Uma semana depois da passagem do furacão Irma a Flórida ainda está às voltas com problemas. Em todo estado, a destruição deixou marcas. Árvores caídas, muros derrubados, casas alagadas, propriedades desabadas, enfim, uma visão frustrante para quem está acostumado a viver e/ou visitar o Sunshine State. Equipes de recuperação trabalham para limpar as áreas mais afetadas – sobretudo na região de Florida Keys -, enquanto empresas contratadas removem os entulhos deixados pelo furacão Irma, que colocou em polvorosa todo estado da Flórida, e atingiu também estados vizinhos como Geórgia e Alabama.
Entretanto, apesar do pesadelo, a Flórida pode considerar-se com sorte. Foram registradas apenas sete mortes, enquanto dezenas de pessoas pereceram nas ilhas caribenhas varridas pela força dos ventos de um furacão categoria 5, que chegou a atingir 185 milhas por hora, ou seja, quase 300 quilômetros por hora. O cenário nestas ilhas é desolador, e o trabalho de reconstrução será intenso – e caro!
Também a Flórida terá de arcar com uma verba substancial para recuperar sua pujança. Especialistas preveem que o custo para recuperação dos prejuízos causados pelos furacões Harvey – que inundou Houston, no Texas – e Irma será de US$ 290 bilhões, valor que superará qualquer gasto despendido pelos EUA para recuperação de desastres naturais. Esses são os fatos. Números frios, sob os quais os burocratas se debruçarão em busca de soluções a fim de diminuir as perdas e, se possível, reforçar alguns locais contra a fúria dos ventos e das chuvas trazidos pela força da natureza. Porém, há outros fatores mais pungentes que devem ser exaltados. Antes, durante e depois da passagem do furacão Irma, foi reconfortante ver o esforço em equipe empreendido por autoridades, empresas, entidades não governamentais, mídia e moradores no sentido de minimizar os problemas e as inconveniências pelas quais passaram algumas pessoas, vítimas de alagamentos – onde perderam seus bens – e mesmo de casas arrastadas pela forte ventania, sobretudo as chamadas mobile homes, residências com pouca estrutura que abrigam residentes com menor poder aquisitivo.
Desde o início, o governador da Flórida Rick Scott assumiu a liderança pela proteção aos floridianos, orientando-os a comprarem víveres, procurarem shelters (abrigos) e colocarem proteção em suas casas. Aqueles que receberam ordens para evacuação foram alertados para saírem de suas residências antes que fosse tarde demais. Em Houston, muitas casas ficaram submersas e as pessoas morreram afogadas ou eletrocutadas por entrarem em contato com fios desencapados que estavam debaixo da água. O exemplo de Scott foi replicado por todos prefeitos, que abriram escolas e ginásios esportivos para receberem os flagelados. Muita gente optou por sair da Flórida e buscar refúgio em outro estado – como foi meu caso, que fui para Alabama com a família. A preocupação das autoridades era que não faltasse combustível, porque o desespero tomou conta das pessoas. Muitos abasteciam os tanques dos carros e enchiam vários galões de gasolina como medida de segurança ou então para alimentar geradores que garantissem o funcionamento de energia.
Apesar de todo esforço da Florida Power & Light (FPL), a energia caiu depois da passagem do furacão Irma, deixando as pessoas morrendo de calor no verão floridiano. Pouco a pouco, no entanto, a energia foi sendo restabelecida e a vida retornando à sua normalidade. Se faltou energia, solidariedade continua sobrando. Artistas, autoridades, policiais, entidades esportivas continuaram a pedir à população ajuda aos mais necessitados e vários locais se transformaram em postos de coleta e distribuição de comida e água – bem precioso nestes dias!
Empresas contribuíram de várias maneiras. Os bancos, por exemplo, estão perdoando contas que ficaram negativas, isentando-as de cobrança de taxas, o governo da Flórida aboliu a cobrança de pedágio nas estradas, enquanto entidades distribuíam gratuitamente galões de água. A nota triste foi a presença de saqueadores que, aproveitando-se deste momento fatídico, começaram entrar nas casas semidestruídas para roubar equipamentos, joias e dinheiro. Muitos foram presos.
Enfim, o capitalismo que sempre foi apontado como selvagem deu aula de civismo em um período turbulento. Esta é a lição que fica para os políticos brasileiros que somente pensam em se locupletar, mesmo diante das tragédias. Já o povo brasileiro, há que se reconhecer, sempre deu mostras de solidariedade e apoio ao próximo.