se fosse novo.
O tempo passou, e o paraíso das compras dos brasileiros em Miami se mudou para as grandes lojas de shopping centers, ou as redes de supermercados estilo Publix, Walmart, Target, etc. Nessas lojas os descontos que oferecem são de verdade, às vezes inacreditavelmente baixos – diferentemente das “promoções” que fazem aqui no Brasil, tipo “descontos de 50% do dobro do preço original!”. Para eles é melhor liquidar o resto das mercadorias do que bancar o custo operacional de estocagem de poucas peças, além de abrir espaço para mercadorias novas que podem ser vendidas inicialmente a preços mais altos.
Em compensação, nos EUA não há um Código do Consumidor forte como o nosso, o sistema de trocas nessas lojas funciona bem se for nessas grandes, trocam muitas vezes até produtos fora da embalagem. Para eles é melhor manter seus clientes satisfeitos do que ganhar uns poucos trocados de lucro.
Contudo, se comprar algo em quiosques de shopping ou lojas pequenas de rua, esqueça a possibilidade de troca. Há uns meses a Bianca e minha sobrinha Thais estavam andando na Lincoln Road em Miami Beach, e passaram em frente a um salão de estética onde uma das vendedoras estava do lado de fora convidando os turistas a entrar. Ela percebeu que as meninas eram brasileiras como ela e começou a conversar em português. Depois de muito blábláblá ofereceu cartões que poderiam valer de 20 a 50% de desconto nos produtos da loja, despendendo da “sorte” ao abrir o envelope. Apesar de eu já ter dito montes de vezes para a Bianca nunca parar para dar atenção a este tipo de coisa, elas pararam… aí a vendedora as convenceu a entrar e testar uma chapinha ou sei-lá-o-quê que era super maravilhosa, produzida pela NASA com materiais de Krypton e desenhada pelo Leonardo da Vinci (é, um papo furado dusca). Como a Thais havia tirado 50% no cartão de desconto e não queria comprar nada, ela deu para a Bianca que pagou a bagatela de 130 dólares por aquela maravilha tecnológica.
Quando ela voltou ao apartamento e me mostrou, eu fervi e na hora peguei meu celular para procurar se havia aquele produto na Amazon. Tinha, por 60 dólares… voltei à loja com ela e pedi para falar com o gerente, expliquei que ela havia comprado sem minha autorização e queria devolver. Ele me mostrou um bilhete porcamente colado no caixa dizendo que não devolvem o dinheiro, só poderiam fazer troca após preenchimento de um formulário e a autorização da central. Eu comecei a exalar cheiro de enxofre e raios saíram dos meus olhos, mas respirei fundo e avisei que iria arrumar encrenca em um monte de lugares online, além de espalhar que a loja era uma arapuca para brasileiros. Ele deu de ombros, e disse para eu fazer o que achasse melhor.
Peguei a droga do formulário assim mesmo e fui embora. À noite mandei um e-mail educado, explicando a situação numa boa na esperança de que me devolvessem o dinheiro. Depois de alguns dias recebi a resposta, o mesmo lero-lero que eu só poderia trocar por alguma joça da loja e que a política da loja era a de não devolver dinheiro.
Aí liguei o modo troglodita-
mal-educado para responder, listei todos os locais onde faria a reclamação, Facebook, Twitter (do meu irmão Marcello que tem milhares de seguidores, já que eu nem tenho Twitter), jornais da Flórida e Brasil – e disse que toda essa “propaganda” só custaria 130 dólares!
No dia seguinte me responderam dizendo que abririam uma exceção e me enviariam um cheque assim que recebessem o produto de volta pelo correio. Eu gentilmente disse para enrolarem o cheque e que o depositassem em outro lugar, que minha filha pagou em dinheiro na Lincoln e eu queria de volta em dinheiro lá mesmo. Mesmo sendo por e-mail senti a pessoa bufando do outro lado – mas concordaram.
Fui e falei infelizmente com outra gerente (que pena que não era o mesmo de antes…) que me devolveu o dinheiro. Aliás, teve que me dar 25 centavos a mais já que não tinha troco!
Pelo menos serviu de lição para a Bianca, que agora sai correndo quando oferecem algo na rua.